LISTA DE AUTORIDADES

Grupo de extermínio e espionagem: celular tinha dezenas de fotos de vítimas de assassinatos

Imagens foram encontradas durante investigação sobre grupo de extermínio e espionagem que tinha nomes de parlamentares e ministros do STF em lista

Por Renato Alves
Publicado em 29 de maio de 2025 | 13:38

BRASÍLIA – Agentes encontraram fotos de vítimas de assassinatos no telefone celular de um dos homens acusados de integrar um grupo de extermínio e espionagem investigados pela Polícia Federal (PF) a partir da execução do advogado Roberto Zampieri, o “lobista dos tribunais”.

As imagens de outras vítimas de homicídio estavam no celular de Hedilerson Fialho Martins Barbosa, dono da arma usada no assassinato de Zampieri e um dos cinco alvos da 7ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada nesta quarta-feira (28).

Zampieri foi executado com 10 tiros na porta de seu escritório, em Cuiabá (MT), em dezembro de 2023. Ele foi o pivô da investigação sobre suspeita de negociação de decisões no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

Mensagens encontradas no celular do advogado levantaram a suspeita de compra e venda de sentenças judiciais e deram início ao inquérito na PF, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Enquanto apuraram o assassinato de Zampieri, policiais civis do Mato Grosso encontraram mensagens no celular da vítima que levaram levaram a novas frentes, que envolviam o esquema de venda de sentenças e o grupo de extermínio e espionagem.

As primeiras suspeitas sobre o grupo de extermínio surgiram há mais de um ano. Mensagens encontradas no celular de um dos investigados abordavam “missões” e “festas” que, segundo os investigadores, seriam planos de execução sob encomenda.

Com servidores do STJ suspeitos de participar do esquema, o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que acionou a PF. Analisando mais provas, federais chegaram aos suspeitos de integrarem o autodenominado C4 (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos).

Em aparelhos dos suspeitos, investigadores encontraram uma lista com nomes de parlamentares e ministros do STF, entre eles o do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e dos ministros Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, do STF. 

Ainda de acordo com a PF, o grupo tinha uma tabela de preços por execução. Os valores chegariam a R$ 250 mil, no caso de ministros do STF. Para senadores, eram R$ 150 mil. Deputados, R$ 100 mil. As informações constam de anotações encontradas com investigados. 

Zanin também chamou atenção para as imagens de outras vítimas de homicídio nos arquivos do celular de Hedilerson Barbosa. “É digno de nota o fato de a polícia ter localizado, no celular de Heliderson, dezenas de fotografias de vítimas de homicídios”, escreveu o ministro.

O investigado falou em um áudio sobre a existência de “futuras missões” na qual haveria “valor a parte para mim, desse trabalho que eu realizo”, conforme trecho da decisão do ministro do Supremo, com base em relatório da Polícia Federal.

“Há, ainda, nos celulares apreendidos registros fotográficos, diálogos sugestivos de monitoramento da vítima e mensagem informando ‘missão cumprida’”, escreveu Zanin ao emitir cinco mandados de prisão preventiva, quatro mandados de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão para serem cumpridos na operação de quarta.

A PF apura agora se houve, de fato, alguma articulação de atentado contra alguma autoridade. Mas, para os investigadores, não há dúvida sobre a reponsabilidade do C4 na execução de Roberto Zampieri. Com as provas apresentadas pela PF, Zanin autorizou a 7ª fase da Sisamnes.

'Treinamento militar' e 'letalidade potencial imensurável'

O C4 é formado por militares da reserva e civis frequentadores de clubes de tiro, conforme investigação da PF. Ao expedir os mandados para a 7ª fase da Sisamnes, Zanin destacou que o grupo recebeu “treinamento militar especializado” e tem “letalidade potencial imensurável”. 

“A letalidade potencial da organização é imensurável, dada sua elevada capacidade operacional e bélica, notadamente porque integrada por agentes que pertencem ou pertenceram às Forças Armadas e que receberam treinamento militar especializado”, escreveu Zanin na decisão.

A organização criminosa mantinha arsenal de guerra. Entre eles, fuzis de sniper com silenciador; pistolas com silenciador; lança-rojão tipo AT 34 de ombro; minas magnética e explosivos com detonação remota. Parte dessas armas foi apreendida nesta quarta em Minas Gerais. 

Veja abaixo quem são os cinco investigados alvos de mandados de prisão na quarta e o papel de cada um deles na execução de Zampieri.

  • Aníbal Manoel Laurindo: fazendeiro, foi indiciado pela Polícia Civil de Mato Grosso como mandante do assassinato de Zampieri. O crime teria sido motivado por uma disputa fundiária envolvendo a Fazenda Lagoa Azul, em Ribeirão Cascalheiras (MT).
  • Antônio Gomes da Silva: indiciado como executor de Zampieri. Confessou e disse ter recebido R$ 40 mil pelo crime. Na execução , ele se apresentou como capelão e usou boina e bengala como disfarce. Foi filmado por câmeras de vigilância.
  • Hedilerson Fialho Martins Barbosa: instrutor de tiro, era dono da pistola 9 milímetros usada no crime e descartada em uma lixeira em uma parada de ônibus em Rondonópolis (MT). Confessou que “indicou” o pistoleiro, mas alegou não ter recebido nada.
  • Etevaldo Caçadini de Vargas: coronel reformado do Exército, seria financiador do crime. Elem pagou um sinal de R$ 20 mil pelo assassinato, segundo Antônio. O militar disse em depoimento que o pistoleiro foi apresentado a ele como pedreiro e negou envolvimento na execução.

Etevaldo Caçadini é dono do canal Frente Ampla Patriótica, criado após os atos de 8 de janeiro de 2023. Segundo ele, o canal no YouTube visa reunir “patriotas e conservadores do Brasil”. Ele publicou 101 vídeos na plataforma, a maioria defendendo golpe de Estado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio de intervenção militar.

Caçadini foi subsecretário de Integração de Segurança Pública do Governo de Minas Gerais, entre janeiro de 2019 e setembro do mesmo ano, quando foi exonerado a pedido próprio. Em 2022, ele recebeu o título de Cidadania Honorária pela Câmara Municipal de Belo Horizonte (MG).

A reportagem de O TEMPO procurou o Governo de Minas para comentar a investigação sobre o ex-subsecretário. Tão logo haja um retorno, esta reportagem será atualizada. O espaço segue aberto. Representada pelo escritório Sarah Quinetti Advocacia Criminal, a defesa de Caçadini disse apenas estar acompanhando as diligências realizadas pela PF.