'Tentativa de golpe'

Delação de Mauro Cid embasa operação da PF contra Bolsonaro e aliados

Bolsonaro está proibido de deixar o país e quatro ex-assessores dele são alvos de mandados de prisão na operação desencadeada pela PF

Por Renato Alves
Publicado em 08 de fevereiro de 2024 | 09:45

Informações dadas pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid em delação premiada sustentam a operação desencadeada pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (8) para apurar “uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito” para manter Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

O ex-presidente é um dos alvos. Ele está proibido de deixar o país. Tenente-coronel do Exército, Mauro Cid foi preso por causa da falsificação de comprovantes de vacina contra covid-19 para ee, familiares, Bolsonaro e a filha Laura. Cid também é investigado no caso das joias da Araábia Saudita. 

Para a operação desta quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes expediu 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentar do país, com entrega dos aportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.

Veja abaixo a lista completa de nomes que foram alvos de mandados de busca e apreensão; de prisão preventiva; de medidas cautelares que podem incluir apreensão de aporte e/ou proibição de manter contato com os demais investigados; e ainda quem foi alvo suspensão do exercício de função pública.

Confira o que a PF investiga

Segundo a PF, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, para tentar viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

De acordo com a investigação, o primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas eleições de 2022. Isso ocorreu por meio da disseminação falsa de vulnerabilidades das urnas eletrônicas de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

A PF também aponta que o segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para "subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível". 

O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal. A operação foi chamada pela Polícia Federal de "Tempus Veritatis" – "hora da verdade", em latim.

Veja quem está na mira da PF

Alvos de mandados de busca e apreensão:

  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão da reserva e ex-candidato a deputado estadual (PL-RJ);
  • Almir Garnier Santos; ex-comandante-geral da Marinha;
  • Amauri Feres Saad, advogado apontado pela MI do 8 de janeiro como autor da minuta golpista;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Angelo Martins Denicoli, militar da reserva e ex-diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS;
  • Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI;
  • Bernardo Romão, coronel do Exército;
  • Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestre;
  • Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário que teria ajudado a montar estudo apontando fraude nas urnas eletrônicas; 
  • Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, general e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência da República;
  • Guilherme Marques Almeida, tenente-coronel e comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima,  tenente-coronel do Exército;
  • José Eduardo de Oliveira e Silva, padre;
  • Laércio Virgílio, general de brigada reformado;
  • Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens;
  • Mario Fernandes, homem de confiança de Bolsonaro e comandante que ocupou cargos na Secretaria-Geral;
  • Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-comandante do Exército;
  • Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército;
  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior, oficial do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército;
  • Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor da Presidência da República;
  • Walter Braga Netto, general e candidato a vice de Bolsonaro.

 

Alvos de mandados de prisão preventiva:

  • Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do Exército;
  • Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência da República;
  • Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens;
  • Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército.
 
Alvos de medidas cautelares que podem incluir apreensão de aporte e/ou proibição de manter contato com os demais investigados:
  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão da reserva e ex-candidato a deputado estadual (PL-RJ);
  • Almir Garnier Santos; ex-comandante-geral da Marinha;
  • Amauri Feres Saad, advogado apontado pela MI do 8 de janeiro como autor da minuta golpista;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Angelo Martins Denicoli, militar da reserva e ex-diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS;
  • Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI;
  • Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestre;
  • Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário que teria ajudado a montar estudo apontando fraude nas urnas eletrônicas; 
  • Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, general e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Guilherme Marques Almeida, tenente-coronel e comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima,  tenente-coronel do Exército;
  • Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • José Eduardo de Oliveira e Silva, padre;
  • Laércio Virgílio, general de brigada reformado;
  • Mario Fernandes, homem de confiança de Bolsonaro e comandante que ocupou cargos na Secretaria-Geral;
  • Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, blogueiro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-comandante do Exército;
  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior, oficial do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército;
  • Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor da Presidência da República;
  • Walter Braga Netto, general e candidato a vice de Bolsonaro.

Suspensão do exercício de função pública

  • Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestre;
  • Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, general e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Guilherme Marques Almeida, tenente-coronel e comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima,  tenente-coronel do Exército;
  • Mario Fernandes, homem de confiança de Bolsonaro e comandante que ocupou cargos na Secretaria-Geral;
  • Ronald Ferreira de Araújo Júnior, oficial do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército.

Eixos de atuação

A PF aponta que a investigação está relacionada com a atuação de organização criminosa com cinco eixos de atuação:
 
  • ataques virtuais a opositores;
  • ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
  • tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia; 
  • uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.

Núcleos de atuação

A Polícia Federal enumerou os núcleos de atuação do grupo existentes e atuantes para operacionalizar medidas para desacreditar o processo eleitoral; planejamento e execução do golpe de Estado e  abolição do Estado Democrático de Direito; com a finalidade de manutenção e permanência de seu grupo no poder:

1. Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral
Forma de atuação: produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações, das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de Estado.

2. Núcleo responsável por incitar militares à aderirem ao golpe de Estado
Forma de atuação: eleição de alvos para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas. Os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e através de influenciadores em posição de autoridade perante a "audiência" militar.

3. Núcleo Jurídico
Forma de atuação: assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado. 

4. Núcleo operacional de apoio às ações golpistas
Forma de atuação: a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, atuavam em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.

5. Núcleo de inteligência paralela
Forma de atuação: coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente na consumação do golpe de Estado. Monitoramento do itinerário, deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e de possíveis outras autoridades da República com objetivo de captura e detenção quando da do decreto de golpe de Estado.

6. Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos

Forma de atuação: utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado.