ENTREVISTA EXCLUSIVA

'A taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%', diz Lula

Em Belo Horizonte, o presidente da República concedeu entrevista à FM O TEMPO e endossou críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

Por Lucyenne Landim
Atualizado em 29 de junho de 2024 | 17:44

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a endossar críticas à atuação do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em entrevista à FM O TEMPO 91,7 nesta sexta-feira (28). Para o petista, é “irreal” ter uma taxa de juros no patamar de 10,5%, enquanto o índice de inflação está em 4%. Lula prevê uma “melhora” no cenário quando ele puder trocar o comando da instituição, no final deste ano. 

“Eu não tenho preocupação com essa coisa de ficar brigando com a taxa de juros. Eu sei que ela é um instrumento para você poder tentar evitar o excesso de consumo, controlar a inflação. Mas a inflação está controlada, está 4%, dentro da meta”, disse.

“A taxa de juros de 10,5% é irreal para uma inflação de 4%. É importante todo mundo saber. Mas eu não sou do Conselho Monetário Nacional, eu não sou diretor do BC. Então, isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente, que vai para [aprovação do] Senado [Federal] e a gente vai poder construir uma nova filosofia”, continuou. 

Lula frisou que o país tem uma reserva de R$ 355 bilhões que dá estabilidade econômica e, com isso, reforçou o tom crítico a Campos Neto. “Então, não tem necessidade de os juros estarem desse tamanho, não tem. Agora, o presidente da República não pode ficar brigando com o presidente do BC porque ele foi escolhido pelo presidente anterior”, disse, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Portanto, é importante lembrar que ele é presidente do BC do governo anterior, que ele pensa ideologicamente igual ao governo anterior, e é importante lembrar que eu penso que ele não está fazendo o que deveria ter feito corretamente”, disparou.

O petista lembrou que em seus dois primeiros mandatos como presidente, não tinha que ficar preso ao tempo de mandato do presidente do BC. “Eu já tive presidente do Banco Central que eu colocava e tirava a hora que eu quisesse. Não tinha estabilidade, não tinha mandato. Era o presidente da República que colocava. Se ele fosse bem, ficava. Se fosse mal, saía”, contou. 

"Mas de qualquer forma, ele [Campos Neto] tem o mandato até o dezembro”, lembrou. Ao citar a escolha que deve fazer, Lula comentou: “Eu vou escolher uma pessoa que seja responsável, e aí o presidente da República não vai ficar ando palpite ‘baixa os juros, aumenta os juros’. Tem que confiar que a pessoa está lá e tem competência para fazer as coisas”. 

A Selic, taxa básica de juros, é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que avalia o índice a cada 45 dias e é comandado pelo BC. Em 19 de junho, o órgão manteve a taxa em 10,5% e interrompeu um ciclo de sete quedas consecutivas, alimentando críticas por parte do governo Lula. 

Em entrevista ao Valor Econômico publicada nesta sexta-feira, Campos Neto comentou sobre a taxa de juros com uma projeção do Copom de inflação de 3,1% em 2025: "Já houve no ado momentos em que a gente desenhou os cenários alternativos para mostrar que a taxa de juros é suficientemente alta, que num período mais longo ela traz a inflação para a meta. Estava tendo muito ruído em torno dos números de curto prazo. A gente entende que essa é uma informação valiosa a mais para os agentes".

Ainda na entrevista à FM O TEMPO durante agenda em Minas Gerais, Lula disse que a alta do dólar em desvalorização ao real é consequência de especulação e pediu que o BC investigue.

A entrevista foi concedida às jornalistas Cynthia Castro e Thalita Marinho