DÉFICIT PRIMÁRIO DE 0,1%

Lula diz que, se depender dele, não haverá novas medidas fiscais e promete 'país de classe média'

Presidente declarou não planejar cortes; ele avaliou que estabilidade é importante, mas disse que 'povo pobre' não pode pagar o preço de medidas desnecessárias

Por Lara Alves, Levy Guimarães e Lucyenne Landim
Atualizado em 30 de janeiro de 2025 | 14:49

BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu que manterá a responsabilidade fiscal como meta do governo federal, mas antecipou que não planeja medidas de contenção de gastos. Ele também declarou, nesta quinta-feira (30), que deseja criar um “país de classe média”.

“Estabilidade fiscal é uma questão muito importante para o governo e para mim. A gente quer responsabilidade fiscal, quer ter o melhor déficit possível, quer que esse país dê certo”, afirmou.

“Eu não tenho outra medida fiscal. Se houver a necessidade, durante o ano, vamos reunir e discutir. O que posso dizer é que, se depender de mim, não tem outra medida fiscal”, completou.

Lula foi enfático ainda ao declarar que o “povo pobre” não pode pagar o preço pela “irresponsabilidade de um corte desnecessário”. As declarações aconteceram durante uma entrevista no Palácio do Planalto.

O formato é fruto da estratégia adotada pelo ministro Sidônio Palmeira, que substituiu Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação (Secom) no início do ano.

A questão econômica foi predominante, e Lula aproveitou para blindar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alvo recente de críticas de Gilberto Kassab, presidente do PSD — o maior partido do país.

“Acho que o Kassab foi injusto com o significado do Haddad no Ministério da Fazenda. Eu posso não gostar de uma pessoa, posso ter críticas a ela, mas não reconheceu que o Haddad começou o nosso governo coordenando a PEC da Transição… Porque a gente não tinha dinheiro para governar o país em 2023”, declarou.

“A segunda coisa foi o arcabouço fiscal. Depois, a aprovação da reforma tributária. Foi um milagre a gente fazer uma reforma tributária. Só por isso o Haddad já deveria ser elogiado pelo Kassab”, completou.

A crítica do líder do PSD ao papel do ministro Fernando Haddad no governo Lula foi feita em meio à especulação que antecede uma reforma na Esplanada dos Ministérios. O partido dirigido por Kassab e outras legendas do centrão têm cobiçado mais prestígio na gestão petista.

Lula repete Gleisi e minimiza alta dos juros em primeira reunião do Copom com Galípolo

O aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros, decidido na quarta-feira (29) pelo Comitê de Politica Monetária (Copom), não impactou na imagem de Gabriel Galípolo para Lula.

O reajuste ocorre na primeira reunião do grupo do Banco Central (BC) chefiada pelo novo presidente da instituição, Galípolo, indicado ao cargo pelo petista. Lula repetiu o discurso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e minimizou a alta.

“Uma pessoa com experiência para lidar com o Banco Central, como eu tenho, tem consciência de que o presidente do BC não pode dar um ‘cavalo de pau’ em um mar revolto de uma hora para outra”, disse.

“Já estava praticamente demarcada a necessidade da medida de juros pelo outro presidente [Roberto Campos Neto], e o Galípolo fez o que deveria fazer”, completou.

O presidente se refere à ata elaborada pelo Copom na reunião em dezembro, quando o Banco Central ainda era chefiado por Campos Neto. O documento já antecipava a tendência de alta da Selic para as duas reuniões seguintes do comitê.

O patamar da taxa básica de juros, hoje em 13,25%, é apontado por Lula e aliados como um fator prejudicial ao crescimento da economia. Um dos principais alvos das críticas do petista em seus dois primeiros anos de governo era justamente Campos Neto, que chegou ao cargo por indicação de Jair Bolsonaro (PL).

“Temos consciência de que é preciso ter paciência. Tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do BC. Tenho certeza que ele vai criar condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo que a política permitir que ele faça”, completou.

Aumento do diesel foi decidido pela Petrobras, reforça Lula

Ainda durante a entrevista desta quinta-feira, Lula negou que tenha autorizado a Petrobras a aumentar o preço do litro do diesel. Ele ressaltou que a decisão não cabia a ele, mas à petrolífera.

“Eu não autorizei o aumento do diesel. Desde o meu primeiro mandato, aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo e dos derivados é a Petrobras, e não o presidente da República”, disse.

O presidente afirmou ainda que, se ocorrer um novo aumento, o preço do diesel ainda será menor que o praticado em dezembro de 2022, último mês do governo Bolsonaro.

A política dos preços dos combustíveis foi discutida pelo Conselho de istração da Petrobras nessa quarta-feira. O órgão avalia impor um aumento para compensar a defasagem nos preços em relação ao mercado internacional.

Hoje, a defasagem do preço do diesel praticado no Brasil está entre R$ 0,46 e R$ 0,55 em comparação aos mercados internacionais (de 13% a 16%), enquanto na gasolina, a diferença é de até R$ 0,24 (18%). Os dados são da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

O presidente ressaltou que “ainda” não foi avisado pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, sobre o eventual aumento. “E ela não precisa me avisar. Se ela tiver uma decisão de que, para a Petrobras, é importante fazer o reajuste, ela que faça e comunique à imprensa", destacou.