ECONOMIA

Governo anuncia nova MP com pacote para compensar impactos da desoneração da folha

As medidas de compensação estão na chamada “Medida Provisória do equilíbrio fiscal”. Mudança da sistemática de não-cumulatividade do PIS/Cofins corrige distorções do sistema tributário, segundo Fazenda

Por Renato Alves
Atualizado em 04 de junho de 2024 | 10:59

BRASÍLIA – O governo federal apresentou nesta terça-feira (4) uma nova Medida Provisória para compensar a manutenção da desoneração da folha salarial de 17 setores da economia e prefeituras até 2027. A continuidade do benefício custará R$ 26,3 bilhões em 2024, sendo R$ 15,8 bilhões em relação às empresas e R$ 10,5 bilhões por meio dos municípios.

As medidas de compensação estão na chamada “Medida Provisória do equilíbrio fiscal”. Elas trazem “instrumentos para combater a desarmonia sobre as contas públicas e seguem a política de reduzir distorções que afetam estados e municípios, promovendo a justiça tributária”, segundo o Ministério da Fazenda. Já para 2024, a MP deve gerar um crédito de R$ 29,2 bilhões, por meio de créditos do PIS/Cofins.

“O Ministério da Fazenda aponta que as normas de compensação anunciadas nesta terça-feira representam fator necessário diante da vigência da desoneração da folha, mas alerta que a proposta não envolve a criação ou a majoração de tributos e está em equilíbrio com o orçamento federal. Também não resultará em prejuízo a contribuintes menores e ao setor produtivo”, ressalta a pasta em nota.

Entenda o que é a desoneração:

  • A desoneração da folha de pagamento para os 17 setores começou em 2011, de forma temporária, mas foi adiada sucessivas vezes.
  • Com a previsão de encerramento do último prazo para o final do ano ado, o Congresso Nacional aprovou um novo adiamento até 2027.
  • A medida permite que uma empresa substitua o recolhimento de 20% de imposto sobre sua folha de salários por alíquotas de 1% até 4,5% sobre a receita bruta.
  • Também permite a redução, de 20% para 8%, da alíquota da contribuição previdenciária sobre a folha dos municípios com população de até 142,6 mil habitantes.

Confira abaixo os principais pontos da nova MP:

  • Sem criação ou aumento de tributos.
  • Sem prejudicar os contribuintes menores ou o setor produtivo.
  • Corrigir distorções do sistema tributário brasileiro.
  • Não-cumulatividade do PIS/Cofins: atualmente, a arrecadação é próxima de nula ou até “negativa” em alguns setores.
  • Princípios da não-cumulatividade (neutralidade principalmente) foram distorcidos em verdadeiras subvenções.
  • Outros setores, não contemplados, carregam o ônus da tributação.  

Correção proposta na MP:

Créditos de PIS/Cofins em geral:

  • Serão compensáveis apenas na sistemática da não-cumulatividade, sem compensação com outros tributos ou “cruzada” , exceto com débitos do próprio PIS/Cofins.
  • Mantém-se a possibilidade de ressarcimento em dinheiro, mediante prévia análise do direito creditório.

Crédito presumido de PIS/Cofins:

  • As leis mais recentes já vedam o ressarcimento em dinheiro, impedindo a “tributação negativa” ou “subvenção financeira” para setores contemplados.
  • A MP estende essa vedação ao ressarcimento para os 8 casos que permaneceram e que representaram R$ 20 bilhões pleiteados em 2023.
  • Mantém a possibilidade de compensação na sistemática da não cumulatividade, ou seja, o direito permanece, desde que haja tributo a ser pago pelo contribuinte.

O pacote de medidas de compensação para a renúncia fiscal foi apresentado na manhã desta terça-feira pelo ministro em exercício da Fazenda, Dario Durigan, e pelo secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas.

O titular da Fazenda, Fernando Haddad, está em Roma. Na agenda de compromissos, há uma previsão de encontro com o Papa Francisco. O tema será a proposta de taxar os super-ricos, apresentada pelo Brasil, que ocupa a presidência do G20 (grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana).

Na segunda-feira (3), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que é o articulador político do Palácio do Planalto, disse que, após a Fazenda apresentar as compensações, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), deve protocolar ainda nesta semana o relatório do projeto de lei que trata da desoneração. 

Padilha deu a informação após participar de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os líderes do governo no Congresso. Também esteve presente Dario Durigan. Lula, que era contra a desoneração, recuou após ser dada como certa uma derrota no Congresso caso insistisse na apresentação de uma nova MP para reonerar a folha. Em dezembro, o Congresso derrubou, por ampla maioria, o veto de Lula ao projeto que prorroga a desoneração. 

Jaques Wagner é o relator da proposta que incorporou o acordo feito entre o Executivo e o Congresso para manter neste ano os benefícios. Pelo entendimento fechado entre os Poderes, os incentivos acabarão gradualmente nos próximos anos, mas é preciso apresentar medidas compensatórias, como as apresentadas na manhã desta terça-feira.