Lesa Pátria

Quem é Ridauto Fernandes, general alvo da PF em nova operação do 8 de janeiro

Ele integrou os chamados “kids preto, grupo do Exército altamente treinado com técnicas de ações de sabotagem e incentivo à insurgência popular

Por Renato Alves
Publicado em 29 de setembro de 2023 | 08:38

Alvo da Polícia Federal na 18ª fase da Operação Lesa Pátria, nesta sexta-feira (29), o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes é apontado como um dos mentores do movimento que visava criar condições para uma intervenção militar, com a queda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o fechamento do Congresso Nacional e afastamento e até prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a TV Globo, a nova fase da Lesa Pátria faz parte de uma frente da investigação que busca identificar integrantes das Forças Especiais do Exército que teriam dado início às invasões aos prédios públicos em 8 de janeiro. 

Peritos recuperaram imagens que apontam para a ação dos primeiros invasores, usando balaclava e luvas, abrindo agem para o restante dos vândalos pelo teto do Congresso Nacional – no prédio há uma agem na cúpula que dá o ao Salão Verde, o espaço que leva ao plenário da Casa.

Ridauto Fernandes integrou o grupo de elite do Exército, os chamados "kids preto", militares das "forças especiais" altamente treinados com técnicas de ações de sabotagem e incentivo à insurgência popular. Essas ações são descritas pelo Exército como “operações de guerra irregular”.

A PF suspeita que, durante os ataques de 8 de janeiro, ocorreu uma atuação profissional, por pessoas que conheciam previamente o local e tinham treinamento militar. Naquele dia, repórteres de O TEMPO presenciaram muitos homens usando rádios para comunicação entre os vândalos, ando mensagens de ordem. 

Um grupo deles, com botas militares e calças camufladas, chegou a cercar, ameaçar, segurar e agredir um integrante da equipe do jornal, que ainda teve a mochila vasculhada, crachá e dinheiro tomado por eles – episódio foi registrado em boletim na Polícia Civil do Distrito Federal.

General fez vídeo em frente ao Planalto durante invasão e depredação

O general alvo da PF nesta sexta participou da invasão das sedes dos Três Poderes. Ele se filmou em frente ao Palácio do Planalto, em meio à invasão e depredação do prédio que é a sede do Poder Executivo. 

No vídeo, relata ter sido alvo de gás lacrimogêneo disparado pela Polícia Militar. “Quero dizer que eu estou arrepiado aqui. O pessoal acabou de travar a batalha do gás lacrimogêneo. Acreditem, a PM jogou gás lacrimogêneo na multidão aqui durante meia hora”, narrou o militar, que vestia uma camisa da Seleção Brasileira.

Nesta sexta, agentes da PF foram à casa dele, em Brasília, com mandado de busca e apreensão. O militar também teve contas bancárias bloqueadas. A medida serviria para ajudar a pagar os danos ao patrimônio público no dia 8 de janeiro, que podem chegar a R$ 40 milhões. A medida tem sido adotada contra a maioria dos investigados, com o mesmo objetivo.

General foi assessor de Mauro Cid no Planalto e Pazuello no Ministério da Saúde

Já na reserva do Exército, Ridauto Lúcio Fernandes ocupou cargos importantes no governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele trabalhou com o ex-ajudante de ordens do então presidente, o tenente-coronel Mauro Cid, que, após ser preso, fechou um acordo de delação premiada com a PF para responder processos em liberdade, mediante uma série de restrições. 

Ao lado de Cid, o ex-general trabalhou no Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia. Além de Goiânia, ele foi encarregado das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Região Metropolitana de Natal e em Mossoró. O general visitou Cid na prisão e disse, ao jornal “Folha de S. Paulo”, que a visita teve motivação “pessoal” e que seu objetivo era “ver se poderia ajudar em algo”. 

Investigação da PF sobre o 8 de janeiro mostra que o suposto plano para derrubar Lula por meio de uma intervenção militar incluía o acionamento do Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia, para efetivar a intervenção militar federal, com a volta de Bolsonaro ao Planalto.

Ridauto também é ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. Próximo ao ex-ministro e hoje deputado federal Eduardo Pazuello, ele foi nomeado diretor do Ministério da Saúde em julho de 2021 e permaneceu no posto até o último dia do governo Bolsonaro. 

O general assumiu o cargo na pasta no lugar de Roberto Dias Ferreira, exonerado do posto após ser acusado de pedir propina para fechar um contrato para compra de vacina contra Covid-19 durante a pandemia.