Têm virado motivo de comentários no campo político a postura de enfrentamento assumida pela presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). Nos últimos dias, ela tem usado o X (antigo Twitter) para enviar recados em tom considerado nada conciliador, inclusive inflamando situações no campo político e internacional que auxiliares do governo tentam manter a “paz”.

As mensagens em tom duro foram direcionadas até mesmo aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pessoas com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta manter uma relação amistosa para conseguir aprovar projetos de interesse do governo. Principalmente, nesse momento, para aumentar a arrecadação e cumprir a meta fiscal de déficit zero nas contas públicas em 2024.

Em 31 de outubro, ela atacou uma proposta que obriga o governo federal a pagar emendas parlamentares de comissão. “Se o Senado quer mesmo contribuir para o equilíbrio fiscal, como disse ontem o presidente Rodrigo Pacheco, o pior caminho é o projeto de lei que torna obrigatório o pagamento de emendas de comissões temáticas. Uma coisa é apresentar emendas, direito e dever do parlamentar. Que aliás já tem cota bem generosa para pagamento obrigatório”, escreveu.

“O papel de executar o Orçamento é do Executivo, de forma planejada, pensando no país.  O projeto que está na CAE do Senado visa abocanhar alguns bilhões da União para atender interesses individuais”, acrescentou.

A publicação gerou resposta imediata de Pacheco, que geralmente se mantém reservado ao receber provocações. “Não sou autor e nem relator do projeto referido pela deputada, que deve ser discutido na comissão própria. Lembro que na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] do ano ado ponderei aos colegas que não colocássemos a impositividade nas emendas de relator, no que fui atendido”, rebateu.

O mineiro acrescentou ter “compromisso com a responsabilidade fiscal e o equilíbrio das contas públicas, o que a, inclusive, pela limitação do fundo eleitoral e o aperfeiçoamento das 'emendas Pix', criadas pela deputada”. A referência foi à modalidade de distribuição de recursos pelo Executivo sem critérios de transparência e com dificuldade na fiscalização por parte dos órgãos de controle.

Na última terça (7), o alvo foi Arthur Lira, que teve seu perfil marcado na publicação para não perder o recado. Ela subiu o tom depois que o chefe da Câmara falou em “subir o sarrafo” para limitar quem pode acionar o Supremo Tribunal Federal (STF). “Não se confunde centrão com Constituição”, afirmou ela, indicando o grupo político conhecido por intensas negociações políticas e que o PP faz parte.

“Presidente da Câmara @ArthurLira_ quando fala em "subir o sarrafo" das proposições de Ações Diretas de Inconstitucionalidade no STF contraria a legitimidade e a autonomia dos partidos que a Constituição garante. Se pensa que com isso está fortalecendo o Congresso, está totalmente equivocado, porque os partidos políticos, maiores ou menores, são a sustentação do Legislativo e da Democracia”, escreveu.

“Uma coisa é estabelecer cláusulas para o funcionamento legislativo dos partidos, seu o aos fundos públicos e tempo de propaganda. Outra, bem diferente, é retroagir no direito de livre organização e representação, inclusive o direito, importante, de provocar a ação do STF. Não se confunde centrão com Constituição”, completou. Publicamente, Lira não reagiu.

Roberto Campos Neto e Israel se tornaram temas constantes

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também tem sido mirado pela presidente do PT: “Cobrando meta fiscal do governo mas quer aumento para os servidores do BC?!”, escreveu em uma das várias críticas que faz a ele - o chefe da instituição bancária também tem sido criticado publicamente por Lula. 

Outro foco está em autoridades de Israel frente à guerra com o Hamas. “Ministro Israelense fala em lançar bomba atômica na Faixa de Gaza. Ele, que já comemorou nas redes sociais a destruição provocada pelos bombardeios, diz que não existem inocentes em Gaza. 10 mil civis assassinados, 4 mil crianças! Até quando o mundo vai assistir a esse massacre sem fazer nada?!”, escreveu em uma das diversas publicações sobre o assunto.

Ela também condenou reunião do embaixador de Israel, Daniel Zonshine, com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares bolsonaristas, na quarta-feira (8), na Câmara dos Deputados. Zonshine chamou os congressistas para a exibição de um vídeo sobre o ataque do grupo extremista Hamas a Israel.

Segundo Gleisi, o embaixador "intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro". "É totalmente condenável a manipulação que fazem de um conflito em que a atuação da diplomacia do Brasil, orientada pelo presidente Lula, atuou desde o início pela construção de uma solução pacífica, na ONU e junto aos países envolvidos no conflito, a começar por Israel", escreveu.

"A aliança espúria entre Bolsonaro e o embaixador de Israel é mais repugnante ainda porque envolve a segurança e a vida de cidadãos brasileiros mantidos sob cerco e ameaça no massacre militar na região da Faixa de Gaza", completou.