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Fabrício Carpinejar

Poeta escreve às sextas no Magazine e no Portal O Tempo

OPINIÃO

O segredo da longevidade amorosa

Nunca reconheceu o seu valor, tampouco terá capacidade de mensurar o tamanho de uma possível falta ou perda

Por Fabrício Carpinejar
Publicado em 11 de abril de 2025 | 03:00

Eu sei o segredo da duração de um relacionamento: a gratidão.  

 

Se a pessoa é grata pela simplicidade, por tudo o que recebe, por tudo o que é experimentado lado a lado, ela não se separará de você, não vai abandoná-lo, não ameaçará a felicidade com mentiras ou infidelidade.  

  

Mas, se a pessoa é ingrata, não espere o mesmo tratamento. A ingratidão é insaciável. Se ela só critica o que você propõe ou o que você pensa ou o que você decide, se ela só coloca defeito em suas atitudes, se ela menospreza seus amigos e família, se ela acha que nunca tem o que precisa, se ela nunca comemora as gentilezas e as vitórias diárias contra os problemas e adversidades, é daquele tipo que não se compromete de verdade, inteiramente.  

  

Nunca reconheceu o seu valor, tampouco terá capacidade de mensurar o tamanho de uma possível falta ou perda.  

  

Os gratos, por sua vez, são comovidos. Elogiam na manhã seguinte um programa do dia anterior. Lembram-se de um móvel comprado com esforço. Destacam a tranquilidade da folga. Exaltam as virtudes da companhia. Não deixam de exclamar: “Como gosto de nossa vida!”. Com uma roupa nova, desfilam pela casa, perguntando a sua opinião. Diante do prato predileto, saboreiam com vontade. Apenas desejam estar em seu lugarzinho, cercado de seus afetos, sem a necessidade de grandes luxos.  

  

Jamais depreciarão quem lhes deu a mão nos momentos difíceis. Demonstrarão que merecem a confiança. Vão trabalhar o dobro, pelo ideal da família mais do que para si próprios, porque entendem que existe um patrimônio na memória, na cumplicidade, na amizade, a ser zelado. Olham para a frente dadivosos com o que possuem.   

  

Não reclamarão que você desperta cedo ou de algum sacrifício. Botaram na cabeça que são privilegiados por serem amados, pela reciprocidade de atenção.  

  

Já quem é ingrato sempre faz pouco-caso de você. É certa a separação. É certo o adeus. Desde o princípio dos laços, prevalecem uma indiferença completa aos seus sonhos e projetos, um desdém pelas suas concessões carinhosas e pelo tempo que dedica para a casa e para os afazeres domésticos.  

  

Você pode tirar esse ser das sombras, da sarjeta, custear as despesas, incentivar que estude e desenvolva as suas habilidades, que se realize profissionalmente, que cuide da saúde e da aparência. Pode ensiná-lo a se vestir, a sobreviver, a ter bons modos, pode dividir com ele seus conhecimentos, partilhar de seus contatos, emprestar seu brilho. Na primeira chance, ele virará as costas.  

  

A ingratidão é uma traição anunciada, uma deslealdade premeditada. Nada fica de pé. Nada resiste.  

  

Há uma maneira de antever o comportamento sorrateiro: se o seu par só pede, e nunca se mostra contente, nunca relaxa, nunca festeja o que vocês alcançaram até então.  

  

A ingratidão não tem ado. Não tem história. Não tem respiro. Não tem a dimensão saudável da existência. Não tem saudade do que foi ou medo do que será.  

  

O ingrato se interessa exclusivamente pelo futuro dele, de modo egoísta. Esquece o que você acabou de oferecer para pedir mais.  

  

Você recém finalizou um favor, e o ingrato já solicita um novo favor, sucessivamente, numa sobrecarga de expectativas, longe de uma recompensa ou de um louvor. Como se você tivesse que estar disponível para ele, numa dependência de deserto.  

  

Relações terminam sempre que um dos dois é ingrato.