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Entenda o que é esclerose múltipla, sintomas e por que a doença afeta mais mulheres jovens
Condição que atinge o sistema nervoso central não tem cura e tem diagnóstico complexo, mas existem já tratamentos eficazes disponíveis no SUS
Visão embaçada, formigamento no corpo, perda de força muscular, incontinência urinária... Para cerca de 40 mil brasileiros, esses podem ser os primeiros sinais da esclerose múltipla (EM), doença autoimune neurológica e sem cura que afeta o sistema nervoso central.
Na próxima sexta-feira, 30 de maio, é celebrado o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, data oportuna para entender mais sobre a enfermidade, cujo diagnóstico pode levar anos para ser descoberto e que é mais frequente em mulheres na faixa etária entre 20 e 40 anos.
A esclerose múltipla é uma doença desmielinizante. Ou seja, acontece quando o sistema imunológico ataca a mielina, substância que protege as fibras nervosas do cérebro e da medula espinhal.
Assista à discussão no programa Interessa:
Para explicar a EM, é preciso entender que os nossos neurônios são compostos por pelo fio axônio, estrutura responsável por processar as informações. A mielina, por sua vez, funciona como uma bainha de gordura que protege esse fio.
O que acontece na esclerose múltipla é que o nosso sistema imunológico ataca essa capa de proteção dos neurônios, impedindo a transmissão de sinais.
Para ficar mais fácil de entender, podemos pensar na mielina como um cabo que envolve uma fiação. “Daí, quando esse cabo é descascado, acontece um curto-circuito”, explica o coordenador do Núcleo de Neuroimunologia do Hospital Felício Rocho, Davi Queiroz.
Dentre os sintomas, o mais comum é um formigamento na perna, persistente, com duração de mais de 24 horas seguidas. “Ainda pensando no fio, podemos imaginar que o da perna é o maior de todos. Por isso, tende a ser também o mais atingido”, explica o médico.
Também entram nessa lista de sintomas a perda de visão associada a dor à movimentação dos olhos, fadiga intensa, desequilíbrio, paralisia facial, visão dupla, desequilíbrio e tonturas.
Neurologista e neuroimunologista Tassila Oliveira Nery de Freitas explica ainda que a esclerose múltipla pode ser dividia em duas: remitente recorrente e primariamente progressiva.
“A primeira consiste em episódios agudos de sintomas neurológicos, que duram mais de 24 horas, chamados de surto. Tais sintomas recorrem ao longo do tempo, de forma indeterminada, e são seguidos de períodos de estabilidade, sem novos sintomas. Já a esclerose múltipla primariamente progressiva se caracteriza por piora lenta e progressiva de sintomas neurológicos desde o início da doença, sem eventos agudos identificáveis”, explica.
Causas da esclerose múltipla
Entre as possíveis causas da esclerose múltipla estão fatores genéticos (presença de genes de suscetibilidade), ambientais e a infecção pelo vírus Epstein-Barr. Dentre os fatores de risco, existem aqueles que não podem ser modificados (como sexo feminino e a idade) e outros que podem ser alterados, como o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação saudável.
“Em relação ao vírus [também conhecido como ‘doença do beijo’ ou mononucleose], cerca de 80% da população vai ter contato com ele. A Anitta, por exemplo, já comentou sobre o diagnóstico. Há países, inclusive, que já pensam na vacinação contra o vírus em meninas jovens”, aponta o neurologista Davi Queiroz.
Anitta, aliás, é produtora associada do documentário “Eu”, em que a atriz Ludmila Dayer conta sobre a sua luta contra a doença, revelada por ela em 2022. Além dela, outras famosas já tornaram esse diagnóstico público, como atrizes como Ana Beatriz Nogueira – que precisou se afastar das gravações da novela “Mania de Você” por conta do agravamento da doença –, Cláudia Rodrigues e Guta Stresser, além da modelo Carol Ribeiro.
