INTERFERÊNCIA

Com menos influência na Secom, Janja busca novas agendas e segue incomodando aliados

Ação na Justiça forçou a primeira-dama a fazer adaptações, ainda consideradas insuficientes por alguns correligionários

Por O Tempo Brasília
Atualizado em 05 de fevereiro de 2025 | 18:30

BRASÍLIA - A possibilidade de a primeira-dama, Janja da Silva, viajar pelo país ao lado de ministros para acompanhar a execução de políticas públicas, além de representações internacionais em nome do governo, tem gerado incômodo entre integrantes do primeiro escalão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na Esplanada, há quem avalie que, mesmo sem cargo oficial, a atuação de Janja como uma espécie de “ministra” gera desgastes que poderiam ser evitados. Entre as crises recentes, estão a manutenção de um gabinete informal no Palácio do Planalto, a então falta de transparência em suas agendas e declarações públicas que geram desconforto dentro do governo.

Com a chegada de Sidônio Palmeira na chefia da Secretaria de Comunicação Social (Secom), a primeira-dama “perdeu” uma aliada que cuidava das redes sociais de Lula: trata-se de Brunna Rosa, que chefiava a secretária de Estratégias e Redes. Ela foi substituída por Mariah Queiroz, que integrava a equipe do prefeito de Recife, João Campos (PSB). Também foi demitida a diretora do departamento de Canais Digitais da Secom, Priscila Calaf. 

Com o o mais à área de comunicação, ministros temem que Janja tente compensar isso em outras áreas, como nas entregas de outras pastas. Na última segunda-feira (3), por exemplo, ela se reuniu com o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e ambos anunciaram que irão juntos a uma agenda em Roma, a partir do próximo domingo (9), ligada à Agenda Global contra a Fome e a Pobreza.

Janja faria, ainda, uma viagem nesta semana a Belém (PA) nesta semana com os ministros Celso Sabino (Turismo) e Camilo Santana (Educação), mas o compromisso foi adiado para daqui a “duas ou três semanas”.

Além disso, Janja continua presente em reuniões de Lula e busca ter participação ativa nas decisões do marido. Pelo fato de o presidente não possuir telefone celular, por exemplo, é ela quem muitas vezes faz a “conexão” do petista com o mundo digital. Assim, ela acaba fazendo um primeiro “filtro” do que merece mais destaque para Lula nas redes.

Transparência em agendas

As cobranças por maior transparência nas atividades relacionadas à primeira-dama já provocam seus primeiros efeitos. Nos últimos dias, Janja ou a divulgar uma agenda oficial diariamente em seu perfil do Instagram, mesmo quando não tem compromissos públicos. Formalmente, não existe o “cargo” de primeira-dama, o que a desobriga de divulgar compromissos públicos. Mas tem sido cobrada devido ao volume de reuniões e eventos do governo aos quais comparece.

Alguns petistas mais antigos gostam de comparar a postura de Janja com a da ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida em 2017, que tinha um papel bem mais discreto. Contudo, afirmam, ela não deixava de marcar posição para o marido sobre diferentes temas do país. 

Problemas na Justiça

Janja também enfrenta uma ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que pede o despejo de um gabinete instalado pela primeira-dama no Palácio do Planalto e a exoneração dos servidores que trabalham para ela. Apresentada pelo vereador de Curitiba, Guilherme Kilter (Novo), a ação popular cita uma reportagem do Estado de S. Paulo para justificar o pedido. 

Na publicação, é revelado que Janja gastou R$ 1,2 milhão em dinheiro público com viagens após o início do governo Lula. Além do despejo e da exoneração dos funcionários, Kilter pede a proibição do uso de recursos públicos para despesas relacionadas à equipe.

Controvérsias em viagens internacionais

Pelo menos dois episódios no exterior também ajudaram a desgastar a imagem da primeira-dama. Em setembro de 2023, ao pousar na Índia ao lado de Lula para a Cúpula do G20, Janja publicou um vídeo dançando e dizendo: "Namastê! Olá, Índia. Boa noite! Me segura que eu já vou sair dançando". 

A publicação foi feita em um momento em que o Rio Grande do Sul sofria com um ciclone extratropical, que provocou 50 mortes e atingiu mais de 50 municípios gaúchos. Já em novembro de 2024, durante um discurso no G20 Social, no Rio de Janeiro, Janja xingou, em inglês, o bilionário Elon Musk, dono da rede social X, o antigo Twitter: “Eu não tenho medo de você, inclusive... f*ck, you Elon Musk!”. 

O episódio foi agravado pelo fato de que o empresário estava prestes a assumir um cargo no governo de Donald Trump, nos Estados Unidos. Depois, no mesmo evento, Lula demonstrou descontentamento com a atitude dela e tentou colocar panos quentes sobre a história: “Esta é uma campanha que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém”, disse.