A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja do Rio Grande do Sul deixou o mercado brasileiro e internacional em alerta, já que o Brasil é o maior exportador de carnes de frango do mundo. Em função da identificação da circulação do vírus H5N1, causador da doença, China e União Europeia suspenderam as compras dos produtos brasileiros por 60 dias. Não há riscos a humanos.
O impacto é grande, já que a China, especificamente, é o principal destino das exportações do Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do total de 5,16 milhões de toneladas de carnes de frango enviadas a outros países em 2024, mais de 562 mil toneladas, 17,65% do total, desembarcaram na China.
Em seguida, no segundo lugar no ranking de compradores, estão os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram mais de 455 mil toneladas. A União Europeia, que aplicou embargo à carne de frango brasileira, é a sétima maior compradora, com 231.890 toneladas. As transações brasileiras ao exterior no ano ado somaram US$ 9,93 bilhões, segundo a ABPA.
Com a descoberta do caso de gripe aviária, um levantamento preliminar realizado pela consultoria Safras & Mercado projetou que o volume de exportações do Brasil nos próximos meses pode ter uma queda em torno de 15% a 20%. A projeção é justificada porque o Rio Grande do Sul, o terceiro maior exportador do país, está suspenso de comercializar o produto.
“Suspendemos o Rio Grande do Sul das exportações, cumprindo o protocolo, mas o restante do Brasil continua com o fluxo comercial normal", disse nesta sexta-feira (16/5) o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro.Em razão disso, estima-se que o Estado gaúcho tenha prejuízos significativos.
“A China importa mais de 40 mil toneladas mensais do RS, uma fatia de mais de 10% das exportações brasileiras. Em primeira análise, haverá maior disponibilidade de produto no mercado doméstico, com potencial para recuo das cotações ao longo de todas as etapas da cadeia produtiva”, enfatiza o analista de Safras & Mercado, Fernando Iglesias.
Além de enviar a carne para o território chinês, o RS ainda embarca mensalmente em torno de 8,37 mil toneladas para os Emirados Árabes; 7,6 mil para a Arabia Saudita; e 2,16 mil toneladas para o Japão. Segundo Iglesias, apesar da gravidade do caso, a estrutura atual dos acordos comerciais firmados pelo Brasil tem permitido uma abordagem mais flexível por parte de alguns parceiros internacionais.
“Países como Japão e os integrantes do Oriente Médio podem restringir a compra temporariamente apenas do Rio Grande do Sul, ou mesmo das áreas específicas em que a doença foi identificada, mantendo abertas as importações de outras regiões brasileiras,” explica.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou nesta sexta-feira (16/5) a detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade em uma granja de aves comerciais no Rio Grande do Sul. A detecção, que pode levar a embargos comerciais, ocorreu no município gaúcho de Montenegro, de 64 mil habitantes, e é o primeiro foco da doença registrado em sistema de avicultura comercial no país, disse a pasta, em comunicado.
O ministério disse que está tomando as medidas necessárias para conter e erradicar o foco, além de realizar a comunicação oficial à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), aos parceiros comerciais do Brasil e outros.
"As medidas de contenção e erradicação do foco previstas no plano nacional de contingência já foram iniciadas e visam não somente debelar a doença, mas também manter a capacidade produtiva do setor, garantindo o abastecimento e, assim, a segurança alimentar da população", explicou o comunicado.
É uma variante do vírus da gripe comum, integrante da família influenza. A variação H5N1 é comum em aves.
Extremamente alta, segundo o professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP Paulo Eduardo Brandão. O vírus é transmitido rapidamente, e o número de mortes costuma ser ainda maior em granjas, que concentram muitos animais em um espaço pequeno.
Não. Um ancestral dele é conhecido desde 1996 por infectar gansos. No Brasil, há registro de casos em animais silvestres desde 2023.
Sim. Comer produtos de um animal contaminado não transmite o vírus para humanos.
A forma de transmissão da influenza é via gotículas aerossóis de espirros e fezes. Assim, há uma pequena chance de isso acontecer por meio do contato direto com animais vivos contaminados ou locais de criação.
Nos Estados Unidos, já houve registro de infecção de bovinos, e pessoas contraíram a doença após contato com o gado. No Chile, houve contaminação de leões marinhos.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) decretou emergência zoossanitária por 60 dias no município de Montenegro (RS). A pasta também trabalha no rastreio da produção do estabelecimento onde foi confirmado o caso.
Os países têm políticas de suspensão de importações de lugares onde houve detecção de gripe aviária para evitar a entrada do vírus em zonas livres da doença.
Sim. Para a veterinária especialista em zoonoses Paula Giaffone, os Estados Unidos são um exemplo negativo. "Nos EUA, a situação está realmente complicada, o vírus se espalhou por granjas, atingiu rebanhos leiteiros e é encontrado até em testes de água, nos sistemas de distribuição de água."
A gripe aviária já levou ao sacrifício de mais de 120 milhões de aves nos Estados Unidos e é um dos principais fatores responsáveis pela alta no preço dos ovos no país.