BRASÍLIA - O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) chamou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de “bandido” em sessão do Conselho de Ética da Câmara nesta quarta-feira (28). Segundo Glauber, “quem articula o sequestro de bilhões do Orçamento público brasileiro, como tem feito o senhor Arthur Lira, é um bandido”. Lira ainda não respondeu a declaração.
A referência foi à destinação de emendas parlamentares. “Em um dia, o sujeito desloca bilhão para cá, bilhão para lá”, continuou. A confusão começou na análise da issibilidade de uma denúncia contra Glauber por chutes e empurrões disparados a um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) dentro da Câmara, em abril deste ano.
O relator do caso, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), defendeu o avanço do processo no colegiado, quando Glauber declarou que o relatório “deveria ter a de Arthur Lira”. De acordo com o deputado, houve uma “armação” para que o caso dele fosse analisado no mesmo dia do pedido de cassação contra o deputado Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), suspeito de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol).
“O senhor montou esse relatório a partir de uma articulação direta do presidente da Câmara, senhor Arthur Lira. E fizeram isso com indícios evidentes de crueldade. Fizeram uma armação política para que o relatório fosse realizado no mesmo dia da votação onde vocês ficaram conjuntamente no Conselho de Ética sem ter como dar salvamento à família Brazão por tudo o que dispõe a opinião pública”, declarou Glauber.
O deputado alvo do processo disse que estava direcionando a fala ao relator, a quem desafiou a provar que não houve articulação de Lira na data de liberação do relatório para votação. “Já está mais do que evidente para mim a armação que está aqui colocada. Não tem ninguém inocente aqui, não tem ninguém que não perceba o que se fez”.
Glauber completou que Lira “trabalha há bastante tempo” para tirá-lo da Câmara, e que "seria mais digno” se tivesse a do presidente da Casa legislativa no relatório”.
“Esperavam, com essa ameaça, que eu iria ficar agradando deputado e pedir a benção ao senhor Arthur Lira. Não vou. Não vou pedir benção ao Arthur Lira, não vou pedir desculpas ao MBL, que é uma organização criminosa. Se precisa de alguém no exercício do mandato parlamentar para dizer isso, eu estou aqui para fazê-lo”, disparou.
“Agora eu não vou expor essa posição por medo de Lira e companhia? Não vou. Se alguém tinha que perder o mandato para dizer isso, estou aqui à disposição para fazê-lo. Senhor Arthur Lira é um bandido que está na Presidência da Câmara dos Deputados”, continuou.
Veja o vídeo do momento:
O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) chamou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de “bandido” em sessão do Conselho de Ética da Câmara nesta quarta-feira (28). Segundo Glauber, “quem articula o sequestro de bilhões do Orçamento público brasileiro, como tem feito o… pic.twitter.com/QAuPevEfiV
— O Tempo (@otempo) August 28, 2024
O presidente do Conselho de Ética, deputado Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), chegou a pedir que Glauber focasse em fazer sua defesa na denúncia, mas se exaltou em seguida. “Não tem armação nenhuma nesse Conselho, eu peço respeito”, pediu.
Lomanto pediu que o microfone de Glauber fosse cortado se ele continuasse fazendo “ofensas” a Lira e ao colegiado e, diante da reação dos deputados presentes, declarou: “E peço que façam silencio, senão vou mandar retirar todo mundo. [...] Se ele estiver acusando o Conselho de Ética eu posso e vou cassar a palavra”.
Logo quando assumiu o microfone para sua defesa, Glauber disse que encontrou o relator em duas ocasiões, e que na segunda delas, Magalhães teria dito que "estava à disposição por ter visto a verdade nas minhas palavras”. O relator rebateu e disse que se tratava de uma mentira.
“Deputado Glauber Braga, a sua defesa lhe incrimina. [...] Vossa Excelência tem que respeitar essa instituição, respeitar se não a figura do homem Arthur [Lira], mas o presidente da Casa. E não sou eu que estou aqui para fazer defesa do presidente Arthur, eu não tenho procuração. Eu não quero lhe cassar, mas que Vossa Excelência merece, merece sim”, disse o relator.
Depois da confusão, um pedido de vista (mais tempo para análise do caso) adiou a votação do parecer. Se for aprovado, o relatório de Magalhães inicia o julgamento que pode punir Glauber. A pena mais severa é a de cassação do mandato.
A denúncia ao Conselho de Ética foi feita pelo Partido Novo, que alegou a quebra de decoro de Glauber. Em 16 de abril, o deputado expulsou o influenciador Gabriel Costenaro, integrante do MBL, da Câmara. Vídeos do momento mostram Glauber usando de chutes e empurrões para retirar Costenaro do prédio. Pouco antes, o integrante do MBL percorria gabinetes parlamentares fazendo lobby contra um projeto em debate que impacta motoristas de aplicativo.
De acordo com Glauber, Magalhães não incluiu no relatório que pede o avanço do caso no Conselho de Ética as ofensas disparadas pelo integrante do MBL contra ele. “O que eu já disse e repito: o sujeito do MBL foi, de maneira reiterada, fazer provocações que estão documentadas e que lamentavelmente, no relatório comprado do deputado Paulo Magalhães, não constam”.