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'Homem com H' acerta ao transformar temáticas espinhosas em força para conquistar diversos públicos
Cinebiografia sobre Ney Matogrosso é bem-sucedido também na seleção de Jesuíta Barbosa para o papel principal
Além de alguns ingredientes como a forte musicalidade e a questão da repressão militar na década de 1970, "O Homem com H" tem em comum com "Ainda Estou Aqui" - ganhador do Oscar de melhor produção internacional, em março ado - uma vocação para encontrar públicos diversos apesar de as temáticas parecerem um pouco espinhosas.
A cinebiografia sobre o cantor Ney Matogrosso, em cartaz a partir desta quinta-feira (1º) nos cinemas, consegue ir muito além do artista que escandalizou ao assumir o vigor de seu corpo nu, exalando uma forte sexualidade em suas apresentações. Por mais que explore a persona escandalosa de Ney, há também o dono de valores que são bastante próximos a qualquer espectador.
O diretor e roteirista Esmir Filho acerta ao estabelecer como epicentro do longa a relação do cantor com o pai conservador, um sargento militar que, logo nas primeiras sequências, bate no filho pequeno por ele simplesmente não querer chorar. Esse embate se torna a força-motriz para o futuro artista querer se distanciar de casa e viver seus sonhos livremente.
O filme mostra que esse desejo é uma via de mão dupla, porque sempre, de alguma forma, o filho de Antônio Matogrosso está retornando ao genitor, física e emocionalmente. Antônio se presentifica não só pelo sobrenome artístico adotado por Ney, mas também na razão do sucesso: teimoso como pai, ele não abriu mão de suas escolhas, ainda que não fosse bem-sucedido em algumas delas.
Esse espelhamento conduz a narrativa de "Homem com H" e certamente provocará identificação na plateia sobre os conflitos geracionais, as relações familiares e a necessidade de saber expressar seus sentimentos. Curiosamente, em "Ainda Estou Aqui", é a presença (e depois a ausência) do pai que marca os acontecimentos, destacando a harmonia familiar como antídoto à repressão.
Os dois filmes optam por esse caminho não como uma concessão ao grande público, mas dirigindo um aceno a questões que não podemos desviar, por fazerem parte de nossa essência e de nosso entendimento como seres humanos. Mesmo quando Ney vive um certo desbunde sexual, a figura paterna continua ali, sob o guarda-chuva dos afetos que povoam a vida do cantor.
Outro elemento que diferencia o filme de outras cinebiografias sobre nomes da música é que não se vê um personagem preso às marés de acontecimentos históricos. Ney Matogrosso atravessa décadas não deixando abater o seu talento e a personalidade pelos fatos, driblando com humor a ditadura e dando valor à vida quando perde amores (Cazuza entre eles) para a Aids.
Um dos melhores momentos é quando a história chega à metade dos anos de 1980 e mostra o início da epidemia no Brasil, com um protagonista mais maduro e seguro de seu lugar, evidenciado pelo convite de Cazuza para dirigi-lo em seu último show. A atuação de Jesuíta Barbosa também fica mais contida, em contraponto à postura inusual e aos olhares sempre inconsequentes.
Jesuíta parece ter sido feito para o papel. Não se poderia esperar algo diferente para quem fez "Tatuagem" e "Praia de Futuro", filmes fortes e que também exigem um grande esforço físico de composição. O ator cearense é exitoso ao mostrar Ney como o "homem-bicho" e, assim como o cantor, não tem pudor em exibir o corpo desnudado como fonte de grande exuberância.