Falar abertamente sobre a enfermidade, a propósito, pode ser positivo para disseminação de informação a respeito, segundo avaliam os especialistas.
“O compartilhamento público do diagnóstico de esclerose múltipla por pessoas com a visibilidade dessas artistas lança luz em direção à doença e alcança um maior número de pessoas por meio das mídias sociais. E isso ajuda na divulgação de informações sobre sintomas, diagnóstico e tratamento, gerando um maior interesse por parte da população sobre o tema e ampliando a busca por informações sobre a doença”, identifica Tassila.
Por que a esclerose múltipla atinge mais mulheres jovens?
No Brasil, a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) estima que, dos acometidos com a esclerose múltipla, 85% sejam mulheres. Segundo o neurologista Davi Queiroz, “o sexo feminino tem uma pré-disposição a ter doenças autoimunes”. A também neurologista Tassila Oliveira Nery de Freitas complementa, destacando que “acredita-se que existem fatores hormonais que favorecem com que a esclerose múltipla”, ressalta.
Já em relação ao fato de acometer pessoas mais jovens, o médico aponta que pessoas mais jovens têm o sistema imunológico "mais reativo", logo, com mais chances de atacar as células do corpo. “Por isso falamos que pessoas mais velhas devem tomar cuidado com as doenças infecciosas, porque o sistema imunológico fica mais quieto”, explica Queiroz.
É importante destacar, porém, que, por mais que existem alguns genes que aumentam a chance da pessoa desenvolver a esclerose múltipla, não há hereditariedade relacionada à doença. “Os casos de esclerose múltipla familiar são raros, e a prevalência desses casos no mundo gira em torno de 12,6%, segundo metanálise publicada em 2018”, diz Talissa, citando o estudo.
Diagnóstico e tratamento da esclerose múltipla
Não há exames específicos para diagnosticar a esclerose múltipla, e o fato de os sintomas frequentemente melhorarem espontaneamente contribui ainda mais para o atraso na confirmação da doença.
“O diagnóstico da doença precisa preencher uma série de critérios que englobam a anamnese, o quadro clínico do paciente e características específicas encontradas na ressonância magnética. Há ainda a necessidade de excluir outras doenças, e também pode ser preciso exames adicionais feitos no líquor e/ou no sangue”, explica a neurologista Tassila Oliveira Nery de Freitas.
Mas quanto mais cedo a enfermidade for identificada, maiores serão as chances de o tratamento dar certo. “O primeiro medicamento para esclerose múltipla foi criado na década de 90 era muito ruim, porque tinha muitos efeitos colaterais e mal tinha efeito. No entanto, de dez anos para cá, temos medicamentos classificados como de alta eficácia, que podem ser ingerido via oral ou com aplicação subcutânea. Antes se dizia que a esclerose não alterava a expectativa de vida. Agora, que ela não altera na expectativa nem a qualidade de vida”, observa o neurologista Davi Queiroz.
O SUS, a propósito, disponibiliza uma gama de opções de tratamento. Dentre eles, estão as terapias imunomoduladoras, que reduzem a progressão da doença e controla os sintomas.
Diferença entre Esclerose Múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Apesar de carregarem o mesmo nome, Esclerose Múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) são doenças completamente diferentes. “A ELA é uma doença degenerativa que acomete os neurônios motores causando fraqueza muscular progressiva, ou seja, afeta a força dos membros e, posteriormente, dos músculos envolvidos na fala, deglutição e respiração. O quadro é irreversível, não tem cura e não há tratamentos eficazes até o momento. A esclerose múltipla, por sua vez, cursa com sintomas variados e tem tratamentos que conseguem estabilizar a doença”, esclarece a neurologista e neuroimunologista Tassila Oliveira Nery de Freitas.
“Esclerose significa cicatriz. No caso do ELA, a doença é mais comum entre pessoas com mais de 50 anos, com predominância para o sexo masculino”, complementa o coordenador do Núcleo de Neuroimunologia do Hospital Felício Rocho, Davi Queiroz.