São Paulo

Camilo Cristófaro pode ser o primeiro vereador cassado por racismo no país

Ele será julgado por ter dito, durante sessão virtual da I dos Aplicativos em maio de 2022, que não limpar calçada era “coisa de preto

Por Renato Alves
Publicado em 19 de setembro de 2023 | 09:32

A Câmara Municipal de São Paulo se reúne nesta terça-feira (19) em sessão que pode cassar Camilo Cristófaro (Avante). Caso se confirme, ele será o primeiro vereador a perder o cargo por causa de racismo.

Camilo será julgado por ter dito, durante sessão virtual da I dos Aplicativos em maio de 2022, que não limpar calçada era “coisa de preto”. O flagrante aconteceu no início da sessão que ouviu a ex-CEO da Uber, Claudia Woods, e o sócio da empresa de motofrete THL, Thiago Henrique Lima. “Não lavar a calçada...é coisa de preto, né?”, disse o áudio vazado no plenário.

O vereador do Abante itiu que a voz é dele e deu duas versões diferentes para a frase. Primeiro, alegou que falava sobre carros. Depois, disse que se dirigia a um amigo.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo recomendou a cassação do mandato do vereador por infração ao código de conduta parlamentar. Para cassação são necessários 37 votos. A Casa legislativa tem 55 integrantes. A sessão está marcada para 15h. 

Vereador acumula acusações de crimes

Com 62 anos de idade, Camilo acumula experiência e polêmicas na política. Além do racismo, já foi acusado de usar laranjas como doadores de campanha, chamar uma colega vereadora de “vagabunda” e de enviar uma sacola de dinheiro para um secretário de Transportes. No entanto, sempre conseguiu ficar impune.

Advogado, seu primeiro cargo público foi o de chefe de gabinete de Jânio Quadros na Prefeitura de São Paulo – o ex-presidente ficou à frente do município de 1986 a 1989.

Camilo deu um salto em 2000, quando presidiu a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), na gestão do prefeito Celso Pitta. Entre 2002 e 2004, dirigiu a Empresa de Tecnologia, Informação e Comunicação do Município (Prodam) na gestão de Marta Suplicy, então no PT.

Camilo assumiu a chefia de gabinete da presidência da Câmara Municipal de São Paulo em 2007. Seguiu no cargo até 2014. Dois anos depois, se lançou candidato a vereador e, com 29.603 votos, conseguiu uma cadeira. Foi reeleito em 2020.

Nesse ínterim, em junho de 2017, Camilo protagonizou um bate-boca que terminou em agressão física a um assessor parlamentar do vereador Eduardo Suplicy (PT), que teve o celular arrancado da mão.

Já em 2018, o Tribunal Regional Eleitoral paulista (TRE-SP) determinou a perda de mandato de Camilo por ele usar o F de uma pessoa que se declarava em situação de pobreza (e recebia auxílios federais) para justificar os cerca de R$ 6,5 mil recebidos por sua campanha.

Em 7 de fevereiro do ano seguinte, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época, suspendeu a decisão, após pedido da defesa do parlamentar.

Já em 2020, uma mulher registrou boletim de ocorrência contra Camilo Cristófaro após ser agredida verbalmente por ele ao reclamar de enchentes na Zona Sul de São Paulo.

A confusão ocorreu durante visita de Ricardo Nunes (MDB) ao Sacomã. Ao falar com o prefeito sobre a situação do bairro, a assistente social disse que foi xingada e arrastada pelo braço por Cristófaro. Ela registrou ocorrência por injúria.