BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou neste domingo (1º) a interferência dos Estados Unidos em assuntos brasileiros e defendeu o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob ameaças de sanções do governo de Donald Trump.

“Os EUA querem processar o Alexandre de Moraes porque ele quer prender um cara brasileiro que está lá nos EUA fazendo coisa contra o Brasil o dia inteiro. Por que ele quer criticar a justiça brasileira? Eu nunca critiquei a justiça deles. Ele faz tanta barbaridade e eu nunca critiquei. Faz tantas guerras, mata tanta gente”, disse Lula

O petista se referiu ao ofício enviado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos alertando Moraes de que ordens judiciais brasileiras não são executáveis dentro dos EUA a não ser que sejam reconhecidas pelo país. Na semana ada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou restrições de visto contra autoridades estrangeiras que são "cúmplices de censura a americanos". 

Rubio não citou quem será afetado, mas Moraes pode ser um dos alvos da medida. Rubio já havia dito ao Congresso norte-americano que há uma “grande chance” de o governo dos EUA sancionar o ministro do STF por causa de ações que atingem plataformas digitais baseadas nos Estados Unidos que não cumpriram ordens de Moraes em ações contra fake news e ataques à democracia instauradas pelo Supremo.

Lula fez as declarações em em discurso na convenção do PSB, em Brasília, oficializou o prefeito de Recife, João Campos, como novo presidente nacional da legenda. O evento contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, principal liderança do partido.

Na ocasião, Lula também criticou Trump e defendeu o fortalecimento de instituições multilaterais como forma de preservar a soberania dos países.

“Trump está querendo acabar com o multilateralismo e criar o unilateralismo. Negociação coletiva é importante, reforçar a OMC, a ONU, pra gente defender no mundo. Não podemos voltar à negociação da Guerra Fria, não queremos mais Guerra Fria, queremos livre comércio e soberania de cada país. Ninguém se mete nas coisas do Brasil e nós não nos metemos nas coisas dos outros. Ninguém venha meter a mão e dar palpite aqui”, afirmou o presidente brasileiro.

Ainda na convenção do PSB, Lula voltou a fazer duras críticas à ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e à expansão dos assentamentos israelenses em territórios palestinos ocupados. O petista classificou a guerra como um “genocídio” e afirmou que nem mesmo o povo israelense apoia os ataques.

“Essa guerra, nem o povo judeu quer. Essa guerra é uma vingança, um governo contra a possibilidade de criação do Estado Palestino, por detrás do massacre do Hamas”, declarou o presidente, em fala acompanhada por gritos de “Palestina Livre” da plateia, ao lado da primeira-dama, Janja da Silva.

Lula também leu, no evento, uma nota oficial do Ministério das Relações Exteriores que reforça a posição do Brasil contra a ampliação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia. O documento condena “as recorrentes medidas unilaterais tomadas pelo governo israelense, que, ao imporem situação equivalente à anexação do território palestino ocupado, comprometem a implementação da solução de dois Estados”.

O presidente reforçou que os ataques de Israel à população civil palestina estão além de qualquer justificativa de defesa. Ele relembrou o bombardeio à Faixa de Gaza, no último dia 24 de maio, que matou nove dos dez filhos da médica palestina Alaa Al-Najjar. O marido da médica e o único filho sobrevivente seguem internados em estado crítico.

“A morte de nove filhos de uma médica palestina, como consequência de ataque aéreo do governo de Israel, é mais um ato vergonhoso e covarde”, disse Lula nas redes sociais no último domingo (25). Ele classificou a ofensiva como símbolo da “crueldade e desumanidade” do atual conflito, em que “um Estado fortemente armado impõe sua força contra a população civil indefesa, vitimando diariamente mulheres e crianças inocentes”.