POLÍTICA MONETÁRIA

Selic é fixada em 14,75%, com reajuste de 0,5 ponto percentual 

Taxa básica de juros foi alterada em mais uma decisão do Copom para conter a inflação e atinge maior patamar em quase 20 anos

Por Raíssa Pedrosa
Atualizado em 07 de maio de 2025 | 20:09

A taxa básica de juros, a Selic, foi fixada em 14,75% nesta quarta-feira (7 de maio), durante reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O reajuste de 0,5 ponto percentual já era esperado pelos economistas, que projetam a taxa ainda em patamares elevados até fim do ano. A expectativa do mercado, publicada no Boletim Focus na segunda-feira (5 de maio), é que esta seja a última alta da Selic em 2025.

Após chegar a 10,5% ao ano de junho a agosto de 2024, a taxa começou a ser elevada em setembro, com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto e três de 1 ponto percentual. Agora, mais uma alta de 0,5 ponto. Com a decisão, a Selic atinge hoje o maior patamar em 19 anos. Entre julho e agosto de 2006, a taxa básica de juros também estava em 14,75%. Na época, o Brasil ava pelo escândalo do Mensalão e, naquele ano, a taxa chegou a atingir 19,75%.

As altas atuais têm sido justificadas como estratégia do Banco Central para conter a inflação. Conforme o Boletim Focus, as previsões para a inflação caíram de 5,55% para 5,53% - ainda bem acima da meta de 3%, com tolerância de até 4,5%. Para 2026, a projeção da inflação foi mantida em 4,51%. Para 2027 e 2028, as previsões são de 4% e 3,8%, respectivamente. A inflação oficial do país é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

"A conjuntura externa, em particular os desenvolvimentos da política comercial norte-americana, e a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, têm impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", diz o Copom no comunicado oficial. "O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta."

O Copom informou que "entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante". Para as próximas reuniões, a decisão sobre a Selic, segundo o Copom, terá que observar o cenário de incertezas. "O Comitê se manterá vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante e dependerá da evolução da dinâmica da inflação", diz.

Repercussão

Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), com a alta da Selic, o desempenho das atividades de varejo e serviços pode ser comprometido a médio e longo prazo. A entidade espera que haja uma redução na taxa nas próximas reuniões.

“Entendemos que o Banco Central quer se mostrar firme no combate à inflação e reforçar a confiança dos agentes econômicos e investidores. Contudo, chegamos ao maior nível da Selic dos últimos 19 anos e isso, certamente, pode afetar os investimentos a médio e longo prazo, sobretudo nas atividades de varejo e serviços que são duramente afetadas pela alta dos juros”, lamenta o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva. 

Para o presidente em exercício da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Marcos Brafman, a manutenção de juros elevados “é necessária para o controle da inflação, mas, também, gera efeitos negativos perceptíveis na desaceleração da economia, com reflexos sobre o PIB, o emprego e a confiança do empresariado para novos investimentos.

Ele destaca que a Selic a 14,75% restringe crédito e investimentos. “Esse cenário torna ainda mais urgente a adoção de uma política firme de contenção de gastos públicos. O equilíbrio fiscal precisa ser visto como uma condição estrutural para o controle duradouro da inflação e, consequentemente, para a possibilidade de redução sustentável da taxa básica de juros”, diz. “A ACMinas defende uma política econômica que concilie responsabilidade fiscal com estímulo à atividade produtiva, promovendo o crescimento com estabilidade e confiança.”

Na indústria, a notícia também repercute negativamente. Para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), o aumento restringirá investimentos e competitividade, e elevará os custos de produção. Segundo a FIEMG, a intensificação da guerra comercial entre os Estados Unidos e outros países têm reduzido as projeções de crescimento global, provocando efeitos deflacionários sobre o Brasil, especialmente com a queda nos preços das commodities. “Esse contexto contribui para aprofundar a desaceleração da atividade econômica doméstica já em curso, e a adoção dessa medida tende a intensificar ainda mais o enfraquecimento da economia, com impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias”, afirma Flávio Roscoe, presidente da entidade.  

“Em momentos de elevada incerteza, torna-se ainda mais necessária que a política monetária seja conduzida com cautela, considerando os efeitos defasados das medidas já adotadas e o atual nível significativamente contracionista da taxa de juros, para evitar impactos desproporcionais sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho”, ressalta.

Análise do mercado financeiro

Na análise do sócio da The Hill Capital, Marcelo Bolzan, o Banco Central deixou a possibilidade novo aumento da Selic em aberto. "Eles não trouxeram guidance, ou seja, eles não sinalizaram aqui as próximas reuniões, e isso eu entendo que é positivo porque o Banco Central vai ganhar flexibilidade", diz. "O comitê vai deixar em aberto a possibilidade, inclusive, de parar de subir juros na próxima reunião, conforme aqui os dados futuros vierem", acrescenta.

"A minha expectativa ainda é de um novo aumento de 0,25 para a próxima reunião do Copom e aí sim, a Selic chegando em 15% e finalizando esse processo de subida de juros", crava Marcelo.

Já o analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, Alison Correia, aposta em queda da taxa daqui para frente. "O tom adotado, de certa forma, foi mais dovish no meu entendimento, porque ele pontua sim as questões das tarifas norte-americanas, mas deixa claro que nós estamos numa convergência mais calma de inflação", comenta.

"Eu espero agora que, para as próximas reuniões, a gente mantenha a taxa de juros inalterada, pelo menos para as próximas duas reuniões. E quem sabe, se os preços começarem a convergir para baixo, a gente consiga, em vez de ir para 15%, voltar pelo menos para 14,25%", vislumbra. "Para amanhã, eu espero uma movimentação de alta para a Bolsa e de uma movimentação de queda para o dólar", diz.

Alta é boa para investidores

Na análise do diretor comercial da Hurst Capital,  Breno Reis, a elevação da Selic torna os ativos de renda fixa, especialmente os títulos do Tesouro, muito mais atrativos. "Com uma taxa básica de juros em patamares como 14%, 15% ou até 16%, torna-se difícil justificar investimentos em renda variável, como ações, que podem apresentar retornos menores e mais incertos", diz. "Ainda assim, nem todos os investidores estão satisfeitos com o que pode ser considerado o 'retorno mínimo' da renda fixa tradicional. Muitos estão dispostos a correr um pouco mais de risco em busca de ganhos superiores", pondera.