CONTRA ESTADO DE DIREITO

PF indicia mais três pessoas por tentativa de golpe; total chega a 40  

Ex-presidente Jair Bolsonaro, general Braga Netto e Mauro Cid são alguns dos indiciados

Por O Tempo Brasília
Atualizado em 11 de dezembro de 2024 | 17:06

BRASÍLIA - A Polícia Federal indiciou mais três pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa, chegando agora a um total de 40 indiciados.  

Os militares Aparecido Andrade Portella, Reginaldo Vieira de Abreu e Rodrigo Bezerra de Azevedo foram incluídos na lista, que conta também com o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu ex-ministro e candidato a vice, o general Braga Netto, e o seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid.

Veja quem são os novos indiciados

Aparecido Andrade Portela

Militar da reserva e suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS), é apontado pela Polícia Federal como um dos intermediários entre o governo de Jair Bolsonaro e financiadores das manifestações antidemocráticas. Os investigadores apontaram que ele visitou o Palácio da Alvorada ao menos 13 vezes em dezembro de 2022, reforçando sua proximidade com Bolsonaro, com quem serviu em Nioaque (MS) nos anos 1970. 

Segundo a PF, Portela utilizava o codinome “churrasco” em mensagens trocadas com Mauro Cid para se referir ao golpe de Estado. O militar mencionou que financiadores estavam cobrando a execução da “ruptura institucional” após contribuírem com recursos, referindo-se a esses valores como “colaboração da carne”. 

Além de arrecadar fundos, Portela sugeria estratégias de atuação para o movimento golpista e demonstrava preocupação em não ser identificado como organizador dos atos criminosos de 8 de janeiro de 2023. Mensagens enviadas a Mauro Cid incluem prints de publicações pedindo informações sobre golpistas, o que evidencia seu receio. 

Em depoimento à PF, Portela exerceu o direito ao silêncio. 

Reginaldo Vieira de Abreu 

Coronel do Exército e chefe de gabinete do então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes, é acusado de disseminar desinformação sobre o sistema eleitoral. Vieira chegou a levar um hacker à sede da PF em Brasília para tentar formalizar denúncias falsas contra as urnas eletrônicas, além de ter manipulado relatórios das Forças Armadas para alinhá-los com as informações falsas divulgadas pelo argentino Fernando Cerimedo.

De acordo com a investigação, ele usava o termo "rataria" para referir-se aos participantes das reuniões clandestinas e defendia que o relatório fosse "no mínimo, alinhado" com o que era divulgado.  

Vieira também teria reado informações sobre o deslocamento do ministro Gilmar Mendes em novembro de 2022, período em que foi elaborada a minuta do golpe que previa a prisão do ministro. O militar estava no mesmo voo que o magistrado e compartilhou uma foto dele no aeroporto com outros investigados. 

Os investigadores identificaram que Vieira imprimiu um documento intitulado “Gabinete de Crise” no Palácio do Planalto, que seria utilizado para assessorar Bolsonaro após a concretização do golpe. Assim como Portela, Vieira optou por permanecer em silêncio durante seu depoimento. 

Rodrigo Bezerra de Azevedo

Major do Exército e integrante do Comando de Operações Especiais (Copesp), conhecido como "Kid preto", é acusado de integrar o núcleo operacional do plano de assassinato do ministro Alexandre de Moraes. Ele está preso, acusado de integrar uma organização criminosa que teria atuado para tentar viabilizar o plano de matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O codinome “Brasil” foi associado a um número de telefone que ele utilizava para ações clandestinas. A investigação revelou que aparelhos vinculados ao codinome "Brasil" estavam próximos à residência de Azevedo em Goiânia após a data da tentativa de assassinato, evidenciando sua conexão com a operação criminosa. Ele itiu ter utilizado celulares e chips anonimizados, prática comum em missões sensíveis do Exército. 

A PF encontrou ligações feitas por Azevedo para contas bancárias abertas fraudulentamente em nome de terceiros. Um desses números estava cadastrado no aplicativo Signal no celular do general Mário Fernandes, evidenciando vínculos com outros integrantes da organização criminosa. 

Em depoimento à PF, o militar alegou que o celular usado na ação foi encontrado em uma sala do Copesp e que ele o utilizou sem saber de seu envolvimento anterior. Ele afirmou que o dispositivo quebrou em 2023 e foi descartado, mas a PF considera que as evidências demonstram seu envolvimento direto no plano golpista.