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Belo Horizonte tem 28 mil pacientes na fila de espera para cirurgias eletivas
Nos hospitais da Fhemig, contratação de anestesistas é principal obstáculo

Cerca de 28 mil pessoas aguardam por uma cirurgia eletiva em Belo Horizonte. A capital é referência para ao menos 500 cidades do Estado. Entre as especialidades com maior tempo de espera estão a otorrinolaringologia e a ortopedia, segundo o subsecretário de Atenção à Saúde da Prefeitura de BH, André Menezes.
Sandra Helena Ferreira do Anjos, 63, aguarda há dez anos para realizar uma cirurgia na mão. O caso dela é complexo já que, no Estado, há só 99 médicos especialistas em cirurgias de mão atendendo na rede SUS, segundo dados conseguidos pela reportagem via Lei de o à Informação (LAI), em janeiro deste ano. Ela sofre com a síndrome do túnel do carpo — uma compressão de um nervo do pulso. “Minha mão direita fica completamente inchada, e a dor piora à noite”, conta.
Sandra esbarra na dificuldade de fazer exames que precedem a cirurgia e, mesmo trabalhando como agente de saúde, não consegue avançar no tratamento. “Muitas vezes, vamos à casa do paciente informar que o exame foi autorizado, e ele já faleceu”, diz.
Segundo Menezes, em alguns casos, o paciente até consegue chegar a um especialista em um dos nove Centros de Especialidades Médicas (CEM) da cidade ou em uma das cinco Unidade de Referência Secundária (URS), mas não consegue marcar o exame. Ele exemplifica com casos de pacientes que se consultam com cardiologistas, mas demoram a fazer o ecocardiograma e têm o tratamento travado.
Para o médico e ex-secretário de Saúde de BH, Jackson Machado, a saída seria a descentralização da saúde. “Muitos dos procedimentos de maior complexidade são feitos apenas em Belo Horizonte. Prótese de quadril, por exemplo, se houver três municípios no Estado que fazem, é muito. Mas os procedimentos de menor complexidade, se conseguirmos descentralizar, evita esse fluxo de pessoas do interior que sobrecarrega a capital. É preciso fazer parcerias com hospitais”, diz.
Ele lembra que a distribuição seria importante para reduzir a fila e os gastos, já que o município sofre com outros custos em função da compra de insumos importados na área da saúde, ou seja, cotados em dólar. Enquanto não ocorre a descentralização, a PBH tenta reduzir a espera por cirurgias eletivas tirando dinheiro dos próprios cofres ao pagar valores mais altos do que tabela do SUS. O intuito é atrair especialistas para a rede composta por 22 hospitais conveniados, além de dois próprios. A expectativa é que 2024 termine com 40 mil cirurgias realizadas.
Mesmo com o maior investimento, as cirurgias ligadas à otorrinolaringologista ainda são um problema. A PBH paga pelas cirurgias mais procuradas, como retirada de amídalas e adenoides, o mesmo valor que os planos de saúde e não consegue zerar a fila. “Hoje não têm tantos otorrinos no mercado, e há uma concorrência com relação aos blocos cirúrgicos. Procedimentos que demoram menos tempo acabam sendo mais feitos”, diz.
Na rede de hospitais da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), um gargalo é a contratação de anestesiologista em função do aquecimento do mercado. Segundo o órgão, essa situação se agravou após a pandemia de Covid-19, em 2020. O profissional é imprescindível para a realização de procedimentos cirúrgicos diversos.
A SES-MG disse ter investido R$ 120 milhões de janeiro a maio de 2024, e a previsão é que, até o fim do ano, sejam reados mais R$ 252 milhões aos municípios para equipar os hospitais e fortalecer a política Opera Mais. No primeiro trimestre de 2024, forma realizadas cerca de 190 mil cirurgias eletivas no Estado. O Ministério da Saúde foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos enviados.
Programa vai avançar em teleconsultas
A dificuldade para se conseguirem exames pode ser reduzida com o programa Mais o a Especialistas, do governo federal. A ideia é garantir aos pacientes a resolutividade de toda a sua condição. “O projeto vai garantir que, para receber o valor financeiro, o prestador de serviço entregue toda a linha de cuidados do paciente desde a consulta aos exames”, explica o subsecretário de Atenção à Saúde da Prefeitura de BH, André Menezes. Há uma semana, BH fez o credenciamento junto ao Ministério da Saúde. A expectativa é que a iniciativa se torne realidade no município em setembro.
Para o coordenador de Vigilância em Saúde da Macrorregião Oeste, Alan Rodrigo da Silva, o projeto pode reduzir a pressão na rede. “Atualmente, a resolutividade na rede primária é de 50%. O ideal é chegar aos 70% para que só os casos que necessitem sejam encaminhados para especialistas. O modelo previsto no projeto do governo vai avançar nas teleconsultas porque, na unidade de saúde, o médico generalista vai acompanhar consultas online dos pacientes com um especialista, sem deslocamento. Os diagnósticos sairão mais rápido”, diz.
Uma sorte que o motorista de aplicativo Everton Pablo, 36, morador de Contagem, na Grande BH, não teve. Ele aguarda, desde o início do ano, uma cirurgia para correção da retina do olho direito. A necessidade da intervenção foi descoberta por um exame, custeado por ele na rede privada, após enfrentar demora para realizar a análise na rede pública.
“Disseram que poderia demorar até um ano. Eu não podia esperar”, diz Everton. Mas pagar pela cirurgia não é uma possibilidade. “É um valor exorbitante. A fila está gigante, e eu tenho que aguardar. Meu medo é perder a visão a qualquer momento. Aí não vai adiantar nada eu ter esperado esse tempo todo”, desabafa.
Pior índice de médicos da região Sudeste
Minas Gerais é o Estado do Sudeste com o pior índice de médicos por mil habitantes, segundo pesquisa divulgada pela Associação Médica Brasileira. O estudo “Demografia Médica no Brasil 2023” mostrou que Minas Gerais tem 2,91 médicos a cada mil pessoas. No Espírito Santo, esse índice é de 3; em São Paulo, é de 3,5; e no Rio de Janeiro, o número chega a 3,77. Esse levantamento mostrou ainda que a situação é ainda mais difícil para quem vive longe dos grandes centros. Nas capitais brasileiras, a média de profissionais a cada mil pessoas é de 6,13. Nos interiores, a a ser 1,84, índice três vezes menor.