Exploração de nióbio

Federalização da Codemig pode esbarrar em sociedade válida até 2032

A CBMM é sócia da Codemig desde 1972 em uma empresa constituída para explorar duas minas de nióbio em Araxá, no Alto Paranaíba

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 24 de novembro de 2023 | 07:00

A federalização da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) para abater parte da dívida de R$ 156,57 bilhões do Estado com a União pode esbarrar em uma sociedade constituída para a exploração do nióbio em Araxá, no Alto Paranaíba, até 2032. A lavra, que é o principal ativo da Codemig, é realizada por uma sociedade de propósitos específicos, conhecida, no mercado, como t venture, entre a estatal e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) em vigor desde 1972.  

Enquanto a Codemig tem 51% das ações, a CBMM tem 49%. A sociedade, conhecida como Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá (Comipa), explora, de maneira igualitária, duas minas na cidade do Alto do Paranaíba: uma do Estado de Minas Gerais e outra da CBMM. A Comipa, então, rea o pirocloro para a CBMM, que, por sua vez, é responsável em beneficiar, industrializar e comercializar os produtos finais de nióbio. Como contrapartida, a Codemig recebe 25% do lucro líquido da operação.

Inclusive, por conta da sociedade, quando encaminhou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) uma proposta para privatizar a Codemig, o governo Romeu Zema (Novo) chegou a se sentar à mesa com a CBMM para tentar construir um arranjo. O TEMPO apurou que o governo teria oferecido à sócia a jazida que é do Estado e, em troca, ter 25% das suas ações, então estimadas em R$ 40 bilhões, para vendê-las. À época, o acordo não teria sido viabilizado diante das dificuldades de articulação do governo com a AMLG. 

Como é válida até 2032, a sociedade com a CBMM deve estar no cálculo do Ministério da Fazenda para analisar a viabilidade da federalização da Codemig. A Fazenda apenas informou que “a solicitação de Minas Gerais está em análise nas áreas técnicas”. A consulta do governo Zema se há o interesse da União em federalizar a Codemig foi feita em 26 de outubro após o secretário de Fazenda, Gustavo Barbosa, ser provocado pelo deputado estadual Professor Cleiton (PV) em uma audiência pública na ALMG.

Em coro à Fazenda, o governo Zema pontuou que a federalização aguarda análise do ministério. “Somente após uma proposta por parte do governo federal será possível analisar possíveis detalhes e impactos no processo”, acrescentou o Palácio Tiradentes. Após o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), apresentar a proposta alternativa à adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que inclui a federalização da Codemig, o ministro Fernando Haddad pediu até março de 2024 para analisá-la. 

O que diz a CBMM. Questionada se o arranjo com o governo Zema teria sido, de fato, construído e se ele estaria de pé caso a Fazenda deseje absorver a Codemig, a CBMM observou que a federalização ou a privatização da Codemig é uma decisão que cabe ao governo de Minas Gerais. “Independentemente do que ocorrer, os contratos que formalizam a parceria permanecem válidos e vigentes até 2032”, emendou a empresa, cujos acionistas majoritários são os irmãos Moreira Salles.       

Valor da Codemig estaria ligado à capacidade de produção de nióbio

Cleiton, que chegou a propor a federalização da Codemig à ALMG ainda em fevereiro, afirmou que, independentemente de qual acordo seja feito entre União, Estado e CBMM, a federalização será referendada. “O que a gente enquanto bloco entende é a importância de manutenção desses ativos em poder do Estado, representado pela União, e, consequentemente, evitando aí a venda a um preço bem abaixo do mercado como queriam fazer”, acrescentou o deputado.

Ex-integrantes do governo de Minas Gerais ponderam que o valor de mercado a ser estimado para a Codemig está diretamente ligado à sociedade de exploração com a CBMM. Isso porque, mais do que a jazida de pirocloro que é do Estado, a capacidade de beneficiar, industrializar e comercializar produtos de nióbio seria o ativo mais importante. “A Codemig, em si, não vale nada. O que vale é a mina, e, na verdade, a produção de nióbio”, argumentou, de forma reservada, um dos egressos do governo.

Entretanto, o valor de mercado da Codemig é fruto de divergências. Na mesma audiência em que se comprometeu a consultar se a União teria o interesse em assumir a Codemig, Barbosa estimou que, de acordo com estudo do Goldman Sachs, a Codemig valeria R$ 25 bilhões. Por outro lado, Cleiton projetou que a estatal, na verdade, poderia ser avaliada em até R$ 60 bilhões. “O (ex-governador do Paraná) Roberto Requião, enquanto senador, disse que o Goldman Sachs subvalorizou o Banestado quando ele foi privatizado”, rebateu o deputado.

BNDES. Há dois anos, ainda durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o BNDES chegou a encaminhar uma carta ao governo Zema para manifestar o interesse em comprar ações da Codemig por meio do BNDESPAR - subsidiária que atua no mercado de capitais. À época, uma das contrapartidas exigidas pelo BNDES era de que o governo Zema tivesse a autorização para negociar 100% das ações e não apenas 49%, como tem hoje. Apesar do interesse, as conversas não avançaram.