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Guilherme Frossard

Mineiro de BH, jornalista graduado pela PUC-MG, com uma década de experiência na cobertura do esporte mineiro, na TV e na Internet. Colunista e torcedor do Clube Atlético Mineiro - nessa ordem.

OPINIÃO

Time sem vergonha ou time da virada?

Galo foi do inferno ao céu em jogo à flor da pele na Arena MRV; afinal, o torcedor tem razão ou exagerou na corneta?

Por Guilherme Frossard
Publicado em 12 de maio de 2025 | 19:08

Em um minuto, o atleticano saiu do canto de “time sem vergonha” pro canto de “o Galo é o time da virada, o Galo é o time do amor” ontem, na Arena MRV. É claro que o torcedor é ional e tem seu comportamento direcionado pelo que acontece em campo, mas agora, de cabeça fria, o que dá pra gente concluir sobre esse intenso Atlético 3 x 2 Fluminense? Vamos lá.

Já começo discordando do Cuca quando ele diz que o time vinha jogando bem. Não vinha. Antes do Flu, foram três vitórias em 13 jogos. Imediatamente antes, vale lembrar, o Atlético conseguiu perder pro lanterna do Campeonato Chileno na Sul-Americana. A relação time e torcida já não está das melhores, prova disso é o público de 25 mil pessoas no jogo de reinauguração do nosso estádio, mesmo com 40 mil bilhetes à venda.

Quem foi à Arena no domingo esperava um jogo convincente do Atlético. O primeiro tempo foi muito travado, sem chances claras pros dois lados, e logo no início da etapa final o Galo toma um gol numa falha individual de Lyanco, um dos melhores jogadores do time. Nos 20 minutos seguintes, pouquíssimos insumos pra acreditar na virada. Ali veio o coro de “time sem vergonha”.

Time sem vergonha, pra mim, não é time que joga mal, e sim time que não corre, que não tem compromisso pela camisa que veste. E não era esse o problema ontem. Acontece que, pós-elitização do futebol (e o Atlético é só mais um neste processo), o público nos estádios é cada vez mais consumidor (e menos torcedor). A maioria vai para ver o time ganhar, e não pra fazer o time ganhar.

Aquele cara que joga junto o tempo todo, que apoia no bom e no mau momento e que espera o apito final pra manifestar sua insatisfação está cada vez mais distante do palco do jogo (por razões que, de tão óbvias, eu não preciso listar). O público de hoje paga mais, mas também cobra mais e apoia menos. E repito: não é um fenômeno que só o Galo observa.

Ou seja, a grosso modo, não é mais a torcida que a a energia que o time precisa pra ganhar. Claro que isso ainda acontece, mas menos. Num geral, é o time que precisa ar desempenho pro torcedor empolgar. Foi o que aconteceu ontem a partir do gol de Rubens.

O camisa 44 fez um golaço e, segundos depois, quem cantava “time sem vergonha” já estava cantando que o Galo é o time da virada e o time do amor. É assim que funciona. É o novo normal. Precisamos entender isso pra não sofrer e pra levar com harmonia esse processo, que é irreversível.

Dito tudo isso, vinha faltando bola, de fato. Ontem, inclusive. Os caras mereceram uma "sacudida". Mas não tem jeito, o Galo é o time da virada e o time do amor. Tomara que essa vitória maluca, com a cara do Atlético, seja um marco de uma nova fase, de mais alegria, mais festa e menos corneta.

Saudações.