O empresário Raif Gibran Filho pulou a janela da casa dele, no Rio de Janeiro, um muro e fugiu quando policiais federais bateram à porta, na manhã sexta-feira (20), para cumprir mandado de prisão contra ele por financiar atos contra os três poderes em Brasília.
Ele é sócio do Restaurante Rústico , em Alto Paraíso de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros (GO), um dos principais destinos turísticos de natureza e místico do país.
Raif Filho aparece, em vídeo publicado por ele em uma rede social, nos ataques criminosos às sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro, quando o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos por grupo que promoveu violência e dano generalizado contra os imóveis, móveis e objetos daquelas instituições.
Vestindo uma camiseta com estampa de um fuzil, o empresário convoca pessoas para participarem das ações e xinga aqueles que não estavam na Esplanada dos Ministérios em meio a outros apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A PF prendeu, até a manhã desta sexta, quatro dos oito procurados na primeira fase da Operação Lesa Pátria, que visa identificar pessoas que participaram, financiaram ou fomentaram os atos criminosos contra os três poderes.
Os agentes têm oito mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF, no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Confira os extremistas detidos até a publicação desta reportagem:
Ramiro Alves da Rocha Cruz Junior, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros, usava as redes sociais para incitar a invasão dos prédios em Brasília e um golpe de estado por meio de intervenção militar. Ele também pedia dinheiro para a realização dos atos criminosos. Tem muitas fotos com o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive dentro do Palácio do Planalto.
Ramiro dos Caminhoneiros era um dos líderes do acampamento Quartel-General do Exército, em Brasília. Após os atos do dia 8 e o desmonte do acampamento no dia seguinte, que resultou na prisão em flagrante de mais de mil pessoas, Ramiro foi ao ginásio da unidade da PF onde os acusados eram mantidos até audiência de custódia. Ele entrou no local sem se identificar, muito menos ser revistado, fez vídeos e foi embora.
Ramiro é filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi candidato a deputado estadual pelo estado de São Paulo em 2018 (pelo PSL), partido pelo qual Bolsonaro foi eleito) e 2022 (pelo PL), não tendo conseguido se eleger. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para a campanha de 2022, Ramiro recebeu R$ 150 mil em recursos da sigla.
Em Brasília, policiais federais prenderam Renan da Silva Sena. Ele estava em casa, na Candangolândia, uma das regiões istrativa do Distrito Federal. Com ele, os agentes encontraram R$ 22 em espécie.
Ex-funcionário terceirizado do governo Bolsonaro, ele usava seu canal no Youtube para incitar os atos criminosos na Esplanada dos Ministérios. Em um vídeo, publicado do QG do Exército em 6 de janeiro, ele chamava para uma "grande ação neste fim de semana".
Renan Senan ocupou um cargo de confiança no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, então chefiado por Damares Alves, em fevereiro de 2020, para atuar como analista de projetos do setor socioeducativo. Ele foi demitido três meses depois, após ser preso.
Apoiador de Jair Bolsonaro, Renan Sena foi detido por soltar fogos de artifício perto do Ministério do Meio Ambiente, mas acabou liberado após um termo na Polícia Civil. À época, ele integrava o 300 do Brasil, grupo liderado pela militante bolsonarista que usava o codinome Sara Winter e também ocupou cargo de confiança no ministério de Damares Alves e acabou preso por atos violentos.
Sena também foi detido e responde em liberdade pelos crimes de calúnia e injúria, após divulgar vídeo com ofensas contra autoridades dos três poderes e o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). O bolsonarista foi liberado após um termo de comparecimento em juízo, comprometendo-se a não se envolver em outros delitos.
Já em Belo Horizonte, federais prenderam Randolfo Antônio Dias. Ele também estava em casa, no bairro Luxemburgo, na Zona Sul da capital mineira.
Segundo as investigações, Randolfo participava do acampamento em frente à 4ª Região Militar do Exército, na avenida Raja Gabaglia, no bairro Gutierrez, na Zona Oeste de BH, onde apoiadores de Bolsonaro protestavam contra o resultado das eleições presidenciais.
Já no Mato Grosso do Sul, agentes prenderam a intérprete de libras Soraia Bacciotti Soraia, que também é apoiadora de Bolsonaro e participava de acampamentos na porta de quarteis contra o resultado das eleições e a favor de uma intervenção militar.
A PF informou que “as investigações continuam em curso e a Operação Lesa Pátria se torna permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas”.
O TEMPO agora está em Brasília. e a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.