MÚSICA

Festival Porto Blue Sound estreia em BH com ícones do jazz e diva do blues

Leo Gandelman é uma das atrações e sobe ao palco com o projeto “Yellow Saxmarine”, que traz versões instrumentais para clássicos dos Beatles

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 12 de julho de 2024 | 06:00

Tudo começou como “uma brincadeira” na Terra da Luz, casa de jazz em Visconde de Mauá, entre Minas e o Rio de Janeiro. “Foi surgindo a ideia enquanto a gente tocava músicas que a gente gosta, de maneira muito intuitiva, agregando frases, citações, temas e arranjos do jazz que nos inspiram”, conta Leo Gandelman, 67, que exalta o músico norte-americano Eddie Harris (1934-1996) como uma das referências para o projeto “Yellow Saxmarine”, dedicado aos Beatles, que ele criou com o Bittencourt Duo, formado pelos irmãos Julio (bateria e percussões) e Luciano (guitarra híbrida e violão). 

Neste domingo (14), o renomado saxofonista carioca é uma das atrações na estreia do festival Porto Blue Sound em Belo Horizonte, quando leva ao palco, acompanhado ainda por Eduardo Farias (teclados) e André Vasconcelos (baixo), versões instrumentais para hits dos garotos de Liverpool, como “Black Bird”, “Eleanor Rigby”, “She’s Leaving Home”, “Let It Be”, “Drive My Car”, “Ticket to Ride”, dentre outras, gravadas pela trupe em álbum de 2018. O título da empreitada é um trocadilho com o sucesso “Yellow Submarine”, que explicita o protagonismo do saxofone de Gandelman. 

Cardápio musical

O evento também conta com shows internacionais da diva do blues JJ Thames e do guitarrista Robben Ford, além de abrir alas para os brasileiros Arismar do Espirito Santo, Bebê Kramer, Marco Elízeo Quinteto – que homenageia Milton Nascimento e o Clube da Esquina –, O Bando e Jazz Brothers, antes de rumar para Curitiba e Florianópolis, sempre ocorrendo em praças e com entrada gratuita.

Gandelman enaltece o fato de “tocar a céu aberto”, sem a cobrança de ingressos, e resgata o célebre trecho de “Nos Bailes da Vida”, de Milton e Fernando Brant (1946-2015): “É como canta o Bituca, ‘todo artista tem de ir aonde o povo está’. É a situação ideal de exposição para o artista e também para o público”, avalia Gandelman.

Além disso, ele se sente em casa em BH, como legítimo “fã da música mineira”. “A cena instrumental em Minas é muito forte, com músicos devotados e bons lugares para se apresentar. É sempre bom rever os amigos. A gente sabe que Minas produz uma música muito especial para o Brasil e para o mundo”, salienta.

Gandelman, que teve formação clássica, e, aos 15 anos, tornou-se solista da Orquestra Sinfônica Brasileira através do programa “Concertos da Juventude”, transmitido pela TV, só se encontrou quando descobriu a possibilidade de criar um caminho musical próprio com o saxofone.

Liberdade criativa 

“Quem toca jazz, busca a liberdade de se expressar e botar para fora o que está sentindo naquele momento”, resume ele, um dos mais aclamados músicos do país, responsável pela trilha de filmes como “Rádio Pirata”, “Garrincha – Estrela Solitária” e “Budapeste”, além de travar parcerias com Jaques Morelenbaum, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Luiz Melodia e Leny Andrade (1943-2023). “É um segmento muito diferente. Quem gosta de jazz, gosta de música, e não está em busca de celebridade, vendas, é outra história”, diz Gandelman.

Apesar disso, ele não se considera “blueseiro nem jazzista, mas um músico afim de tocar boa música”. Ele lamenta que o mundo, hoje, esteja voltado para “likes, números, o que está totalmente fora da linguagem musical que me interessa”. O que não o impede de seguir a própria trilha, pelo contrário.

Como de praxe, Gandelman está “com uma porção de projetos”, e destaca o concerto registrado mês ado, no icônico Teatro Amazonas, em Manaus, recheado de “imagens da floresta, projeção de filme, fotografias de Oskar Metsavaht e do meu amigo Cafi, com canções de Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, Tom Jobim e algumas minhas”, revela Gandelman, que teve a ilustre companhia da Orquestra Amazonas Filarmônica. “Foram três noites de um sonho que eu sonhei durante 20 anos, e só realizei agora”, arremata o músico, aberto ao amanhã.

Serviço.

O quê. Festival Porto Blue Sound

Quando. Neste domingo (14), de 11h às 19h

Onde. Praça JK (av. Bandeirantes, 240, Sion)

Quanto. Gratuito