SAÚDE

Trabalhadoras sedentárias: dupla jornada impede mulheres de se exercitarem

Entre as mais de 5.000 trabalhadoras brasileiras ouvidas em pesquisa recente, 65% não praticam atividade física

Por Jonatas Pacheco e Pedro Faria
Publicado em 14 de junho de 2024 | 05:00

Em uma rotina que envolve trabalho, trânsito, tarefas domésticas, estudo, filhos e cuidado com parentes, nem sempre sobra tempo para as mulheres se dedicarem à própria saúde e ao bem-estar pessoal – na verdade, quase nunca. Uma pesquisa feita pelo Instituto Pipo Saúde aponta que 65% das trabalhadoras no Brasil não praticam atividade física. Mais de 5.000 mulheres foram ouvidas pelo estudo, divulgado em maio.

Entre as causas que levam as mulheres ao sedentarismo estão acúmulo de funções, longas jornadas de trabalho e aumento da cobrança, como aponta a cardiologista Eliana Pires, do Hospital Felício Rocho.

“Esse número está inserido em um contexto da mulher na linha de frente da força de trabalho do lar. Principalmente mulheres de baixa renda. Mulheres que enfrentam dupla jornada, que têm que encarar o trabalho fora de casa, voltar e cuidar do lar, dos filhos. Por mais que essa ‘obrigação’ tenha diminuído no contexto social que vivemos, ainda é uma realidade para muitas”, disse.

"A mulher também tem o direito de cuidar da própria saúde. É cada vez mais necessário que o homem tenha participação no cuidado da casa. Às mulheres: separem um tempinho para buscar uma orientação profissional e realizar uma atividade que ajude a alcançar os objetivos da melhor forma possível", completou.

É esse o cenário que enfrenta todos os dias a balconista Jéssica Viotte, de 28 anos. Ela tem duas filhas, de 13 e 2 anos, e mora no Conjunto Esperança, na região do Barreiro, em BH. Jéssica precisa sair de casa às 4h30 para trabalhar e só volta às 14h. “Assim que chego em casa, tenho que cuidar das minhas filhas, ajudar nas tarefas da escola, arrumar a casa e fazer janta para o meu marido, que chega às 18h. A gente come, toma banho e já vai dormir, porque todo mundo acorda muito cedo”, contou.

Jéssica observa que a falta de atividade física já vem cobrando um preço: “Tenho sobrepeso e sou hipertensa. Sei que preciso fazer atividade física para cuidar da minha saúde, mas a rotina puxada acaba sendo empecilho”.

Fazer exercício físico previne doenças e agrega bons hábitos 

Um dos principais benefícios de praticar uma atividade física é prevenir e controlar problemas de saúde, entre eles doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer. E para quem ainda não encontrou um exercício ideal, a cardiologista Rafaela Anselmo dá um conselho.

“Encontre algo que goste, seja caminhada, corrida, musculação ou dança. Começar um bom hábito vai puxar outros bons hábitos, como melhorar a alimentação e também a qualidade do sono”, garante.

O educador físico Roberth Resende deu alguns exemplos de como sair do sedentarismo é uma iniciativa benéfica para a saúde. “A pessoa (que pratica atividade física) a a melhorar a qualidade de vida, do sono, a a ser mais bem humorada, sente menos dores, ganha massa muscular e aumenta a auto estima. Só tem ponto positivo”, explica o especialista.

Projeção alarmante

Entre 2020 e 2030, quase 500 milhões de pessoas vão desenvolver doenças cardíacas, obesidade ou outras condições atribuídas à inatividade física. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Alerta ligado no brasil

No Brasil, a cada ano, cerca de 300 mil pessoas morrem devido a doenças associadas ao sedentarismo. O país é considerado o mais sedentário da América Latina e é o quinto no ranking mundial.

Deixe o sedentarismo de lado
Créditos: Editoria de Arte / O Tempo