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Wilson Campos

Advogado, especialista com atuação nas áreas de direito tributário, trabalhista, cível e ambiental

WILSON CAMPOS

Carnaval, desilusões, preços altos e bolsos vazios

A festa em meio às crises econômica e política

Por Wilson Campos
Publicado em 27 de fevereiro de 2025 | 07:00

O aumento do preço dos alimentos deixou o prato feito do brasileiro ainda mais caro em 2025. Se hoje nos preparamos para alguns dias de Carnaval de rua na capital mineira, há meses o carnaval das desilusões políticas está sambando sob a onda de preços altos e bolsos vazios.

A estupidez e a ideologia cegam os ingênuos e não deixam que os alienados enxerguem o que se a no país. O negócio é fazer vista grossa, cair na gandaia e se endividar no cartão de crédito. Não interessa o altíssimo preço da cervejinha, da carne, do café, dos ovos, porque isso “a gente vê depois”.

O salário mínimo teve um ínfimo reajuste de 7,5%, ando de R$ 1.412 para R$ 1.518. Mas isso não tem problema, pois os lacradores e os ladrões da República estão gastando bilhões em eios, viagens internacionais, hotéis de luxo, restaurantes finos, limusines e seguranças. Ora, o dinheiro é do povo, mas o povo não quer saber. O povo é só euforia, e que se danem os gastos excessivos dos políticos, o desequilíbrio fiscal, os desvios morais, as narrativas e as mentiras do governo.

O cidadão tem medo de opinar, comentar ou criticar. As ameaças à liberdade de expressão estão escancaradas. Qualquer frase mal falada pode ser interpretada como ofensa grave ao Estado democrático de direito. Os absurdos se multiplicam dia a dia, vergonhosamente. Mas nada disso incomoda, pois, afinal, é Carnaval, e bora lá suar a camisa e fazer de conta que nada de errado está acontecendo no país dos escândalos, da piada pronta, da ideia fixa e do desperdício de dinheiro público.

Em Belo Horizonte, as ruas estão esburacadas, o lixo está amontoado por todo lado, a cidade está suja e malcuidada. Mas tudo bem, ora bolas, agora é Carnaval, e o portal da prefeitura já informou que foi realizado um investimento de R$ 20 milhões previstos inicialmente para a festa, com mais um adicional de R$ 1,5 milhão para a folia da capital, cujo evento de 2025 ocorre entre 15 de fevereiro e 9 de março.

Isso mesmo, pode acreditar, são 23 longos dias de puro “entretenimento e cultura” – um exagero de pândega carnavalesca, com expectativa de cerca de 6 milhões de foliões lotando as ruas da cidade. Esse é o lenitivo, a compensação, um motivo para a dispersão popular. A crise? O país? As perseguições? As ameaças? O devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório? Ah, isso “a gente vê depois”.

Ainda que a crise econômica seja forte, a credibilidade do governo esteja despencando e os juros e a inflação subam feito foguete, a população quer é festa e folia. Ainda que todos saibam que não é feriado nacional – nem sábado, nem segunda, nem terça, nem quarta, podendo ser, no máximo, feriado municipal, os foliões querem é sambar, beber e cantar músicas de gosto duvidoso.

Mas, se durante o resto do ano a preferência nacional é viver de cócoras com o queixo aos joelhos, a exigência mínima é que os carnavalescos respeitem aqueles que moram na cidade, pagam impostos e desejam paz e sossego, ainda que seja Carnaval.