O governo federal divulgou uma série de medidas para combater o racismo nos estádios e no esporte. As situações de impacto mais recentes envolvem atitudes racistas contra o atacante do Real Madrid e da seleção brasileira, Vinicius Júnior. Como uma espécie de porta-voz sobre o tema, Vini Jr virou um exemplo de luta contra os ataques sofridos em campo.
Leia mais: Racismo no futebol: punição, apenas, não resolve, dizem especialistas
“O problema é gravíssimo e comunicados não funcionam mais. Me culpar para justificar atos criminosos também não. Não é futebol, é desumano”, desabafou Vini Jr. após o último grande ataque racista, sofrido em uma partida entre Real Madrid e Real Madrid e Valencia, em maio deste ano.
O brasileiro chegou a ser expulso na partida, situação que foi revertida após a repercussão da discrepância de tratamento da LaLiga, que organiza o Campeonato Espanhol, sobre o assunto.
O caso ganhou as manchetes mundiais, e a CBF promoveu, em junho, jogos e até amistosos da seleção brasileira, com a bandeira: ‘com racismo não tem jogo’. O Brasil, pela primeira vez na história, jogou com uniforme preto, reforçando a luta.
O fato aconteceu no primeiro tempo do jogo entre Brasil e Guiné, amistoso vencido pelos sul-americanos por 4 a 1, na Espanha.
A ação recebeu apoio da Federação Internacional de Futebol (Fifa), tendo o seu presidente, Gianni Infantino, visitado a concentração da seleção e conversado com o presidente da entidade brasileira, Ednaldo Rodrigues, e Vinicius, a portas fechadas.
“É muito significativo o Brasil jogar de preto pela primeira vez. Só tomei essa decisão porque o caso requer atitudes extremas. Eu quero cada vez mais a CBF e as seleções conectadas com os assuntos pertinentes ao mundo atual”, afirmou Rodrigues.
Sobre seu protagonismo à frente da causa, Vini Jr. é bem claro. “Era necessário ter alguém para seguir firme e cada vez mais diminuir o racismo. Eu quero seguir pelos jovens e todas as pessoas que sofrem não têm a mesma voz que eu. Sempre trabalhei calado, hoje tenho a força para lutar por um assunto muito importante”, disse.
Nada disso impediu mais um caso lastimável no local, outra vez, envolvendo Vinicius Júnior, camisa 10 da amarelinha atualmente. Um amigo e assessor do jogador denunciou um segurança da arena de racismo.
Segundo Felipe Silveira, de 27 anos, ele estava entrando no estádio quando um funcionário tirou uma banana do bolso e disse a ele, em espanhol: “Levanta os braços, essa é a minha pistola”. Jornalistas no local flagraram a fruta no bolso do homem. A polícia foi acionada, porém, até o momento, não há informações sobre punição.
"Enquanto eu jogava com a já histórica camisa preta e me emocionava, meu amigo foi humilhado e ironizado na estrada do estádio. O tratamento foi triste, em todos os momentos duvidaram da cena surreal que aconteceu. Para deixar tudo público, pergunto aos responsáveis: onde estão as imagens das câmeras de segurança?", escreveu Vini nas redes sociais.
Em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.532, que tipifica a injúria racial como crime de racismo, que já era considerado delito no país, pela Lei 7.716, de 1989. O Regulamento Geral de Competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para 2023 indica punição a casos de discriminação, que pode variar de uma advertência até a perda de pontos.
Apesar de haver uma impressão geral a respeito de impunidade no âmbito de crimes raciais, as principais entidades desportivas possuem regras sobre isso. Sem contar, claro, com a Constituição Brasileira, que ou por mudanças recentemente com o novo governo.
CBJD
No caso do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, está prevista a suspensão de até cinco jogos e multa, caso seja alguém ligado diretamente ao esporte. Se for alguém de fora, pode haver suspensão de frequentar os eventos mais multa. Se os infratores forem mais de um, como torcedores, o time pode ser punido com perda de pontos.
Conmebol
A Confederação Sul-Americana de Futebol estabelece que, em seus torneios, se houver qualquer insulto contra a dignidade, o transgressor será suspenso por, no mínimo, cinco partidas ou dois meses. Se o infrator for um torcedor, o clube também está sujeito a punição.
Fifa
No caso da maior entidade futebolística do mundo, a Federação Internacional de Futebol deixa claro em seu estatuto e no Código de Ética que esse tipo de comportamento discriminatório é proibido.