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Atingidos de Bento Rodrigues enfrentam desafios na adaptação em novo distrito
Apesar da conquista do imóvel, é no antigo Bento que eles ainda se sentem 'em casa'

O motorista Cristiano Sales, de 41 anos, e os pais perderam tudo em 5 de novembro de 2015, quando a lama de rejeitos da barragem do Fundão, da Samarco, devastou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas. Há quatro meses, eles finalmente receberam uma casa para chamar de sua, no novo vilarejo que está sendo construído a 9 km do antigo. Um imóvel amplo e moderno, que representa o fim de uma espera sofrida, após oito anos vivendo de aluguel pago pela mineradora na cidade. Mas ainda é nas ruínas do antigo Bento que Cristiano e amigos am boa parte dos fins de semana e se sentem verdadeiramente em casa. “A minha raiz está lá. Viver 35 anos em um lugar e ser retirado como a gente foi deixa um sentimento que não acaba nunca”, desabafa.
Bento Rodrigues era um distrito pacato de cerca de 600 habitantes, a 35 km do centro de Mariana. Neste 5 de novembro, será a primeira vez que parte dos atingidos vai ar a data da tragédia na casa nova. No reassentamento, estão previstos 248 imóveis, dos quais 168 estão finalizados, e, desses, 53 foram entregues. Os outros 80 ainda estão em fase de projeto ou obra, segundo a Fundação Renova – entidade que istra a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco.
Entre os poucos moradores que vivem no novo vilarejo, a reportagem do Super encontrou sentimentos de alívio pela casa nova, esperança de retomar a vida em comunidade, angústias por perceber que o bem material nunca vai substituir a vida e as memórias do antigo Bento, revolta com a demora na conclusão das obras e com os pequenos reparos feitos nos imóveis – que se transformam em “grandes” problemas após tanto sofrimento –, entre outras reações.
O motorista Cristiano Sales acredita que vai demorar muito para que a comunidade possa reencontrar sua identidade. Na casa onde ele vivia com os pais, no antigo Bento, havia um quintal grande com horta e criação de animais. Embora os imóveis novos possam ter até 20 m² a mais do que as moradias antigas como forma de compensação pela tragédia, as áreas verdes com as quais eles conviviam foram substituídas pelo ambiente urbano. “Incluímos uma horta para o meu pai no projeto, mas o espaço que deixaram é de terra tão compactada que não tem como abrir para plantar”, exemplifica Cristiano.
Para Stephanne Biondo, coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), é difícil que a comunidade de Bento Rodrigues consiga se reerguer no novo espaço. “O modo de viver deles era mais rural. A grande maioria trabalhava e ganhava a vida plantando, e isso foi retirado deles também”, analisa Stephanne.
Comunidade já planeja Natal no novo vilarejo
A dona de casa Luciene Maria da Silveira Alves, de 48 anos, foi a primeira moradora a receber as chaves de casa no novo distrito de Bento Rodrigues, em abril deste ano. Ela reconhece que a nova moradia não substitui a vida que os moradores tinham, mas ela tem um olhar otimista para o futuro. “A comunidade está voltando, a gente já está planejando o fim de ano, vamos colocar uma árvore de Natal na praça. Agora eu já estou me sentindo em casa”, celebra ela, que convive diariamente com o trauma da tragédia.
Luciene lembra o desespero que sentiu quando achou que a filha, na época com 13 anos, tinha sido levada pela lama, em 5 de novembro de 2015. A menina ficou desaparecida durante toda a tarde e só à noite chegou a notícia de que ela havia conseguido fugir pela mata. “Era 22h quando a minha filha me abraçou, chorando muito, com a roupa toda rasgada e suja de lama”, conta.
A Fundação Renova
A Fundação Renova, responsável pela reparação de danos, afirma que as famílias e comunidades receberam apoio para manter seus laços afetivos e estabelecer e organizar sua vida social, econômica e cultural no novo local. “A Fundação Renova tem a escuta, o diálogo e a participação social como práticas norteadoras de suas ações junto às comunidades atingidas”, acrescenta.