ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

Lula repete cobrança por auxílio a países pobres e promete fim do desmatamento na Amazônia até 2030

Lula abriu debates na Assembleia Geral da ONU com proposta para pôr fim à guerra na Ucrânia e crítica à inação diante da escalada de conflitos no Oriente Médio

Por Lara Alves
Atualizado em 24 de setembro de 2024 | 12:04

BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a série de debates na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (24) repetindo a cobrança aos países ricos por auxílio financeiro às nações mais pobres para cumprimento dos acordos climáticos firmados no âmbito internacional. Ele se debruçou em grande parte da declaração sobre os impactos das mudanças do clima citando as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio e os incêndios que engoliram parte do território brasileiro nos últimos três meses. 

"Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição. No sul do Brasil tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto", afirmou. 

Lula prometeu em seguida que o Brasil firmará posição no combate aos crimes ambientais e garantiu que o país acabará com o desmatamento na Amazônia em seis anos. "Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e com o crime organizado. Reduzimos o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano e vamos erradicá-lo até 2030", declarou repetindo, em seguida, um compromisso com a transição energética e com a bioeconomia. 

Esses são temas recorrentes neste terceiro mandato do petista à frente da presidência da República, e ganharam visibilidade principalmente depois que as Nações Unidas definiram o Brasil como sede da COP-30 — que ocorrerá em Belém, no Pará, em 2025. A redução da exploração dos combustíveis fósseis e a produção de hidrogênio verde também apareceram na declaração de Lula.

Escalada da tensão no Oriente Médio e guerra na Ucrânia

O presidente brasileiro criticou a ineficiência das Nações Unidas diante da escalada das tensões na geopolítica mundial. Ele começou seu discurso com um cumprimento direto à delegação palestina e citou o enfraquecimento da capacidade de diálogo dos países nas convenções estrangeiros. "Vivemos um momento de crescentes angústias, frustrações, tensões e medo. Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e de rivalidades estratégicas", disse. 

Lula criticou o investimento maciço das nações em arsenais de guerra e armas nucleares e apresentou o ponto central do acordo de paz que Brasil e China propõem para pôr fim à guerra na Ucrânia. "Está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial", disse o presidente propondo uma saída diplomática, e não bélica, para encerrar o conflito. 

O petista também se debruçou sobre o acirramento dos confrontos no Oriente Médio e demonstrou preocupação com os recentes ataques entre o grupo Hezbollah, no Líbano, e Israel. "Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano", declarou. 

Ele não se omitiu de citar as ofensivas das tropas de Benjamin Netanyahu contra a população civil no território palestino. "O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino", disse. "O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo", completou.

O presidente encerrou o discurso com uma reprovação ao caráter atual das Nações Unidas e pediu uma reformulação completa do tratado da ONU. "Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada", observou. 

Outra reivindicação do petista é uma cobrança antiga: a inclusão de mais países no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que, hoje, reúne apenas Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. "A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do ado colonial", avaliou.

Lula mandou recado para apoiadores no Brasil 

Temas caros ao eleitorado de Lula também apareceram no discurso feito por ele na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira. O presidente, com discrição, citou os ataques sofridos pelas instituições brasileiras. "No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento", afirmou. 

Ele ainda mencionou, nas entrelinhas, o descumprimento de ordens do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo bilionário Elon Musk, da rede social X. "O futuro de nossa região a, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação. Que não se intimida ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras", declarou.

Agenda nos Estados Unidos começou na Cúpula do Futuro e segue até quarta-feira (25)

Este foi o segundo discurso do presidente durante a agenda em Nova Iorque. Temas como desigualdade de gênero, inteligência artificial e isolamento da América Latina também estiveram presentes na declaração do brasileiro, que, no domingo, Lula participou da primeira sessão da Cúpula do Futuro. 

O brasileiro, à ocasião, reforçou a cobrança dirigida aos líderes mundiais por apoio no combate à fome e às mudanças climáticas. Ele também disse que os países fracassam no cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável previstas na Agenda 2030 da ONU — um pacto global que reúne objetivos como erradicação da pobreza e igualdade de gênero e devem ser atingidos em seis anos. 

O presidente ainda cumpre agendas nos Estados Unidos antes de retornar a Brasília. Nesta terça-feira, Lula preside uma mesa redonda que discutirá os extremismos na política e se reunirá com os presidentes da Espanha, Pedro Sánchez, e da França, Emmanuel Macron. No dia seguinte, quarta-feira (25), o petista participa da sessão de abertura da reunião ministerial do G20. Depois, regressa ao Brasil.