Investigação

PF indica que bens foram extraviados com uso de avião presidencial de Bolsonaro

Em decisão assinada nesta sexta (11), Moraes declarou que o avião usado pelo ex-presidente 'provavelmente' transportou os bens alienados em 30 de dezembro de 2022

Por Lucyenne Landim
Publicado em 11 de agosto de 2023 | 12:05

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou que o avião presidencial usado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "provavelmente" foi utilizado para extraviar bens de alto valor, recebidos pelo Estado brasileiro, e que teriam siso alvo de tentativa de venda para benefício pessoal. A informação parte de provas obtidas pela Polícia Federal (PF) e consta em decisão assinada pelo ministro nesta sexta-feira (11).

O transporte teria sido feito em 30 de dezembro de 2022, data em que Bolsonaro viajou aos Estados Unidos. Ele deixou o Brasil um dia antes do fim de seu mandato, e não reou a faixa presidencial na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O avião presidencial é de responsabilidade da Força Aérea Brasileira (FAB) e todas as viagens financiadas com dinheiro público. 

Nesta sexta, a PF deflagrou uma operação que investiga o uso da estrutura do Estado brasileiro no desvio bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do governo, por meio da venda desses itens no exterior.

O tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general da reserva do Exército Mauro César Lourena Cid, foram alvo de busca e apreensão, assim como o tenente do Exército Osmar Crivelatti e o advogado da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef. Mauro Cid e Crivelatti foram ajudantes de ordens de Bolsonaro.

Dois mandados foram cumpridos em Brasília (DF). Outro foi feito em São Paulo (SP) e o quarto, em Niterói (RJ). A investigação mira a prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

"Mais uma vez, há robustos elementos de prova no sentido que os bens extraviados, provavelmente com o uso do avião presidencial em 30/12/2022, foram objeto de verdadeira Operação resgate, com objetivo de esconder o fato de que haviam sido alienados", escreveu Moraes.

Nessa viagem no final do ano ado, a PF indicou que o avião presidencial transportou esculturas recebidas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e que são semelhantes às recebidas pelo ex-presidente em novembro de 2021, em evento na cidade de Manama, no Reino do Bahrein. As esculturas são uma árvore e um barco dourados.

"Como se vê, as investigações apontam que as esculturas foram evadidas do Brasil para os Estados Unidos da América, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30/12/2022 e que MAURO CESAR BARBOSA CID, em unidade de desígnios com seu pai, MAURO CESAR LOURENA CID e com os assessores do então Presidente OSMAR CRIVELATTI E MARCELO CAMARA, remeteu os bens para lojas especializadas, com objetivo de avaliá-los e vendê-los, para posterior incorporação do valor arrecadado ao patrimônio pessoal do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO, o que não se concretizou, tão somente, em razão do baixo valor patrimonial das esculturas", frisou Moraes, a partir das investigações da PF.

As investigações apontaram que o avião presidencial também foi usado para levar aos Estados Unidos um conjunto de itens masculinos da marca Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe ("masbaha") e um relógio. Os itens foram recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021.

"Em seguida, MAURO CESAR CID e outras pessoas ainda não identificadas, encaminharam o material para a empresa Fortuna Auction em Nova York. No dia 8 de fevereiro de 2023, o kit foi submetido a leilão, mas não foi arrematado, não sendo vendido por circunstancias alheias à vontade dos investigados", disse o ministro.

Um outro kit denominado "ouro branco" e composto por um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex, entregues a Bolsonaro em uma visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019, também teria sido transportado pelo avião presidencial.

"Os elementos de prova indicam, com robustez, que os bens constantes do conjunto “OURO BRANCO”, o foram evadidas do Brasil, também em mala transportada no avião presidencial em 30/12/2022, para os Estados Unidos da América, onde foram encaminhadas, pelos mesmos agentes, principalmente MAURO CESAR BARBOSA CID e MAURO CESAR LOURENA CID, para casas especializadsa em leilão: PRECISION WATCHES, no que diz respeito ao relógio Rolex Day-Date; e uma loja do complex SEYBOLD JEWELRY BUILDING, em relação aos demais itens", alegou Moraes.

"As diligências realizadas indicam que JAIR MESSIAS BOLSONARO e sua equipe utilizaram o avião presidencial, no dia 30/12/2022, para evadir do país os bens de alto valor desviados, levando-os para os Estados Unidos da América e, na sequência, os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami/FL, Nova Iorque/NY e Willow Grove/PA", reforçou o ministro do STF.