H5N1

Minas confirma caso de gripe aviária na Grande BH e governo decreta emergência sanitária

As medidas de monitoramento, as ações preventivas e análise de riscos serão realizadas em cooperação entre setores privado e público, diz governo

Por Simon Nascimento
Atualizado em 27 de maio de 2025 | 15:52

Minas Gerais confirmou, nesta terça-feira (27), um foco de gripe aviária. A identificação ocorreu em três aves ornamentais, em um sítio de Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em função da identificação, o governador Romeu Zema (Novo) decretou emergência sanitária, em edição especial do Diário Oficial. 

"As medidas de monitoramento, as ações preventivas e a análise de riscos da IAAP serão realizadas em cooperação com o setor privado e o poder público, observados os princípios e as diretrizes estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, bem como os protocolos sanitários estabelecidos na legislação vigente", diz o texto publicado pelo chefe do Executivo. O decreto tem validade de 180 dias. 

De acordo com o de monitoramento de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o foco se deu em uma espécie de cisne negro. Em vídeo enviado à imprensa, o vice-governador, Mateus Simões (Novo), disse que o contágio aconteceu pela agem de aves migratórias.

"É um risco que infelizmente acontece. E repito, todas as providências estão sendo tomadas. Todos os recursos físicos, estruturais e financeiros estão já à disposição das nossas autoridades sanitárias e não há qualquer risco no consumo de carne ou de ovos", detalhou Simões. 

À reportagem, o prefeito de Mateus Leme, Renílton Coelho (Republicanos), informou que o vírus foi identificado além do cisne negro, em dois gansos. As suspeitas surgiram no dia 16 de maio, quando os animais foram encontrados mortos e recolhidos para exames laboratoriais. O Executivo municipal monitora, agora, os humanos que vivem no sítio e que podem ter tido algum contato com os animais infectados. 

Esse monitoramento será feito por dez dias, para observar se houve manifestação de sintomas. "Todas as medidas sanitárias já estão sendo tomadas, quero tranquilizar a população que não existe risco comunitário", disse Coelho. O prefeito reforçou que não há risco às granjas do município e que, do ponto de vista econômico, não há impactos à cidade. "É uma atividade que não tem muita relevância econômica aqui", completou. 

Medidas sanitárias

O caso não é o primeiro registrado em Minas. Em 2023, houve uma confirmação em um pato de vida livre, também diagnosticado com Influenza Viária de Baixa Patogenicidade (H9N2). Desta vez, trata-se de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). 

Em nota, o Executivo informou que as medidas integram o Plano de Contingência da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), firmado entre União, Estados e setor produtivo. O documento foi editado em 2022, quando surgiu o primeiro foco da doença na América do Sul. 

"Até o momento, não há qualquer comprometimento da produção avícola do estado", frisou o governo. Conforme o Executivo, as ações de monitoramento e prevenção incluem medidas de biosseguridade das granjas comerciais, políticas de educação sanitária e vigilância nas propriedades classificadas como risco, cadastro e vistoria em criatórios de subsistência, além de ações sanitárias em eventuais áreas de foco da doença.

"A transmissão das aves para os humanos não é comum, mas pode ocorrer em pessoas expostas a uma grande carga viral ou que estejam com baixa imunidade. A Influenza Aviária não é transmitida pelos alimentos, desde que esses sejam bem cozidos", completou o governo mineiro. 

Economia

A reportagem procurou a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig) para comentar sobre a identificação do foco da doença no Estado. A entidade, no entanto, afirmou que os posicionamentos serão esclarecidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e por comunicados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). 

"Essa decisão visa garantir que as informações sejam readas de forma mais precisa e oficial, já que esses órgãos estão diretamente à frente da situação", disse o diretor técnico da Avimig, Gustavo Ribeiro. A ABPA, por sua vez, em comunicado publicado na semana ada, reforçou que não há risco de contaminação pelo consumo de carne de frango e ovos.

"O preparo correto é o principal fator de segurança alimentar para qualquer situação sobre os alimentos", diz a ABPA, que também orienta a população a seguir medidas no preparo e manejo, como cozinhar completamente carnes e ovos, evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos e higienizar as mãos e utensílios após o preparo dos alimentos.

"Com base em evidências científicas e nas recomendações das autoridades sanitárias nacionais e internacionais, o consumo de carne de frango e ovos no Brasil é, sempre foi e permanecerá seguro", assegurou a entidade. 

Na semana ada, O TEMPO mostrou que um estudo da Fundação João Pinheiro (FJP) calculou que Minas Gerais pode perder quase R$ 1 bilhão em receitas com a queda nas exportações de carnes de frango em função do foco de gripe aviária identificado no Rio Grande do Sul na semana ada.

A pesquisa projetou uma queda entre 8,7% a 27% nas comercializações ao exterior dos pacotes de carnes de frango produzidos no estado. O estudo foi feito considerando a manutenção do cenário por um ano e sem levar em consideração o caso em Minas.

A doença 

A gripe aviária voltou ao foco no Brasil nas últimas semanas, com a confirmação de um foco da doença em uma granja comercial de Montenegro, no Rio Grande do Sul. O estado gaúcho ainda tem outro foco confirmado em um zoológico de Sapucaia do Sul. 

Com as confirmações, o Brasil sofreu embargos comerciais de mais de 60 países, como China e integrantes da União Europeia, que suspenderam as exportações brasileiras de carnes de frango. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou que finalizou, na semana ada, a desinfecção da granja comercial de Montenegro onde o primeiro foco foi identificado. 

Após esse processo, a União pode declarar o país como área livre da gripe aviária em 28 dias, desde que não haja novos focos da doença. 

Mercado

O Brasil é o maior exportador de carnes de frango do mundo. A China é o principal destino das exportações do Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do total de 5,16 milhões de toneladas de carnes de frango enviadas a outros países em 2024, mais de 562 mil toneladas, 17,65% do total, desembarcaram na China.

Em seguida, no segundo lugar no ranking de compradores, estão os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram mais de 455 mil toneladas. A União Europeia, que aplicou embargo à carne de frango brasileira, é a sétima maior compradora, com 231.890 toneladas. As transações brasileiras ao exterior no ano ado somaram US$ 9,93 bilhões, segundo a ABPA.