BRASÍLIA – Um vídeo divulgado nesta terça-feira (3) mostra o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, prestando um dos depoimentos mais contundentes no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ele narra ao procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, em audiência virtual, ter abandonado uma reunião após receber das mãos do então ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira uma minuta que previa impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O encontro teria ocorrido em 14 de dezembro de 2022, dois dias após a diplomação do presidente eleito.
Na audiência virtual, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto, ambos réus no processo e presentes na audiência, assistem em silêncio à fala da testemunha de acusação. O ex-presidente mantém, durante quase todo tempo, uma das mãos sobre a boca, a a no rosto em determinados momentos e faz algumas anotações.
Documento previa golpe, garante brigadeiro da Aeronáutica
Baptista Júnior descreve o momento em que, em 14 de dezembro de 2022, foi surpreendido por um documento que previa a ruptura institucional, apresentado por Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa.
"Perguntei se o documento previa impedir a posse do presidente eleito. A resposta foi sim. Então me levantei e disse: ‘Não ito sequer receber esse documento’. E saí da reunião", relatou o brigadeiro, deixando claro que não aceitaria fazer parte do plano. Ele também afirmou que os demais presentes, como o almirante Almir Garnier, permaneceram calados, e que apenas o general Freire Gomes expressou desconforto semelhante.
O depoimento de Baptista Júnior reforça a tese da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que houve articulação coordenada, inclusive entre setores militares, para tentar reverter o resultado das urnas. A presença do documento com proposta golpista é considerada uma das provas mais graves até agora reunidas pelo inquérito.
Um vídeo divulgado nesta terça-feira (3) mostra o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, prestando um dos depoimentos mais contundentes no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022. pic.twitter.com/euaeLoTpwx
— O Tempo (@otempo) June 3, 2025
Reuniões com Bolsonaro no Alvorada após derrota nas eleições
O conteúdo das reuniões anteriores com Bolsonaro também foi abordado no depoimento. Baptista Júnior revelou que os encontros, realizados no Palácio do Planalto em novembro de 2022, começaram como discussões sobre segurança e estabilidade institucional, mas gradualmente aram a sugerir a adoção de medidas fora do marco constitucional.
“A ideia inicial era discutir uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem], mas com o tempo percebi que não era esse o objetivo. Deixei claro ao presidente: ‘A partir de 1º de janeiro o senhor não será mais presidente. Aconteça o que acontecer’”, afirmou o militar.
O conteúdo das reuniões anteriores com Bolsonaro também foi abordado no depoimento. Baptista Júnior revelou que os encontros, realizados no Palácio do Planalto em novembro de 2022, começaram como discussões sobre segurança e estabilidade institucional, mas gradualmente aram a… pic.twitter.com/UCQ1EG6CMt
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A GLO é uma medida legal que autoriza as Forças Armadas a atuarem em apoio à segurança pública em situações excepcionais. No entanto, segundo o brigadeiro, o uso pretendido pelo governo à época não se encaixava no que ele aprendeu ao longo da carreira militar.