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Para oposição, governador Romeu Zema está em ‘campanha’ e 'abandona Minas'
Parlamentares do campo progressista na Assembleia Legislativa veem tentativa de autopromoção com foco na eleição de 2026
A nova estratégia de comunicação do governador Romeu Zema (Novo), marcada por críticas recorrentes ao governo Lula (PT) e pelo uso intenso das redes sociais, colocou o chefe do Executivo no centro dos ataques da oposição em Minas. Deputados estaduais do campo progressista acusam Zema de “largar o Estado” para se dedicar à construção de uma imagem nacional com vistas à eleição presidencial de 2026.
As críticas se intensificaram após Zema publicar um vídeo no qual aparece subindo a rampa do Congresso Nacional, em uma animação gerada por inteligência artificial, defendendo a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A peça foi interpretada pela oposição como uma sinalização política e motivou a deputada estadual Lohanna França (PV) a protocolar uma notícia de fato no Ministério Público acusando o governador de propaganda eleitoral extemporânea.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) encaminhou a denúncia à Procuradoria Regional Eleitoral, por se tratar de tema vinculado às eleições gerais. A queixa permanece sob análise do órgão. Pela legislação eleitoral, a propaganda antecipada, mesmo sem pedido explícito de votos, é vedada antes de 16 de agosto do ano da eleição. O Tribunal Superior Eleitoral entende que a exaltação pessoal, o uso de símbolos de campanha e a sugestão de aptidão ao cargo já podem configurar irregularidade.
Para a deputada Lohanna França, Zema estaria usando temas sensíveis para a população, como a segurança pública, para autopromoção, enquanto, segundo ela, falha em dar respostas concretas aos problemas do Estado. “Zema usa o discurso da segurança como palanque, mas, na prática, abandona as forças policiais. Enquanto flerta com símbolos autoritários e tenta parecer firme, aqui em Minas falta o básico: viaturas paradas por falta de combustível, efetivo defasado, equipamentos sucateados e profissionais adoecidos”, afirmou a parlamentar. “É um governador que prefere o marketing político ao compromisso real com a segurança pública. E isso custa caro para quem vive e trabalha em Minas”, completa.
Já o deputado Cristiano Silveira, presidente estadual do PT, foi mais enfático ao acusar o governador de estar ausente da gestão. “Agora eu chamo ele de ‘ex-governador’, porque ele era governador no primeiro mandato e virou lacrador de internet. Só fica de olho em 2026. Largou, abandonou o Estado”, disse. Para o deputado, os indicadores de violência, o preço dos alimentos e o uso do humor em vídeos nas redes mostram que Zema estaria mais preocupado com repercussão do que com gestão. “O povo está com dificuldade de comprar alimento, e ele faz vídeo comendo banana com casca. As mulheres estão morrendo em Minas, e ele finge que não vê. Agora só quer brincar no Instagram enquanto Minas está abandonada”, criticou.
Outro lado
Procurados por O TEMPO para comentar sobre as estratégias por trás das publicações de Romeu Zema nas redes sociais e sobre os apontamentos da oposição, que o acusam de fazer campanha antecipada, o Partido Novo, ao qual o governador é filiado, e o governo de Minas não se manifestaram até o fechamento desta edição.
Especialista vê nítido objetivo eleitoral nas postagens de Zema
Ao analisar o comportamento do governador Romeu Zema (Novo) em eventos oficiais e nas redes sociais, o marqueteiro político Celso Lamounier afirma que vê sinais claros de pré-campanha. “Eu entendo que ele está fazendo algumas movimentações para garantir um espaço na corrida, para se firmar como nome já predefinido para a disputa (pela Presidência)”, avalia.
Para o especialista, a situação do governador Zema é ainda mais sensível. “Como está no segundo mandato e sem alternativa de reeleição, Zema vai precisar de uma ofensiva maior se quiser consolidar sua candidatura à Presidência. Até agora, ele e seus estrategistas vêm usando o cenário com cuidado, mas o desafio será crescer num campo da direita bastante disputado”, observa Lamounier.
Sobre os riscos da superexposição, o marqueteiro Paulo Vasconcelos pondera: “Toda imagem potencializada pode ser para o bem ou para o mal. A questão é: o que você está entregando? O eleitor quer saber de resultado. Se você aparece demais e não entrega, a imagem se volta contra você. Não adianta falar com o eleitor todo dia se ele não vê sentido no que você está dizendo”, analisa.
Ambos os especialistas consideram, porém, que a estratégia adotada por Zema é coerente com o atual estágio da política digital. “Tanto ele quanto o vice-governador Mateus Simões (pré-candidato ao governo de Minas) estão fazendo o que precisa ser feito. Estão organizados, têm narrativa, estão se colocando. Agora é hora de medir impacto e ajustar o rumo conforme a resposta do público”, conclui.
Marqueteiros dizem que falta regra clara sobre pré-campanha eleitoral
Embora a comunicação digital seja cada vez mais decisiva, o período da pré-campanha vive em um “limbo jurídico”, como define o marqueteiro político Paulo Vasconcelos. “Não existe regra clara. É tudo interpretativo. O que um promotor pode considerar irregular, outro pode entender como legal. Grande parte dos gastos dessa fase, com eventos, reuniões ou impulsionamento, nem é registrada ou visível à fiscalização. Isso torna o jogo desigual e incerto para todos”, afirma.
Camilo Aggio, cientista político, também aponta que a legislação eleitoral não acompanha a realidade da comunicação política atual. “A nossa legislação vai ter que se render à realidade. Ela ainda tenta regular um mundo que não existe mais. É anacrônica. A distinção entre propaganda antecipada e institucional faz pouco sentido quando você tem comunicação o tempo todo nas redes”, diz.
O marqueteiro Celso Lamounier, por sua vez, reforça que a pré-campanha exige cuidados estratégicos e que exagerar em sua antecipação pode ser um erro: “Se esse marketing for feito de forma muito intensa antes da hora, isso pode gerar problemas. O eleitor só vai pensar efetivamente no voto nas últimas semanas, e talvez até nos últimos dias antes da eleição.”