GOVERNO

Lula dá posse a Gleisi Hoffmann e entrega articulação política nas mãos da ex-presidente do PT

Gleisi Hoffmann (PT-PR) presidiu o partido por oito anos e liderou o PT diante de um dos maiores escândalos da história da legenda

Por Ana Paula Ramos e Lara Alves
Atualizado em 10 de março de 2025 | 16:41

BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu posse à deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) como ministra das Relações Institucionais em cerimônia no Palácio do Planalto lotado nesta segunda-feira (10). Hoffmann abandona a presidência do Partido dos Trabalhadores após oito anos liderando a legenda para assumir a articulação política do governo e terá em mãos o desafio de construir pontes com o Congresso Nacional, que mantém relação bastante instável com o gabinete petista neste Lula 3. 

Gleisi substitui Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais. Após acumular fracassos na interlocução com o Congresso — com direito a retaliação pública do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Padilha assume o Ministério da Saúde, um dos mais cobiçados da Esplanada. Ele é o nome escolhido por Lula para substituir Nísia Trindade, depois de um processo público de fritura.

Gleisi evita indisposição com afago a Haddad

As rusgas acumuladas entre Gleisi e o principal ministro de Lula, Fernando Haddad, não impediram a presença do petista na cerimônia de posse desta segunda-feira. E, no intento de minimizar as indisposições, Gleisi afagou o ministro da área econômica durante declaração pública após do termo de posse. “Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas desse governo, as pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego e do crescimento da renda”, disse.

A manifestação não foi isolada, e Gleisi também acenou para Rui Costa, ministro da Casa Civil de Lula — o principal aliado petista no Palácio do Planalto. A ministra das Relações Institucionais também prometeu fortalecer a “ampla coalizão” em gesto à bancada do Centrão. “Dialogando com as forças políticas do Congresso e com as expressões da sociedade, suas organizações e seus movimentos. Chego para colaborar com todos os ministros e ministras, respeitando os espaços e as competências de cada um e cada uma. Tenho plena consciência do meu papel de articulação política”, afirmou.

Outros nomes também aparecem no discurso de posse, e Gleisi se lembrou de citar nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao reforçar o papel das instituições na manutenção da democracia. “Meu agradecimento ao ministro Alexandre de Moraes na defesa da democracia e, agora, da soberania nacional. Respeitamos e temos relações com todos, mas o Brasil é dos brasileiros e das brasileiras”, disse em referência aos embates recentes entre as big techs norte-americanas e o ministro.

Isnaldo Bulhões e José Guimarães

A cerimônia de posse de Gleisi Hoffmann aconteceu diante de Isnaldo Bulhões (MDB-AL), principal cotado para a Secretaria de Relações Institucionais — e que acabou preterido em prol da petista. Também compareceu à solenidade o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), postulante à articulação política e que não conseguiu a indicação do presidente Lula para o cargo.

Às vésperas do início do evento, Isnaldo elogiou a capacidade de diálogo de Gleisi Hoffmann e negou insatisfação do Centrão com a opção do Palácio do Planalto de colocá-la no cargo. “Não há insatisfação do bloco. Sempre deixei muito claro que o fato de eu ser lembrado para uma função tão nobre [articulação política de Lula] me deixou muito feliz. É um reconhecimento das relações que procuro construir”, disse. “Ela [Gleisi] atende a todos os atributos necessários para as funções que o presidente hoje designou para ela”, completou.

Depois que Lula optou pela aliada para as Relações Institucionais, o nome de Isnaldo Bulhões surgiu como o principal para assumir a liderança do governo na Câmara dos Deputados com a saída de José Guimarães, tratada como iminente por aliados. O líder do MDB, entretanto, negou a possibilidade. “Não houve rejeição da minha parte [em relação à liderança do governo]. A gente conversa muito, eu e Gleisi. Acho que o papel da liderança do governo continuará sendo muito bem feito pelo deputado José Guimarães. Não rejeitei a função de líder do governo”, declarou.