ESTREIA

Nicole Kidman estrela filma sobre jogos sexuais de poder

"Babygirl" é um drama psicanalítico sobre as frustrações da mulher

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 09 de janeiro de 2025 | 06:12

Embora a campanha de marketing tem colocado “Babygirl” ao lado de thrillers eróticos, com possibilidade de cenas para lá de picantes, o filme não tem nada de explícito ou algum excitamento visual que seja. Nicole Kidman já mostrou mais (do corpo) em “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick.

Com estreia hoje nos cinemas, o filme brinca com o jogo sexual estabelecido entre uma chefe e seu estagiário para traçar um drama psicanalítico sobre frustrações. A primeira cena já traz Romy se masturbando solitariamente, com o notebook à frente, após transar com o marido, vivido por Antonio Banderas.

O que se vê depois é uma fantasia em que, mais do que o sexo em si, Romy e seu pupilo criam uma grande encenação em torno da inversão de papéis, com a chefe sendo subjugada e humilhada constantemente, abrindo espaço para várias interpretações, mas geralmente nunca levadas adiante.

Em algum momento, por exemplo, a narrativa nos faz perceber uma certa fragilidade feminina no trabalho, incapaz de sustentar tanta pressão. Em outro, há o desejo irrefreável pelo novo e pelo mistério, em contraste à imagem de Banderas barrigudo e de cuecas, longe do latin lover dos filmes de Almodóvar.

Mesmo que a história aponte para um ou outro caminho, a diretora Halina Reijn não abre mão do incômodo. A tensão sexual, por vezes, se torna apenas uma tensão desajeitada, sem aquelas corriqueiras sequências videoclipadas ao estilo de “Nove e 1/2 Semanas de Amor” e “Instinto Selvagem”.

No primeiro encontro do casal, somos levados para um ambiente que parece saído dos intrigantes suspenses de David Lynch, com acento na cor – um vermelho tão imponente que empana qualquer significado sexual – e em diálogos que aparentam códigos só compreensíveis para aqueles que os proferem.

Há um grande vazio que, propositadamente, atravessa o filme e nos deixa bastante desconfortáveis com os personagens, sem aderir completamente ao garoto usado por sua patroa ou à mulher chantageada pelo amante. É um jogo que realmente só terá um entendimento pleno em seus instantes finais.

A experiência que Halina nos propõe é, de certa maneira, frustrante, porque ela torna toda essa trama de coação e amedrontamento num simples e necessário desvio, voltando ao ponto de partida de uma satisfação não realizada. Mas, ao mesmo tempo, é ousado (pelo seu anticlímax) e muito realista (indo ao âmago das relações).

Para quem anseia por um thriller erótico convencional, “Babygirl” é um grande gozo interrompido, em que a iminência da ruína, da desestabilização, nunca se completa. Todos parecem atravessar um campo minado sem vítimas. É pouco para um filme que tenta mexer com tantos aspectos profundos.