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Galípolo é aprovado por unanimidade em comissão, e indicação à presidência do BC segue para análise do plenário
Expectativa é que a indicação de Galípolo seja submetida a votação no plenário do Senado ainda nesta terça-feira (8)
BRASÍLIA — A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou por unanimidade a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central (BC) após sabatiná-lo nesta manhã de terça-feira (8). O indicado ao cargo da autoridade monetária pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acumulou 26 votos favoráveis e nenhum contrário. O nome de Galípolo ainda será submetido à avaliação do plenário. São necessários os votos da maioria dos senadores para aprová-lo como substituto do atual presidente Roberto Campos Neto, que encerrará o mandato em dezembro.
Temas como a autonomia do Banco Central e a relação com Lula pautaram os questionamentos dos senadores a Galípolo. Ele fugiu de polêmicas e abriu as respostas negando uma suposta interferência do presidente brasileiro na política econômica. "Escutei [do presidente Lula] de forma enfática e clara que terei garantida a liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado pelo compromisso com o povo brasileiro", afirmou.
Ele ainda repetiu, após duas horas de sabatina, que Lula garantiu a ele liberdade de atuação à frente do BC. "Nunca sofri nenhuma pressão. Jamais sofri. Seria leviano dizer que o presidente Lula exerceu qualquer tipo de pressão sobre mim", reforçou.
Perguntado sobre os ataques feitos por aliados de Lula à istração de Campos Neto, Galípolo disse que mantém uma relação confortável com eles, mas itiu que gostaria de ter 'colaborado' para uma relação mais estável entre os dois. "Sinto que gerei grande frustração quando cheguei ao Banco Central porque algumas pessoas pensaram que minha chegada fosse começar grandes disputas no BC. Mas, minha relação com o presidente Lula e com o presidente Roberto é a melhor possível. Não tenho queixas a nenhum deles. Sinto não poder corroborar com a ideia de que poderia haver qualquer polarização", declarou.
"Gostaria de ter colaborado para que essa relação entre Banco Central e Poder Executivo fosse melhor, melhor do que ela tem sido. Institucionalmente ela tem sido perfeita", respondeu.
A política de juros e a expansão dos sites de apostas esportivas também estiveram entre os temas tratados. Sobre as bets, Gabriel Galípolo respondeu que não cabe ao BC regular a operação desses sites. "A posição do Banco Central é muito mais de acompanhamento para entender os aspectos de endividamento das famílias e como afeta o consumo. Sobre essa dimensão, o Banco Central tem, sim, acompanhado", ponderou.
Lula escala Jaques Wagner, e senadores de oposição criticam governo
A preocupação com uma aprovação tranquila e sem adversidades de Galípolo era tão grande que o Planalto escalou seu principal articulador para costurar o apoio da CAE à indicação — o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Como relator, ele deu início à sabatina com a leitura de um parecer favorável à nomeação de Galípolo.
Antes, entretanto, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), rendeu elogios à gestão de Campos Neto em um aceno público ao ainda presidente do BC. "Como disse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas: 'não tem esquerda, não tem direita, tem Brasil'. Mesmo diante de pressões deste e do governo anterior, Roberto manteve a mão firme. Roberto é um craque", declarou. O gesto repetido à exaustão em sessões anteriores quando o Banco Central esteve em pauta também ganhou coro entre outros senadores durante a sabatina de Galípolo.
Esse papel coube aos senadores de oposição, a exemplo de Damares Alves (Republicanos-DF) e Sergio Moro (União Brasil-PR). Ministros de Jair Bolsonaro (PL) rebateram as críticas feitas pelo quadro histórico do PT à condução da política monetária pelo atual presidente do BC, atacaram a política fiscal de Lula e previram uma suposta intervenção petista na instituição. "A lua de mel entre Paulo Guedes [ministro da Economia de Bolsonaro] e o Roberto nem sempre foi verdade. A sua lua de mel com o Haddad vai acabar. Se prepare. A sua lua de mel com Lula vai acabar. Se prepare", disse Damares.
De braço-direito de Haddad à diretoria mais importante do Banco Central
A desconfiança da oposição e de grupos do mercado com Gabriel Galípolo é fruto da relação que ele mantém com a equipe econômica de Lula. O indicado à presidência do BC se aliou ao núcleo petista ainda à época da campanha para a presidência da República. Com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) candidato à reeleição, Galípolo ganhou espaço no ministério chefiado por Fernando Haddad e se tornou o braço-direito do principal ministro de Lula.
A presença do economista na Esplanada dos Ministérios não durou. O presidente decidiu indicá-lo à diretoria de Política Monetária do Banco Central, a mais importante da instituição, menos de seis meses depois dele assumir o cargo de secretário-executivo da Fazenda. Os diretores do BC cumprem mandatos fixos de quatro anos. À época, Lula também indicou Ailton de Aquino para a diretoria de Fiscalização.
Oito diretores e o presidente do BC compõem o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por decidir o rumo da taxa de juros no Brasil. Hoje quatro desses diretores são indicados de Lula; os outros quatro restantes e o atual presidente ocupam os cargos por indicação de Jair Bolsonaro, quando ainda era presidente.
A Lula interessa ter maioria no Copom por uma política monetária menos conservadora que a adotada até o momento. Essa é a principal divergência entre os petistas e o atual presidente do Banco Central — Lula o criticou publicamente em incontáveis ocasiões pela condução da política de juros, considerados altos pelo núcleo duro do PT.
Aliás, quando Lula indicou Galípolo para a diretoria de Política Monetária, o mercado viu como um indício que ele seria o nome do Planalto e de Haddad para comandar a instituição.