SAÚDE PÚBLICA

Estado aciona plano de contingência devido à superlotação no João XXIII: 'Alta demanda'

Vídeos mostram dezenas de macas nos corredores; paciente ficou cerca de 19 horas em jejum, aguardando cirurgia

Por Isabela Abalen
Publicado em 25 de abril de 2025 | 18:26

O governo de Minas Gerais acionou o Plano de Capacidade Plena Hospitalar (PH) para o Hospital Pronto-Socorro João XXIII, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, conforme apurado pela reportagem de O TEMPO nesta sexta-feira (25 de abril). Segundo a Fundação Hospitalar do Estado (Fhemig), o plano de contingência tem como objetivo reorganizar os fluxos assistenciais do pronto-socorro e otimizar o giro de leitos — ou seja, acelerar as altas hospitalares. O João XXIII tem sido alvo de denúncias de superlotação por parte de pacientes e servidores, que chegaram a paralisar as atividades em protesto contra a situação na última terça-feira (22). Para se ter ideia, a Fhemig acionou o PH durante a pandemia de covid-19, em 2021, em nível ampliado, envolvendo todas as unidades assistenciais da rede. 

A reportagem recebeu vídeos gravados dentro do João XXIII, nessa quinta-feira (24 de abril), que mostram dezenas de macas amontoadas nos cantos dos corredores, a maioria com pacientes com fraturas pelo corpo, e alguns com o venoso. Enquanto servidores alegam que o problema está na subutilização do hospital de apoio, Maria Amélia Lins (HMAL) — cuja gestão hospitalar está em processo de terceirização, atualmente suspenso por liminar da Justiça —, o governo de Minas Gerais afirma que o João XXIII tem capacidade para absorver o volume de atendimentos das duas unidades e que a “alta demanda também ocorre em outras portas de urgência da capital”.

Apesar de a Fhemig não ter informado a atual taxa de ocupação dos leitos do João XXIII, a fundação itiu que, como parte das ações para otimizar o fluxo de cirurgias, dois arcos cirúrgicos (equipamentos que permitem a obtenção de radiografias em tempo real) do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) foram transferidos para o João XXIII. Além disso, a expectativa é de que a aplicação do plano de contingência facilite a redistribuição de pacientes e recursos entre o João XXIII e outras unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais.

O Estado foi questionado sobre o motivo de o bloco operatório do HMAL permanecer fechado desde dezembro de 2024, mas não se manifestou. Na avaliação dos servidores, colocá-lo em funcionamento reduziria significativamente a sobrecarga no João XXIII. “É o cúmulo. Os pacientes estão amontoados no pronto-socorro. Estamos quase precisando colocar beliche para caber todo mundo. As cirurgias estão todas atrasadas. E o bloco cirúrgico do HMAL, prontinho. Eles (os gestores) estão tentando lidar com a confusão sem reabrir o bloco. Isso é não itir que não estão dando conta da demanda”, denunciou uma servidora do Complexo de Urgência da Fhemig, sob condição de anonimato.

Pacientes aguardam dias por cirurgias em macas nos corredores: ‘Desumano’ 

Entre os pacientes em macas nos corredores do pronto-socorro, nesta quinta-feira (24), estava Tiago Teixeira, que trata uma fratura nos dedos após um acidente. Ele relatou que deu entrada no hospital na terça-feira (22), data em que o atendimento foi realizado em escala reduzida devido à paralisação dos servidores. “Desde então, estou aguardando a cirurgia, sem previsão de quando ela poderá acontecer. É desumano. Só aumenta a quantidade de pessoas (internadas). Toda hora a maca, à noite toca sirene, acorda todo mundo”, disse.

A situação dele é semelhante à do paciente Alex Samuel, que também dormiu em uma maca no corredor do João XXIII. Por volta das 17h dessa quinta-feira (24), Alex contou que estava em jejum desde às 22h da véspera, aguardando ser chamado para uma cirurgia no tendão. Ele ou pelo menos 19 horas sem se alimentar. “Só no soro”, desabafou.

A Fhemig informou que reitera “o compromisso com uma assistência segura e de qualidade” e que “segue trabalhando para oferecer o melhor cuidado aos usuários”.

Leia nota da Fhemig na íntegra

"A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informa que o Hospital João XXIII acionou o Plano de Capacidade Plena Hospitalar (PH), que integra ações para orientar a equipe e otimizar o giro de leitos. A alta demanda de atendimentos também está sendo verificada em outras portas de urgência da capital.

A atual ocupação portanto, não está vinculada ao fechamento do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), uma vez que o Hospital João XXIII possui capacidade para absorver e efetivar cirurgias de urgência e programadas nas oito salas do seu bloco, com a equipe reforçada pelos profissionais do próprio HMAL. Ressaltamos que o Amélia Lins continua recebendo internações e oferecendo atendimento ambulatorial aos pacientes.

Por causa da alta demanda citada, o arco cirúrgico do HMAL será utilizado temporariamente no bloco do Hospital João XXIII. A movimentação de insumos e equipamentos hospitalares são padrão de rotina entre suas unidades, especialmente entre as que compõem o mesmo Complexo (caso do João XXIII e do Hospital Maria Amélia Lins).

A Fhemig reitera seu compromisso com a assistência segura e de qualidade e segue trabalhando para ofertar o melhor cuidado aos usuários."