LUTO

Morre Papa Francisco, que revolucionou a Igreja Católica, aos 88 anos 2p125g

Pontífice estava à frente da Igreja Católica desde 2013 3w2c6w

Por O TEMPO, com informações da AFP
Atualizado em 21 de abril de 2025 | 10:23
 
 
Papa Francisco vinha ando por díficeis condições de saúde Foto: Vicenzo Pinto

Jorge Mario Bergoglio - o Papa Francisco, morreu aos 88 anos, na madrugada desta segunda-feira (21 de abril). A morte foi confirmada pelo Vaticano. O período de seu pontificado de 12 anos foi marcado por sua popularidade entre os fiéis e pela resistência feroz dentro do catolicismo a seu projeto de reformas, mesmo que estas não questionem os pilares doutrinários. O falecimento de Francisco ocorreu às 2h35, no horário de Brasília, e 7h35 no horário local.

A saúde de Francisco já vinha preocupando as pessoas em todo mundo há alguns anos, chegando até a provocar especulações sobre uma eventual renúncia - assim como fez o antecessor, Bento XVI. 

Nesse Domingo de Páscoa (20/04), dia em que a Igreja Católica celebrou a ressurreição de Cristo, Francisco publicou em suas redes sociais registros de sua última aparição, e afirmou: "Na maravilha da fé pascal, trazendo no coração todas as expectativas de paz e libertação, podemos dizer: Convosco, Senhor, tudo é novo. Convosco, tudo recomeça".

Desde o início de fevereiro o papa vinha sofrendo com uma bronquite e, chegou a precisar interromper a leitura de um discurso durante sua audiência geral semanal devido às dificuldades para respirar. "Deixem-me pedir ao padre que continue lendo porque ainda não consigo com a minha bronquite. Espero que na próxima vez eu possa", disse na ocasião.

Francisco se mostrou popular entre os católicos desde o início de seu pontificado, em 2013. Quatro meses após assumir o papel de papa, Francisco esteve na 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que reuniu um público superior a 3 milhões de pessoas. Naquela ocasião, o papa também visitou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. 

Saúde delicada 1rv2n

Francisco, que na sua juventude foi submetido a uma ablação parcial de uma mobilidade, se desloca desde 2022 com uma cadeira de rodas, ou com uma bengala nas poucas vezes que é visto de pé. Nos últimos anos, ele apresentou vários problemas de saúde, incluindo dores no joelho e no quadril, uma inflamação do cólon e dificuldades respiratórias.

Em junho de 2023, Jorge Mario Bergoglio foi hospitalizado por 10 dias no hospital Gemelli e ou por uma operação de hérnia abdominal, que causou anestesia geral.

Em dezembro do mesmo ano, também devido a uma bronquite, o pontífice desistiu de participar na COP28 de Dubai, a grande reunião de cúpula anual do clima, organizada pelas Nações Unidas. E no final de março de 2024, o jesuíta argentino, eleito papa em 2013, cancelou na última hora sua participação na Via-Crúcis do Coliseu de Roma. Poucos dias depois, no entanto, consegui celebrar a missa da Páscoa.

Apesar dos vários problemas de saúde, Francisco mantinha uma agenda repleta de audiências e tarefas. Também prosseguiu com as viagens - como em setembro, quando fez a deslocação mais longa do seu pontificado, uma jornada de 12 dias que o levou a Papua-Nova Guiné, Timor Leste, Indonésia e Singapura.

Pela justiça social 6v1q4h

A trajetória do líder da Igreja Católica foi marcada por mudanças e carisma. As pregações deste crítico do neoliberalismo destacaram reivindicações por maior justiça social, proteção da natureza e defesa dos migrantes que fogem das guerras e da miséria. 

Assim que foi eleito papa, em 13 de março de 2013, o cardeal argentino Jorge Bergoglio mostrou seu desejo de ruptura, ao aparecer na varanda da basílica de São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico. O jesuíta sorridente e de linguajar franco representava um contraste com o tímido Bento XVI, que havia renunciado ao cargo. 

E provavelmente já tinha em mente seu programa: a reforma da Cúria (o governo da Santa Sé), corroída pela inércia, e o saneamento das duvidosas finanças do Vaticano. O ex-arcebispo de Buenos Aires, que nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria "pastores com cheiro de ovelha" para devolver o dinamismo a uma Igreja cada vez mais superada em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos.

O papa Francisco procurou também acolher mais as mulheres durante seu pontificado. Em janeiro deste ano, ele pediu que a “mentalidade machista” fosse “superada” dentro da Igreja, solicitando que mais cargas de responsabilidade sejam atribuídas às freiras e que elas deixem de ser tratadas como “empregadas”. Na mesma época, ele anunciou que uma mulher, Raffaella Petrini, dirigiria a partir de março o Governo do Estado da Cidade do Vaticano, o órgão responsável pelas funções istrativas da Santa Sé.

"Periferias"  2x5j3d

"O papa introduziu na Igreja assuntos centrais das democracias ocidentais, como o meio ambiente, a educação, o direito", destaca Roberto Regoli, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana. Ele também denuncia os conflitos que devastam o planeta, mas sem resultados concretos, como demonstram seus apelos por um fim da guerra na Ucrânia.

Mas sua imagem rezando sob a tempestade na praça de São Pedro vazia durante a pandemia ilustrou como poucas a necessidade de repensar a economia mundial. Este pastor incansável, apesar dos 88 anos e seu estado de saúde frágil que o obrigam a usar uma cadeira de rodas, segue privilegiando as missões nas "periferias" do leste da Europa ou da África.

Durante a década 'bergogliana', a Igreja Católica também desenvolveu um diálogo inter-religioso, em particular com o islã. Ele também teve um encontro histórico em 2016 com o patriarca ortodoxo russo Kirill, mas a aproximação foi interrompida pelo apoio desta Igreja cristã à invasão russa da Ucrânia.

Para enfrentar os escândalos de abusos sexuais de menores de idade por religiosos, Francisco aboliu o "sigilo pontifício", que era utilizado por autoridades eclesiásticas para não comunicar tais atos. Um gesto importante, mas insuficiente para as associações de vítimas.

Lutas de poder 31f2n

Francisco levou novos ares a Roma: optou por viver em um apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente convidava à sua mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Um estilo que também rendeu críticas de setores que veem nele uma dessacralização de suas funções.

O primeiro papa latino-americano da História continuou mobilizando os fiéis no exterior, mas também há quem o critique por um exercício extremamente pessoal de sua autoridade sobre 1,3 bilhão de católicos. "Francisco mostrou um autoritarismo ao qual a Cúria não estava acostumada há muito tempo. E isso pode irritar", disse à AFP um importante diplomata em Roma.

E a oposição dos setores mais conservadores da Igreja está mais viva do que nunca, apesar das mortes de dois de seus principais representantes: Bento XVI, falecido em dezembro de 2022, e o cardeal australiano George Pell, que faleceu em janeiro de 2023.

Vaticano lamenta falecimento do Papa Francisco 5z1t14

Em nota, o cardeal Kevin Joseph Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e Camerlengo da Igreja Católica, lamentou a morte do Papa:

"Queridos irmãos e irmãs, com profunda tristeza devo anunciar a morte de nosso Santo Padre Francisco.

Às 7h35 desta manhã, o bispo de Roma, Francisco, voltou para a casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja.
Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.

Com imensa gratidão por seu exemplo de verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”