Clima de atritos

Reunião de Haddad sobre MP da Reoneração com líderes da Câmara é cancelada

Nos bastidores, pesa o clima de tensão do presidente da Câmara, Arthur Lira, com o ministro Alexandre de Padilha, que estaria no encontro

Por Lucyenne Landim | Manuel Marçal | Levy Guimarães
Publicado em 06 de fevereiro de 2024 | 11:54

A reunião prevista para a tarde desta terça-feira (6) entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e líderes partidários da Câmara dos Deputados foi cancelada. O encontro seria às 16h30 na sede da pasta, e contaria com a presença de pelo menos 16 deputados. Uma nova tentativa de agenda deve ser feita para depois do Carnaval. A reunião com os líderes do Senado, marcada para antes, está mantida.

Ao chegar na sede da pasta nesta terça-feira, Haddad ou a responsabilidade para o líder do governo na Câmara dos Deputados, José  Guimarães (PT-CE). "Ele entrou em contato com a chefia de gabinete da Fazenda e pediu para transferir para outro dia. Foi o líder de governo que me ligou, pedindo para adiar", afirmou. 

Na Câmara, porém, a avaliação é a de que a crise entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, teve influência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já indicou que deve manter Padilha no cargo, o que tem irritado o Centrão. 

A intenção de Haddad era discutir com o grupo pautas econômicas de interesse do governo e que arão por análise nos próximos meses. Também, de explicar decisões que receberam vetos de Lula por orientação da Fazenda, como o veto a R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares de comissão no Orçamento deste ano.

Lira já não participaria da reunião, mas sua postura de travar o avanço de pautas de interesse do governo enquanto o presidente não decidir pela troca de Padilha, que participaria da agenda, tem impacto direto na movimentação de líderes que compõem seu bloco. No encontro com Haddad, estariam parlamentares próximos ao presidente da Câmara.

Ao discursar no retorno do Congresso após o recesso legislativo na segunda-feira (5), Lira enviou recados ao governo. Ele reforçou a posição, expressada pela maioria dos parlamentares, contrária à tentativa do Planalto de reverter a desoneração sobre as folhas de pagamento de empresas de 17 setores da economia. 

"Exigimos, como natural contrapartida, o respeito às decisões e o fiel cumprimento aos acordos firmados com o Parlamento. Conquistas como a desoneração e o PERSE – essencial para que milhões de empregos de um setor devastado pela pandemia se sustentem – não podem retroceder sem ampla discussão com este Parlamento", disse.

Lira também citou o veto de Lula às emendas parlamentares e a um cronograma que previa o pagamento obrigatório de emendas parlamentares impositivas no primeiro semestre. "Fundamental também relembrar que nossa Constituição garante ao Poder Legislativo o direito de discutir, modificar, emendar para, somente aí, aprovar a peça orçamentária oriunda do Executivo. Não fomos eleitos para carimbar", disse.

"O Orçamento é de todos e para todos os brasileiros e brasileiras: não é e nem pode ser de autoria exclusiva do Poder Executivo e muito menos de uma burocracia técnica que, apesar de seu preparo, não duvido, não foi eleita para escolher as prioridades da nação. E não gasta a sola de sapato percorrendo os pequenos municípios brasileiros como nós, parlamentares", completou.

Já Padilha, no mesmo evento, minimizou a crise. “Nunca existiu qualquer rompimento e nunca existirá”, respondeu a jornalistas sobre a relação dele com o presidente da Câmara. “Este governo, sob a liderança do presidente Lula, não gera conflito, não entra em conflito. Nós estamos num grande esforço de recuperação e reabilitação das relações institucionais”, frisou. 

O ministro acrescentou que a pasta que comanda, com aval de Lula, “não é um ministério das relações interpessoais, é um Ministério das Relações Institucionais”.