ESTATAIS

Zema pode ter última chance para privatizar Cemig e Copasa antes de fim do mandato 3kw2o

A dois anos do fim do governo, governador pode deixar Palácio Tiradentes sem entregar uma das principais bandeiras de campanha 244b69

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 18 de novembro de 2024 | 21:39
 
 
A ausência de privatizações pode respingar nas pretensões de Zema em se candidatar à presidência ou à vice e de Simões em ser o sucesso ao governo de Minas em 2026 Foto: Gil Leonardi/Imprensa MG

As propostas levadas à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última quinta-feira (14 de novembro) podem ser a última chance de o governador Romeu Zema (Novo) privatizar Cemig e Copasa antes do fim do mandato. Após seis anos, Zema tem pela frente apenas dois para entregar uma das principais bandeiras do governo. O saldo pode influenciar diretamente na viabilidade do vice-governador Mateus Simões (Novo) como seu sucessor e em suas pretensões de se candidatar à presidência ou à vice-presidência em 2026.

Defendidas desde o primeiro mandato de Zema, as privatizações foram encaminhadas à ALMG a apenas dois anos do fim do mandato do governador. Até então, o Palácio Tiradentes havia enviado para a Casa apenas a proposta para privatizar a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). Encaminhado em 2019, durante o primeiro mandato, o projeto superou apenas a Comissão de Constituição e Justiça e está arquivado desde 2023.  

Diante das dificuldades em alcançar a autorização da ALMG para privatizar as estatais, o governo Zema apenas alienou a participação de estatais em subsidiárias, ou seja, empresas a elas vinculadas. Em agosto ado, a Cemig GT, que é o braço de geração e transmissão da própria Cemig, vendeu, por exemplo, os 45% das ações que tinha na Aliança Energia. O capital foi vendido por R$ 2,74 bilhões para a Vale, que já tinha os 55% restantes da Aliança.

A venda da participação de estatais em subsidiárias também se estendeu à Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), que é sócia do Estado na Codemig. Também em agosto ado, a Codemge vendeu os 23,38% das ações que tinha na empresa de telecomunicações Datora. Sem informar publicamente os valores, a Codemge vendeu a participação para a Fuchs, que já tinha os 76,62% restantes da Datora.

O governo Zema ou a vender a participação de estatais em subsidiárias amparado em um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Em junho de 2016, a partir de um questionamento à privatização da Eletrobras, o pleno da Suprema Corte chegou à conclusão que a alienação de subsidiárias não precisa de autorização legislativa. Em Minas, por exemplo, há leis que amarram a venda de subsidiárias à aprovação da ALMG e a realização de referendos populares.

Questionado se será a última chance para privatizar Cemig e Copasa, Simões afirmou que a preocupação é “menos estética e mais de substância”. “Temos, hoje, condição de discutir a privatização da Copasa para garantir mais eficiência e cumprimento das metas do marco do saneamento, e a transformação da Cemig em corporation, mesmo que paga eventual federalização, é o caminho para um serviço melhor. O tema está maduro para o debate na ALMG e para avançar”, pontuou.

Privatizações podem repercutir em candidatura de Simões 3p1p2j

Um eventual insucesso do governo Zema em privatizar Cemig e Copasa poderia respingar na campanha de Simões ao governo de Minas Gerais em 2026. O vice, a quem Zema já declarou publicamente apoio, fez questão de levar as propostas até a ALMG pessoalmente quando estava interinamente à frente do governo, a três dias do fim da missão internacional do governador. Questionado se as privatizações poderiam pesar, o vice não respondeu.

Quando protocolou os projetos, Simões destacou que o Executivo está “maduro, finalmente, para iniciar as discussões” em meio ao “momento bom de relação com a ALMG, com uma base forte e presente”. “Eu ainda falo outra coisa: o governo Zema e o meu dura mais dois anos e um mês. Depois de nós, vem quem? Vai ser feito de novo o que já foi feito nessas duas empresas no ado? Nós vamos voltar a ter depredação dessas empresas? Elas vão voltar a ser utilizadas politicamente”, criticou.

Os projetos de lei foram protocolados na ALMG um dia após o governo Zema ter levado 49 dos 57 deputados estaduais considerados da base para o plenário para votar a proposta para reajustar o piso e o teto de contribuição para o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado (Ipsemg) em 1º turno. No entanto, no final das contas, o texto não foi votado em razão da obstrução do bloco de oposição, que se estendeu das 14h às 19h.

O governo Zema, que enfrenta, desde o primeiro mandato, problemas com a base na ALMG, terá que repetir um quórum semelhante para aprovar uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) que flexibiliza as privatizações. O Palácio Tiradentes terá que reunir, no mínimo, 48 votos favoráveis para aprovar a PEC que derruba a exigência de um referendo popular para avalizar a desestatização e que permite a venda de estatais por maioria simples na Casa.  

Chegar ao fim do mandato sem entregar privatizações poderia enfraquecer as pretensões políticas de Zema, já que aliados, como, por exemplo, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), privatizou a Companhia de Energia Elétrica do Paraná (Copel). Em entrevistas nos últimos meses, o governador já itiu a intenção de se candidatar à presidência, à vice-presidência da República ou até mesmo como articulador de um adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Privatizações sem previsão para tramitar 533h4c

Apesar de terem chegado à ALMG na última quinta, às vésperas do feriado da Proclamação da República, as privatizações de Cemig e Copasa não têm previsão para começar a tramitar. Para isso, os projetos precisam ser lidos em plenário pela Mesa Diretora. A próxima reunião é nesta terça (19 de novembro), mas, como a maioria dos deputados está fora de Belo Horizonte em razão do feriado da próxima quarta, Dia da Consciência Negra, a abertura da sessão é uma incógnita.  

Quando levou em mãos as propostas para a ALMG na última quinta, Simões projetou que os leilões de Cemig e Copasa aconteçam no segundo semestre de 2025. “Para isso, a gente precisa que esses projetos tenham a tramitação com uma boa velocidade. Diria que há uma perspectiva razoável de que a gente tenha votações no começo do próximo ano”, disse, naquele dia, o vice-governador, que estava acompanhado pelo secretário de Governo, Gustavo Valadares.

Ao menos por ora, a proposta para reajustar o piso e o teto de contribuição do Ipsemg, que está na ALMG há sete meses, desde abril, seguirá como prioridade do governo Zema. “O projeto reestrutura o Ipsemg para que ele possa oferecer, sobretudo no interior, serviços conveniados melhores, e aqui, na capital, um maior volume de oferta de serviços”, justificou Simões.