GARIBALDI (RS) - Não existe qualquer tipo de riqueza ou dinheiro que diferencia pessoas na fúria da natureza. No fim, todos precisam recomeçar. É assim que o motorista de aplicativo e apicultor Eduardo Postingher, de 47 anos, define o sentimento daqui para frente.

"Independente da situação social e econômica de cada um, uma enchente dessas proporções e a morte, elas igualam as pessoas”, disse em entrevista à reportagem de O TEMPO. “Você tem tudo, mas você perde tudo. Os seus bens, o seu sofá, o seu diamante. Está tudo perdido".

Ele e sua mãe, Helena Postingher, de 74 anos, perderam o que tinham dentro de uma casa alugada no bairro Mathias Velho, em Canoas, no Rio Grande do Sul. A região foi inundada por fortes chuvas que assolam o Estado desde o fim de abril. 

Eduardo lembra que foi acordado por um vizinho sobre a subida da água por volta de 6h30 da manhã no dia 4 de maio. “Ele pediu que a gente saísse porque a água estava a menos de duas quadras”, disse, contando que o alerta inicial era de que metade do bairro seria atingido.

“Quando o vizinho nos acordou, eu não acreditei, inclusive fui eu mesmo verificar a avenida. E eu me assustei quando vi aquilo. Eu só vi um caminhão de gente subindo, ônibus com gente lotado, as pessoas correndo, caminhando, olhando para o nada porque não acreditavam no que estavam vendo”.

Eduardo Postingher e a mãe, Helena, saíram às pressas da casa alugada onde moravam. FOTO: Rodney Costa / O TEMPO

"Foi só dar tempo de recolher algumas coisas, alguns pertences, entrar no carro na garagem e ficar na rua. Nós saímos por volta de 9h e a água começou a invadir. A fúria era muito grande e em questão de 20 minutos a água tomou conta do pátio e já começou a invadir a casa”, relatou, contando que também conseguiu salvar a cuia, a térmica e o mate para o chimarrão.

Já com a inundação, ele acredita que a água subiu cerca de dois metros dentro de casa. “E ela está lá, parada. [...] “Tudo o que estava lá dentro foi perdido”, lamentou. “É uma situação que nunca tinha ocorrido. Só quem viu e vivenciou sabe o quão desesperador é isso quando acontece.”

Além de perderem parte de suas histórias, essas pessoas atingidas também viram debaixo d’água parte do sustento. As abelhas de Eduardo na profissão de apicultor, além do material, estão em local seguro. “Eu só não consegui tirar o mel porque tinha 15 dias, 20 dias com muita chuva. Então não dava para colher.” 

Logo após as enchentes, Eduardo e mãe fizeram uma peregrinação em busca de abrigo, em situação semelhante à de milhares de gaúchos. Primeiro, procuraram familiares que também tiveram que deixar suas casas. Por fim, ficaram uma semana na casa de uma amiga. 

Agora, estão em Garibaldi, cidade na Serra Gaúcha distante pouco mais de 100 km de Canoas. Nos primeiros dias, no fim de semana dos dias 11 e 12 de maio, os dois ficaram em um hotel. Já na segunda-feira (13), foram na imobiliária buscar as chaves de uma casa da família, mas estava alugada há pouco tempo.

"A casa está vazia. A gente vai agora comprar algumas coisas, o básico do que precisa”, explicou. “A gente até tem uma reserva, mas que iria para outras coisas. A gente nunca imaginou que teria que usar desse jeito”.

Em meio à tentativa de fugir da morte, uma das preocupações foi com sua mãe. “Eu, com condições, consigo [sair]. Tenho saúde, tenho agilidade, força e a gente consegue recuperar. Dos idosos a gente tem que cuidar para que eles fiquem em segurança e não fiquem abandonados”, frisou.