DOENÇAS RESPIRATÓRIAS

Covid mata 1 mineiro a cada 29 horas, e um terço da população não completou a vacinação

Infecção ainda infla a demanda por leitos; BH, Contagem e Betim estão em situação de emergência por doenças respiratórias

Por Isabela Abalen
Atualizado em 02 de maio de 2025 | 11:59

A covid-19 é uma das doenças respiratórias que estão lotando prontos atendimentos e aumentando a demanda por leitos nas redes pública e privada de saúde de Belo Horizonte e da região metropolitana neste outono. A infecção, que marcou uma pandemia mundial há cinco anos, continua sendo transmitida da mesma forma que a influenza e a bronquiolite (vírus sincicial respiratório, o VSR) e, desde o início de 2025, já matou 98 pessoas em Minas Gerais. A média é de uma vida perdida por covid a cada 29 horas, segundo dados da Vigilância Epidemiológica do Estado. Na avaliação de especialistas, a baixa cobertura vacinal dificulta o controle da doença em um ano em que as infecções respiratórias já levaram Belo Horizonte, Contagem e Betim a decretarem situação de emergência.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), mais de 13,6 mil casos de covid-19 foram confirmados neste ano até o dia 28 de abril. A média é de quase 120 diagnósticos por dia — transmissões que podem ser fatais para o público-alvo da vacinação: idosos, gestantes, crianças menores de 5 anos e pessoas imunossuprimidas.

Mas a cobertura vacinal ainda é baixa: apenas 43,98% dos mineiros completaram o ciclo com as doses de reforço das vacinas monovalentes. Com a dose de reforço da vacina bivalente, a adesão é ainda menor — 19,27% da população foi imunizada. Ou seja, considerando os dois tipos de reforço, cerca de um terço da população não completou a imunização. Os dados são do Vacinômetro da Covid-19, monitorado pela SES-MG.

“A busca pela vacinação está aquém do esperado, mesmo com a vacina disponível nos postos de saúde. As pessoas relaxaram, e muitas ainda estão enganadas por informações falsas. Quando as mais vulneráveis — com idade avançada ou comorbidades — não reforçam a imunização a cada seis meses, estão mais propensas a se infectar, ter complicações e morrer. Noventa e oito mortes por covid em 2025 ainda são trágicas”, alerta o infectologista Unaí Tupinambás.

De fato, os idosos foram os que mais demandaram atendimentos e leitos por doenças respiratórias na rede privada nas últimas duas semanas de abril, segundo a Unimed-BH, responsável pela maioria dos planos de saúde de Belo Horizonte e da região metropolitana. A procura por atendimentos de urgência cresceu 65%, e a de internações, 32%, entre a população com 60 anos ou mais.

Na avaliação do médico infectologista Leandro Curi, mineiros que não completaram o ciclo vacinal, mesmo fora do grupo de risco da covid, também contribuem para a transmissão da doença. “Em épocas de alta circulação de doenças respiratórias, quanto mais pessoas infectadas, mais a covid se espalha. Quem não está vacinado pode transmitir o vírus para os grupos de risco, justamente aqueles que têm mais chances de desenvolver complicações e de morrer em decorrência da infecção. Por isso, a baixa cobertura vacinal compromete toda a população”, afirma.

Curi alerta ainda para a possível subnotificação da covid, que pode ar despercebida entre as demais doenças respiratórias, como o resfriado e a influenza. “O vírus tem evoluído por meio de variantes mais transmissíveis, como a Ômicron e suas derivadas, mas que apresentam, na maioria das pessoas, sintomas semelhantes aos de um resfriado. Essa maioria já não faz mais a testagem, trata com fármacos e se recupera. Sem diagnóstico, não há notificação”, acrescenta.

Número de infecções deve continuar a crescer 

A temporada de outono-inverno só termina em setembro. Ou seja, o período de baixas temperaturas — que favorecem a transmissão de doenças respiratórias — ainda se estende por cerca de cinco meses. A Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu alerta para frio abaixo da média até quarta-feira (7 de maio), e a capital já registrou recordes no ano, com mínimas em torno de 13 °C. Diante desse cenário, o infectologista Unaí Tupinambás alerta que os casos de covid-19 e outras infecções respiratórias, como influenza e bronquiolite, tendem a continuar crescendo.

“O outono ainda está no começo, e as redes assistenciais já operam no limite, com cidades em situação de emergência. Com a circulação de vírus e a baixa cobertura vacinal deixando a população desprotegida, o número de casos tende a aumentar nos próximos meses”, afirma.

Qual a orientação atual para vacinação contra covid-19? 

Os imunizantes contra a covid-19 fazem parte do calendário básico de vacinação para pessoas com mais de 60 anos, gestantes e crianças de 6 meses a 5 anos. O Ministério da Saúde também incluiu outros grupos como público prioritário, entre eles imunocomprometidos e trabalhadores da saúde.

Para o restante da população, neste momento, não há orientação para a aplicação de novos reforços da vacina — mas quem ainda não completou o esquema vacinal pode fazê-lo.

Crianças: Ter entre 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias na data da vacinação.
Pessoas com 60 anos ou mais: 2 vezes ao ano, com intervalo de 6 meses
Gestantes: 1 vez durante a gravidez
Outros: Não ter tido covid-19 com início de sintomas nos últimos 30 dias.

Confira as recomendações para a prevenção de doenças respiratórias:

Higiene das mãos: lave com frequência por pelo menos 20 segundos com água e sabão. Na ausência, utilize álcool em gel 70%.
Evite tocar o rosto: principalmente olhos, nariz e boca, que são portas de entrada para os vírus.
Uso de máscara: recomendado em locais fechados ou de grande circulação e ao apresentar sintomas respiratórios.
Vacinação: mantenha o calendário vacinal em dia, especialmente contra gripe e covid-19.
Etiqueta respiratória: cubra o nariz e a boca com o antebraço ou lenço descartável ao tossir ou espirrar. Descarte o lenço e higienize as mãos imediatamente.
Ambientes ventilados: mantenha janelas abertas sempre que possível para garantir boa circulação de ar.
Evite aglomerações: mantenha distância segura em locais públicos e evite contato direto com pessoas doentes.
Desinfecção de superfícies: limpe objetos e áreas de contato frequente, como celulares, maçanetas e bancadas.

Fonte: Unimed-BH