BRASÍLIA - O acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, prevê perdão judicial ou pena de até dois anos de prisão para ele e seus familiares. Esse e outros benefícios, no entanto, dependem do cumprimento de todas as regras estabelecidas no acordo.
As vantagens foram solicitadas pela defesa do militar e aceitas pela Polícia Federal (PF) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O tribunal homologou o acordo em setembro de 2023, e o documento foi tornado público nesta quarta-feira (19) por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
A retirada do sigilo ocorre um dia após o procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por: tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa, dano qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado.
Além do perdão judicial ou da pena de até dois anos, a defesa solicitou que o acordo incluísse:
A PF incluiu no documento que, se cumpridas todas as obrigações, poderá pleitear, em favor do colaborador, junto ao juízo competente:
Para garantir esses benefícios, Cid e os advogados deles se comprometeram a:
O acordo estabelece ainda que o militar pode perder os benefícios se:
Após a homologação de seu acordo de delação premiada em setembro de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid enfrentou alegações de descumprimento das cláusulas estabelecidas, incluindo omissões e contradições em seus depoimentos.
Em março de 2024, a revista "Veja" divulgou áudios nos quais Cid afirmava ter sido pressionado pela Polícia Federal (PF). Disse que os investigadores já possuíam uma "narrativa pronta" e buscavam apenas sua confirmação. Ele ainda fez críticas ao ministro Alexandre de Moraes.
Essas revelações resultaram na prisão preventiva dele, sob acusação de descumprimento de medidas cautelares e obstrução de justiça. Ele foi libertado em maio do mesmo ano, sob medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e restrições de comunicação.
Posteriormente, em novembro de 2024, a PF indicou que o militar havia omitido informações cruciais sobre planos golpistas, o que ameaçou comprometer a validade do acordo. Um desses planos foi identificado, por meio de mensagens recuperadas do celular de Cid, como o "Punhal Verde e Amarelo".
O plano visava ass o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes. Mauro Cid negou qualquer participação ou conhecimento prévio sobre o esquema.
Após uma audiência de três horas conduzida por Alexandre de Moraes, o tenente-coronel prestou esclarecimentos adicionais, que foram considerados suficientes pelo ministro para garantir a manutenção da colaboração premiada. Esse ponto também é questionado pelas defesas.