BRASÍLIA. A primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, tornar réus a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto, o “hacker da Vaza Jato”, pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Os cinco membros do colegiado aceitaram a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
As investigações apontam que a deputada teria contratado Delgatti para inserir dados falsos na rede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e uma série de 11 alvarás falsos para soltura de indivíduos presos por motivos diversos.
Zambelli e Delgatti foram alvo de uma operação da PF em agosto do ano ado, e o hacker chegou a ser preso. Na ocasião, a deputada negou as acusações e disse que fez um pagamento de R$ 3 mil a Delgatti para que ele fizesse melhorias em seu site. Além disso, classificou a invasão à plataforma do CNJ como “brincadeira de mau gosto”.
Já o hacker afirmou, em depoimento, ter invadido o sistema a mando da parlamentar e que teria recebido R$ 40 mil pelo serviço. “Se não me falha a memória, foi próximo a R$ 14 mil em depósito bancário e o restante em espécie”, disse o advogado dele, Ariovaldo Moreira.
O relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, afirmou, em seu voto, que há indícios de crime contra o Poder Judiciário, enquanto Zambelli defendia que ele deixasse a relatoria por supostamente ser a vítima dos fatos imputados.
"Não há dúvida de que a inicial acusatória expôs, de forma clara e compreensível, todos os requisitos necessários para o pleno exercício do direito de defesa e recebimento da denúncia", afirmou.
Moraes foi acompanhado pelos demais membros do colegiado, os ministros Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino.
O próximo o é a fase de instrução processual, com a coleta de provas e depoimentos dos acusados e das testemunhas, entre outros os. Encerrada essa fase, os cinco ministros da Turma irão decidir se condenam ou absolvem os réus.
Em nota, a defesa de Carla Zambelli afirma que pediu o à cópia das mídias e da perícia utilizadas pela investigação, mas ainda não obteve o.
“Novamente, insista-se que a deputada não praticou qualquer ilicitude e confia no reconhecimento de sua inocência porque a prova investigação criminal evidenciou que inexistem elementos de que tenham contribuído, anuído e ou tomado ciência dos atos praticados pelo complicado”, escreve o advogado Daniel Bialski.
'Desinteligência natural' 4r363d
No julgamento, a ministra Cármen Lúcia se declarou incrédula com a atitude dos acusados de plantarem um mandado de prisão falso de Moraes assinado pelo próprio ministro.
“Eu começo a não me preocupar mais só com a inteligência artificial, mas com a desinteligência natural de alguns que atuam criminosamente, além de tudo, sem qualquer tracinho de inteligência. Porque aí Vossa Excelência se auto prender por uma falsificação num órgão que é presidido por um colega de Vossa Excelência [Luís Roberto Barroso] é um salto triplo, carpado, criminoso…Impressionante”, disse Cármen Lúcia.
Moraes comentou em seguida. “Vossa Excelência, sempre muito educada, disse ‘desinteligência natural’. Eu chamaria ‘burrice’ mesmo, natural”, ironizou. Caso seja aceita a solicitação de Carla Zambelli, os ministros ficam impedidos de julgar o processo criminal contra ela.
Carla Zambelli informou que irá pedir a suspeição dos dois ministros devido aos comentários.