O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (12) e confirmou a reunião realizada entre ele, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) no Palácio da Alvorada -residência oficial do presidente em Brasília (DF)- em 8 de dezembro de 2022. Mas disse que "nada aconteceu".
Bolsonaro também garantiu não ter falado nada no encontro. "Fiquei em silêncio", declarou, acrescentando que não houve, também, qualquer trama contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ninguém tratou disso", disse. No momento, o assessor e advogado do ex-presidente, Fábio Wajngarten, frisou que o nome de Moraes não apareceu "em nenhum momento" do encontro, assim como a discussão sobre qualquer "ato preparatório" de golpe ou "plano conspiratório".
O ex-mandatário foi chamado para depor no inquérito que apura um suposto plano, denunciado por do Val, para golpe de Estado. Em uma primeira versão, alterada posteriormente, o senador contou que foi chamado para a reunião e recebeu de Silveira uma proposta que envolvia grampear Moares, na tentativa de obter informações que pudessem anular as eleições de 2022.
Segundo o ex-presidente, que falou com jornalistas após o depoimento, do Val foi levado ao Alvorada por Silveira, que tentou induzir o senador a falar "alguma coisa". Bolsonaro, porém, não deixou claro qual era o objetivo e frisou que não houve qualquer articulação contra o resultado eleitoral, em que saiu derrotado para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Nada aconteceu no dia 8 de dezembro. Até porque eu não tinha vínculo com o senhor Marcos do Val. Que eu me lembre, nunca tive uma reunião com ele, nunca o recebi em audiência, a não ser, talvez, fotografia, o que é muito comum acontecer entre nós. Nada foi tratado, não tinha nenhum plano, pelo menos, tratado ali naquela reunião de aproximadamente 20 minutos para alguém gravar o ministro Alexandre de Moraes", disse Bolsonaro.
Bolsonaro não quis afirmar que do Val mentiu ao denunciar a suposta trama golpista. O ex-mandatário contou, ainda que questões partidárias foram tratadas no encontro. "Existia um namoro naquele momento de trazer senadores para o PL, nada mais além disso. Para que que ia articular alguma coisa com um senador que eu nunca tinha conversado?", questionou.
Ainda aos jornalistas, o ex-mandatário afirmou que Silveira se aproximou de do Val após o senador declarar, em uma audiência pública anterior ao dia 8 de dezembro, que deixaria o evento porque tinha uma reunião com Moraes. "O que eu tinha de conhecimento é que Daniel Silveira Marcos do Val não tinham um relacionamento. aram a ter após aquela audiência pública, onde Marcos do Val, ao falar que ia se encontrar com Alexandre de Moraes, podia extrair algo de útil dessa possível relação entre o senador e o ministro", declarou.
Bolsonaro ficou dentro do prédio da PF por quase três horas, mas o depoimento durou cerca de 35 minutos, de acordo com Wajngarten. Este foi o quarto depoimento prestado pelo ex-presidente à PF. Ele já falou sobre o caso das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita e que não tinham sido destinadas ao patrimônio público, sobre uma suposta incitação aos atos criminosos de 8 de janeiro e sobre a fraude em cartões de vacina dele, da filha e de auxiliares.
Questionado sobre as ações em que é alvo, o ex-presidente respondeu: "Muitas outras terão. Eu acho que fazer uma busca e apreensão na minha casa contra a orientação do Ministério Público, atrás de cartão de vacina, no meu entender é um ato de esculacho. Não roubei nada, nunca conspirei nada. É para esculachar, é constrangimento perante a opinião pública. É desgastar. Se eu não tivesse nenhum capital político, não estariam fazendo tudo isso contra mim".