Policiais federais prenderam dois empresários do Distrito Federal na manhã desta quinta-feira (29), durante a 25ª fase da Operação Lesa Pátria, que apura os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Sócios-proprietários de uma rede de supermercados, segundo a investigação, eles financiaram o acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) montado ao redor do Quartel General do Exército. Também estiveram várias vezes com o grupo que pedia intervenção militar e estiveram na Esplanada dos Ministérios durante a invasão e depredação dos prédios públicos.

Donos da rede Melhor Atacadista e das empresas Garra Food Solutions, Canal Distribuição e Marcas , Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade prestaram depoimento à I dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que, paralelamente à I Mista do Congresso, apurou os atos de 8 de janeiro e outros episódios que antecederam os ataques a invasão e invasão aos prédios públicos.

Foi do QG do Exército que saiu a maioria dos participantes dos atos de 8 de janeiro. De lá também saíram os três homens condenados por tentar explodir uma bomba sob um caminhão carregado de combustíveis que aria o aeroporto da capital federal na véspera do Natal de 2022. Também estavam concentrados no mesmo acampamento os envolvidos na tentativa de invasão à sede da PF, dias antes, que resultou em uma quebradeira na área central de Brasília.

Empresários estiveram no QG, na Esplanada e fizeram doações para acampamento

Os empresários itiram que foram ao acampamento e até contribuíram com doações de alimentos. Além de ir ao acampamento “umas três vezes”, Joveci reconheceu que esteve na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro e participou de atos contra instituições democráticas no QG do Exército, após integrantes da I exibirem, em um telão, fotos dele em uma dessas manifestações e em meio a extremistas durante as invasões e depredações às sedes dos Três Poderes da República.

Já Adauto afirmou, em depoimento na I dos Atos Antidemocráticos que fez apenas três doações “pequenas” para os bolsonaristas acampados em frente ao QG do Exército, onde disse ter ido “três ou quatro vezes” e “bem rápido”. Também confirmou ter dado R$ 10 mil à campanha de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro. 

No entanto, um relatório da Polícia Civil do DF, citado por deputados distritais, e vídeos produzidos pelo próprio empresário e exibidos no telão do plenário da Câmara Legislativa durante o seu depoimento, mostram que ele ajudou o movimento bolsonarista com muito mais do que três “pequenas” doações. Também o confrontaram com a declaração de que não tinha participado de atos na Esplanada dos Ministérios. Ele acabou confirmando no depoimento que esteve no local em 8 de janeiro, assim como seu sócio. 

A Polícia Civil do DF apresentou provas de que a dupla, além de comida e água, bancavam parte dos banheiros químicos instalados em frente ao QG do Exército, para uso dos bolsonaristas que frequentavam o acampamento contra a vitória de Lula. 

A I da Câmara Legislativa recomendou, no ano ado, o indiciamento da dupla por incitação ao crime e associação criminosa. O relatório final do colegiado apontou evidências de que teriam financiado a estrutura do acampamento em frente ao QG do Exército.

Em nota, sobre a operação desta quinta-feira, a defesa dos dois sócios diz que não teve o à decisão judicial, e que "os investigados veem agora a oportunidade de elucidar completamente as questões em aberto".

"Eles reiteram seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito, o respeito às Instituições, ao processo eleitoral, ao Ministério Público e ao Judiciário, com especial ênfase na sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal", diz a nota.

Agentes apreendem euros, dólares e armas

Agentes foram às ruas nesta quinta-feira com 34 mandados judiciais, sendo 24 mandados de busca e apreensão, 3 mandados de prisão preventiva e 7 de monitoramento eletrônico para cumprir no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

Além disso, foi determinada a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados. Apura-se que a quantia dos danos causados ao patrimônio público possa chegar à cifra de R$ 40 milhões.

Durante as buscas realizadas nesta quinta-feira, agentes encontraram e apreenderam cerca de 110 mil dólares e 26 mil euros com um dos alvos de buscas em Tocantins.

As ordens judiciais foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.