BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou neste domingo (1º) da necessidade de eleger senadores alinhados ao governo para garantir a governabilidade e evitar ataques às instituições, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Dois terços das 81 vagas do Senado serão renovadas nas eleições de 2026. Segundo a Constituição Federal, cabe ao Senado processar e julgar ministros do STF quanto a crimes de responsabilidade.
Até hoje, nenhum magistrado do Supremo foi alvo de um processo desse tipo, mas políticos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vêm manifestando a intenção de avançar com o afastamento do ministro Alexandre de Moraes.
“Precisamos ganhar maioria no Senado, senão esses caras vão avacalhar a Suprema Corte. Não é porque a Suprema Corte é uma maçã doce. Não. É porque precisamos preservar as instituições que garantem o exercício da democracia nesse país. Se a gente for destruir o que a gente não gosta, não vai sobrar nada”, afirmou Lula.
Ele fez a declaração em discurso durante o congresso do PSB, em Brasília, que oficializou o nome do prefeito do Recife (PE), João Campos, como presidente nacional da legenda. Lula também defendeu que a militância de esquerda se dedique mais à batalha no meio digital.
“Muitas vezes a extrema direita faz a gente recuar. Vamos fazer uma revolução na rede digital. É preciso que a gente não fique ando coisa que a extrema direita fala para frente, e nós temos o hábito de ar. Temos que rebater na hora. Cada um de vocês tem que virar um influencer na internet. Atacou o PSB? Pau em quem atacou o PSB”, disse Lula.
O petista afirmou ainda que deve ser candidato à reeleição em 2026. “Podem ter certeza que, se eu tiver bonitão do jeito que eu estou, apaixonado do jeito que eu estou, e motivado do jeito que eu estou, a extrema direita não volta a governar esse país.”
Lula critica interferência do governo Trump
Ainda em seu discurso deste domingo, Lula criticou a interferência dos Estados Unidos em assuntos brasileiros e defendeu Alexandre de Moraes, sob ameaça de sanções do governo de Donald Trump.
Os EUA querem processar o Alexandre de Moraes porque ele quer prender um cara brasileiro que está lá nos EUA fazendo coisa contra o Brasil o dia inteiro. Por que ele quer criticar a justiça brasileira? Eu nunca critiquei a justiça deles. Ele faz tanta barbaridade e eu nunca critiquei. Faz tantas guerras, mata tanta gente”, disse Lula.
O petista se referiu ao ofício enviado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos alertando Moraes de que ordens judiciais brasileiras não são executáveis dentro dos EUA a não ser que sejam reconhecidas pelo país. Na semana ada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou restrições de visto contra autoridades estrangeiras que são "cúmplices de censura a americanos".
Rubio não citou quem será afetado, mas Moraes pode ser um dos alvos da medida. Rubio já havia dito ao Congresso norte-americano que há uma “grande chance” de o governo dos EUA sancionar o ministro do STF por causa de ações que atingem plataformas digitais baseadas nos Estados Unidos que não cumpriram ordens de Moraes em ações contra fake news e ataques à democracia instauradas pelo Supremo.
Na ocasião, Lula também criticou Trump e defendeu o fortalecimento de instituições multilaterais como forma de preservar a soberania dos países.
“Trump está querendo acabar com o multilateralismo e criar o unilateralismo. Negociação coletiva é importante, reforçar a OMC, a ONU, pra gente defender no mundo. Não podemos voltar à negociação da Guerra Fria, não queremos mais Guerra Fria, queremos livre comércio e soberania de cada país. Ninguém se mete nas coisas do Brasil e nós não nos metemos nas coisas dos outros. Ninguém venha meter a mão e dar palpite aqui”, afirmou o presidente brasileiro.
Ainda na convenção do PSB, Lula voltou a fazer duras críticas à ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e à expansão dos assentamentos israelenses em territórios palestinos ocupados. O petista classificou a guerra como um “genocídio” e afirmou que nem mesmo o povo israelense apoia os ataques.
“Essa guerra, nem o povo judeu quer. Essa guerra é uma vingança, um governo contra a possibilidade de criação do Estado Palestino, por detrás do massacre do Hamas”, declarou o presidente, em fala acompanhada por gritos de “Palestina Livre” da plateia, ao lado da primeira-dama, Janja da Silva.
Lula também leu, no evento, uma nota oficial do Ministério das Relações Exteriores que reforça a posição do Brasil contra a ampliação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia. O documento condena “as recorrentes medidas unilaterais tomadas pelo governo israelense, que, ao imporem situação equivalente à anexação do território palestino ocupado, comprometem a implementação da solução de dois Estados”.
O presidente reforçou que os ataques de Israel à população civil palestina estão além de qualquer justificativa de defesa. Ele relembrou o bombardeio à Faixa de Gaza, no último dia 24 de maio, que matou nove dos dez filhos da médica palestina Alaa Al-Najjar. O marido da médica e o único filho sobrevivente seguem internados em estado crítico.
“A morte de nove filhos de uma médica palestina, como consequência de ataque aéreo do governo de Israel, é mais um ato vergonhoso e covarde”, disse Lula nas redes sociais no último domingo (25). Ele classificou a ofensiva como símbolo da “crueldade e desumanidade” do atual conflito, em que “um Estado fortemente armado impõe sua força contra a população civil indefesa, vitimando diariamente mulheres e crianças inocentes”.
O evento do PSB contou com a presença de ministros, parlamentares da base e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O encontro foi marcado por discursos em defesa da democracia e da união entre os partidos governistas para o pleito municipal deste ano e as eleições gerais de 2026.