BRASÍLIA - Nesta segunda-feira (29), o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, se reunirá com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Na sequência, Amorim também terá um encontro com Edmundo González, o candidato derrotado da oposição, conforme informações do órgão responsável pela apuração dos votos no país. A confirmação das reuniões foi fornecida por fontes do governo à reportagem de O TEMPO Brasília.
Essas reuniões de Amorim com Maduro e González serão fundamentais para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicione sobre o resultado do pleito. Lula aguarda o retorno de seu assessor ao Brasil para coletar informações e, então, se pronunciar sobre o processo eleitoral venezuelano.
A reunião acontece após Nicolás Maduro ser proclamado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, órgão responsável pela apuração dos votos, como presidente reeleito para um terceiro mandato. Esta declaração ocorre com apenas 80% das urnas apuradas e em meio a desconfianças da comunidade internacional.
A oposição venezuelana alega fraude no processo eleitoral e reivindica a vitória do principal candidato do grupo, Edmundo González Urrutia.
Com a reeleição confirmada, Maduro permanecerá no poder por mais seis anos, de 2025 a 2031, totalizando 17 anos no governo – mais do que seu antecessor, Hugo Chávez, que governou por 14 anos.
Mais cedo, o Itamaraty divulgou uma nota em que "saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela". No entanto, o governo brasileiro fez uma ressalva, que aguardará a publicação dos "dados desagregados" pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. Segundo o Itamaraty, esses dados são considerados um "o indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito" e incluem informações contidas nas atas, como os dados por locais de votação.
A presença de Amorim na Venezuela ocorre em um momento de deterioração nas relações entre Brasil e Venezuela. A tensão aumentou quando Lula, em entrevistas a veículos internacionais, expressou ter ficado "assustado" com a ameaça de Maduro de um possível "banho de sangue" caso perdesse para a oposição, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
Em resposta às preocupações de Lula, Maduro declarou: "Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila". Maduro também questionou a confiabilidade do sistema de votação eletrônica brasileiro durante um comício, alegando que no Brasil o voto não é auditável. Esta afirmação, no entanto, é incorreta, pois o sistema eleitoral brasileiro é auditável em todas as suas etapas.
Em resposta às declarações venezuelanas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu não enviar observadores para a eleição presidencial na Venezuela. “Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, afirmou o TSE em nota à imprensa.
O Tribunal reiterou que “a Justiça Eleitoral brasileira não ite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil”.