SEXO

Existe um 'número perfeito' de relações sexuais?

Levantamento aponta que é preciso fazer sexo de uma a duas vezes por semana para ter benefícios para a saúde

Por Paulo Henrique Silva
Atualizado em 30 de maio de 2025 | 15:11

Uma pesquisa recentemente publicada no “Journal of Psychosexual Health” revelou que manter relações sexuais entre 52 e 103 vezes por ano – ou seja, de uma a duas vezes por semana – pode reduzir significativamente os riscos de depressão e melhorar a saúde cardiovascular, especialmente em homens. Antes de os mais apressadinhos começarem a exigir uma frequência maior na cama em nome da boa saúde, os especialistas alertam que não existe um “número perfeito” de relações.

“Não dá para falar que há um número perfeito”, assevera o psiquiatra Bruno Brandão Carreira. “Por mais que a pesquisa sugira a existência de uma frequência ideal, é importante a gente pensar que somos seres humanos extremamente diversos e que essas pesquisas normalmente fazem uma amostragem grande e, a partir dela, tiram uma média – e entre o menor e o maior número existe uma variação muito grande. Cada casal, cada pessoa tem suas próprias necessidades e dinâmicas”, assinala.

Psicólogo e terapeuta sexual, Rodrigo Torres vai no mesmo caminho. “Claro que não existe número perfeito. Questiono muito essas pesquisas malfeitas, que têm uma tendência grande a encontrar o resultado que foi proposto na hipótese. As pessoas são muito diversas, e essa história de ficar colocando números, caixinhas e rótulos é uma bobeira”, condena. Ele explica que o prazer sexual pode ajudar na depressão e na saúde cardiovascular, mas nada disso pode ser visto de maneira generalista.

Para Carreira, mais importante do que a frequência é a qualidade. “Durante muito tempo sempre se valorizou a questão do orgasmo, mas isso varia bastante. O próprio modelo de experiência sexual é muito diferente do homem para a mulher. Ter uma vida sexual ativa é, sem sombra de dúvida, um fator de proteção para uma série de quadros neuropsiquiátricos, incluindo a depressão, mas precisa estar, antes de tudo, num relacionamento saudável”, destaca.

 

Em relação à depressão, Carreira comenta que, durante o sexo, é liberada uma série de hormônios, como a endorfina e, principalmente, a oxitocina, que estão associados a essa sensação de bem-estar e redução do estresse. “Lembrando que um dos principais fatores de risco para a depressão é o estresse crônico. Com uma ativação intensa do sistema nervoso autônomo parassimpático, há uma diminuição da probabilidade de o indivíduo desenvolver transtornos de humor”.

Carreira salienta que, por mais sexo que se faça, se não forem considerados outros aspectos, como a qualidade do relacionamento e o apoio emocional, ninguém vai obter os benefícios desejados. “Dependendo de como ele é praticado, o sexo pode se tornar um estressor, algo que acontece com profissionais do sexo. Eu atendo garotas que fazem sexo 20, 30, 40 vezes por dia, e elas são estressadas. Uma pessoa num relacionamento abusivo pode praticar sexo várias vezes, que continuará estressada”.

Rodrigo Torres põe na mesa outra questão, em relação aos benefícios para a depressão. “Uma pessoa que tem depressão muito provavelmente vai ter menos vontade de ter relações sexuais. Geralmente, os protocolos mandam a gente tratar o transtorno antes do problema sexual, porque, quando você trata o transtorno, a vida sexual da pessoa melhora naturalmente. É muito difícil pedir a uma pessoa em crise depressiva fazer coisas que dão prazer”, registra.

Importante é estar emocionalmente ligado com o par

O psicólogo e terapeuta sexual Rodrigo Torres pondera que quem estabelece o “número perfeito” de relações sexuais é o próprio casal. “Ao longo da vida, o casal vai encontrar uma frequência que vai funcionar para eles em determinada fase. A frequência certa é aquela que é possível, que é factível. Antes de tudo, entender qual é a demanda de um e do outro, para encontrar um equilíbrio. E só se consegue isso com muito diálogo e comunicação”, destaca.

O psiquiatra Bruno Brandão Carreira avisa aos casais com números mais baixos para não se preocuparem com os dados apresentados pela pesquisa do “Journal of Psychosexual Health”. “Uma frequência sexual abaixo dessa média (uma ou duas vezes por semana) está longe de significar necessariamente um problema. O mais importante é entender se os parceiros estão satisfeitos com a frequência e a qualidade da intimidade. Se um casal faz sexo uma ou duas vezes, mas está conectado emocionalmente, é melhor do que quem faz todo dia e que vive brigando ou está estressado”, afirma.

Esse detalhe também vale para a faixa etária. Carreira pondera que, se um jovem faz muito sexo, não significará necessariamente que ele tem melhor saúde mental. “Pode até ser o contrário. Muitas vezes ele usa esse excesso de sexo, essa promiscuidade, numa tentativa frustrada de aliviar um vazio interior. Um jovem não terá necessariamente uma sensação de bem-estar superior à de uma pessoa mais idosa, que faz menos sexo”.