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Após cobrança de Lula, ministros se esforçam por engajamento nas redes sociais
Marqueteiro Sidônio Palmeira tem aconselhado o presidente e alguns ministros sobre estratégias de comunicação

O alto escalão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está diferente, ao menos nas redes sociais. Ministros correndo juntos na rua; o chefe da pasta do agro falando sobre feitos do Ministério da Educação; vídeo selfie em tempo real para reportar o que o governo federal já entregou. A mudança não se limita à busca de engajamento, mas se mostra como um sinal de obediência.
Há três semanas, o petista endureceu o discurso e cobrou dos 38 ministros mais empenho na comunicação governamental. Lula foi enfático naquela reunião ministerial de 18 de março, mas a “bronca” não parou por aí e continua sendo feita em agendas públicas. O “puxão de orelha” ocorreu após uma análise de cenário que gerou preocupação no Palácio do Planalto - a queda de popularidade dele e da atual gestão registrada por quatro diferentes pesquisas de opinião pública.
Mesmo com tantas entregas na área social, de educação, de saúde, de economia, entre outros, a percepção dos integrantes do governo é que a população está “desinformada” e não está percebendo esses feitos no dia a dia. Para tentar contornar essa crise, Lula resolveu consultar o seu marqueteiro de campanha de 2022, Sidônio Palmeira.
No encontro, realizado no mês ado, que contou com a presença do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, o publicitário reportou as falhas da gestão. Ele não ocupa cargo no governo federal, mas é visto como um conselheiro de confiança.
Fontes ouvidas pela reportagem sob condição de anonimato descreveram que Sidônio não tratou especificamente sobre um o a o daquilo que Lula e o governo têm que fazer, mas ainda assim fez algumas sugestões. Entre elas, que o petista apareça de forma mais descontraída nas redes sociais.
Não à toa, poucos dias depois, Lula surgiu nas redes sociais com roupa de academia, correndo na área externa do Palácio do Alvorada e convidando os seguidores a praticarem exercícios. A postagem viralizou e teve mais de 8 milhões de visualizações apenas no perfil do X (antigo Twitter).
Convite de hoje. Bom dia para vocês. Bom dia Brasil. 🏃♂️
— Lula (@LulaOficial) March 19, 2024
🎥 @ricardostuckert pic.twitter.com/CYB5LYRlTG
O convite de Lula foi seguido pelos ministros Camilo Santana (Educação) e Renan Filho (Transportes), que fizeram uma “corridinha” juntos em Brasília e publicaram nas redes. A percepção é que os titulares das pastas têm mais seguidores em suas contas pessoais, como Instagram e X, do que o perfil oficial dos ministérios.
O titular da pasta da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Fávaro (PSD), por exemplo, usou o Instagram dele para falar sobre o “Pé de Meia”, programa de financiamento estudantil lançado pelo MEC de Camilo Santana.
Essa transversalidade também pode ser notada nas redes sociais do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. A reportagem flagrou o político paulista fazendo um vídeo selfie falando sobre o Pé de Meia no Palácio do Planalto no dia 25 de março. Responsável pela articulação política do governo, ele ficou na agenda o tempo necessário para fazer a publicação e ser fotografado pela sua equipe de comunicação.
A única exceção segue sendo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Comércio, Indústria, Comércio e Serviços. Desde o ano ado, Geraldo Alckmin (PSB) tem adotado o perfil mais “engraçadinho” e utilizado memes para anunciar feitos do governo federal. As publicações têm viralizado, sobretudo com referências à cultura pop. Com tom mais informal, perdeu a pecha de político insosso, ou seja, “picolé de chuchu”.
Por trás das redes do petista: Ricardo Stuckert
Em relação à Lula, interlocutores ouvidos pela reportagem narram que a grande mente por trás do Instagram oficial do petista é Ricardo Stuckert. “Estuquinha”, como é chamado pelo presidente da República, está com Lula desde o primeiro mandato. Atualmente, ele é o secretário da Secretaria de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual (SEAUD).
“Ninguém tem preocupação maior com a imagem do presidente do que ele”, contou reservadamente uma fonte, dando a entender que alguns vídeos e fotos publicadas naquela rede social, não estão relacionados diretamente a alguma estratégia elaborada pela Secom.
Marqueteiro aconselhou Lula a evitar polarização
Mas a questão das redes sociais não foi o único recado de Sidônio Palmeira para Lula e a equipe de comunicação. O marqueteiro recomendou que o petista, de maneira geral, nos eventos, discursos e entrevistas, não entre em bola dividida e saia da polarização. A ideia é fugir das pautas negativas e aproveitar o microfone e palanques para falar sobre as ações do governo.
Interlocutores narram que Lula tem confiança em Sidônio, e, por isso, sempre escuta o que o marqueteiro tem a dizer. Sob reserva, essa fonte lembrou que alguns desses recados já foram sinalizados anteriormente por Pimenta ao presidente da República. Mesmo assim, o efeito dos conselhos do marqueteiro tem peso por ser uma pessoa externa ao governo federal.
Auxiliares do petista já itiram que as recentes declarações do presidente sobre o conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, geraram desgaste ao Palácio do Planalto e que essas falas, inclusive, foram usadas para produzir fake news. E que Lula foi muito atacado em grupos da extrema-direita e em bolhas dos evangélicos, onde o governo petista tem dificuldade de penetrar.
O próprio Lula chegou a itir publicamente que foi aconselhado pelo ministro da Secom a não falar mais em seus desafetos políticos: o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o senador Sergio Moro (Uniao Brasil). O ex-juiz da operação Lava-Jato anda “sumido” dos discursos do petista. Por enquanto, Bolsonaro continua.
Sidônio dá dicas a Lula e a outros ministros
Sidônio não tem cargo no governo, mas é visto como um conselheiro do petista e de alguns ministros. Baiano, ele frequenta a Esplanada dos Ministérios com certa regularidade. Ele inclusive, já foi chamado por Pimenta para sentar à mesa com alto escalão de algumas pastas para transmitir sugestões de estratégia de comunicação.
Alvo de críticas de todos os lados, o ministro da Secom tem feito, desde semana ada, uma rodada de reuniões com secretários-executivos e coordenadores de comunicação de forma setorizada. Paulo Pimenta vem colhendo informações das pastas para subsidiar a nova estratégia de campanha do governo federal: “Bote Fé no Brasil”.
O mote visa furar a bolha, sobretudo com grupos religiosos mais conservadores, e tem objetivo de levar para a população que o país está no rumo certo, segundo contou uma pessoa que frequentou uma das reuniões promovidas por Pimenta.
Segundo um interlocutor ouvido pela reportagem, algumas campanhas do governo federal foram “precipitadas”, e ainda é preciso acertar o tom da comunicação governamental. Como exemplo, citou o slogan “O Brasil voltou” lançado nos 100 primeiros dias do terceiro mandato do presidente Lula.
Para esta pessoa, que pediu anonimato, o país segue polarizado e aquela mensagem mais afastava não-eleitores do petista, do que agregava. Outro exemplo, conforme lembrou, foi a postagem do “toc toc” nas redes sociais oficiais do governo, em alusão ao barulho de alguém batendo na porta. A postagem foi vista pela oposição como um deboche à operação de busca e apreensão, pela Polícia Federal (PF), em endereços ligados ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
“Aquilo teve cara de militância. Uma conta do governo não pode ter isso”, criticou. Nesse sentido, destacou que os conselhos de Sidônio a Lula e a equipe de Paulo Pimenta visam também a acabar com postagens que, muitas vezes, fomentam a polarização.