BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quarta-feira (25), a exploração de petróleo na margem equatorial, área que vai do Rio Grande do Norte até o Amapá e que inclui a Bacia da Foz do Amazonas. Em entrevista coletiva em Nova York, o petista rebateu críticas que recebeu por ter se reunido com representantes da petrolífera Shell, enquanto defendeu a descarbonização das economias, em discursos na ONU. A empresa tem interesse em explorar a margem equatorial.

“Não vejo contradição nenhuma. Recebi empresário que está há 100 anos no Brasil. Empresa tem contribuído para o país dentro da lógica da política energética do Brasil. E só vai para a margem equatorial quando o governo brasileiro autorizar a Petrobras a fazer pesquisa na margem equatorial”, afirmou. 

A descarbonização das economias, defendida por Lula, seria uma redução na dependência por combustível fóssil. Na entrevista, ele também declarou que a Petrobras precisa produzir uma outra forma de energia, além de petróleo, que é um combustível fóssil e considerado pelos ambientalistas como uma das principais causas da emergência climática.  

“Agora precisamos ter consciência de que não se pode dizer que vai acabar combustível fóssil, que vai ter combustível alternativo. É preciso que a gente aponte como que o mundo vai viver sem combustível fóssil. Vai ter que apontar outro tipo de energia”, disse.  

“A gente vai utilizar o potencial de exploração de petróleo que a gente tem para transformar a Petrobras em uma empresa de energia, não de petróleo. Quando o petróleo acabar, a Petrobras tem que estar produzindo outra forma de energia”, acrescentou Lula. 

A Petrobras busca licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, para iniciar com o trabalho de exploração na margem equatorial, O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já afirmou que o Brasil está em fase “quase final” para obter a licença para exploração de petróleo na margem equatorial.   

“Se fosse esperto, diria que solução é diplomática”, disse Lula sobre Zelensky

Durante a entrevista, o presidente Lula também comentou sobre o discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que criticou a proposta do Brasil de se colocar como um mediador para um acordo de paz em meio ao conflito no Leste Europeu. 

“O que ele não tá conseguindo fazer é a paz. E o que nós estamos propondo fazer não é a paz por ele. Nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto país soberano e a Rússia sobreviva", disse. 

Zelenski questionou, durante discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o papel do governo brasileiro nas negociações para um possível cessar-fogo entre seu país e a Rússia. Os dois países europeus estão em guerra desde que o governo de Vlir Putin decidiu invadir o território vizinho, em fevereiro de 2022. Ele acusou Brasil e China de pressionarem para liderar o diálogo entre Kiev e Moscou.  
 
“Se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não militar. Isso depende da capacidade de sentar e conversar, ou vir o contrário e tentar chegar a um acordo para que o povo ucraniano tenha sossego na vida, é isso", afirmou Lula, durante entrevista coletiva, em Nova York. 

Lula condena ‘genocídio’ de Netanyahu 

Durante a coletiva, o presidente brasileiro também condenou "veementemente" a atuação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e afirmou que o premiê israelense promove um "genocídio". 

"Nós estamos em uma situação, de um lado cuidando do planeta, para ver se a gente tem melhora a qualidade de vida [...]. E, do outro lado, o ser humano se matando. Não tem nenhuma explicação. Portanto, eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel, que eu tenho certeza que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio. Eu tenho certeza", disse. 

O governo israelense está em conflito com o grupo extremista Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e ainda se prepara para invadir o Líbano. 
 
Lula também voltou a defender a reformulação da ONU e cobrou países que apoiam esse comportamento do governo de Israel. 

"É importante lembrar que o primeiro-ministro Netanyahu foi julgado pelo Tribunal Internacional, que julgou o Vladimir Putin, e ele está condenado da mesma forma do Putin. É importante lembrar que já foram feitas várias discussões no Conselho de Segurança da ONU, várias tentativas de paz e de cessar-fogo foram aprovadas e ele não cumpre. Simplesmente não cumpre", afirmou. 

“Por isso, que estamos nessa briga de fortalecer a ONU como instrumento que tenha força para tomar decisão e fazer acontecer. Eu sinceramente acho que países que dão sustentação ao discurso de Netanyahu precisam começar a fazer um esforço maior para que esse genocídio pare”, acrescentou.