BRASÍLIA – A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou, no microfone da tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, durante sessão nesta terça-feira (29), que “mulher branca, bonita e rica incomoda”.
Ela fez a declaração durante discurso contra aumento para servidores municipais, em resposta a manifestações de sindicalistas que estavam na área destinada ao público em geral.
Antes da afirmação, Cris Monteiro mandou a vereadora Luana Alves (Psol) se calar. “Por favor, Luana, calada, calada”. Luana, que é negra, tentava confrontar a colega, que discutia com a plateia.
Cris Monteiro reclamava que escutou calada os vereadores de oposição ao prefeito Ricardo Nunes e que quando eles falaram ninguém da plateia se manifestou.
“Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês”, disse Cris Monteiro.
Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. “Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve.”
A sessão chegou a ser interrompida e na retomada, minutos depois, a vereadora Cris Monteiro voltou ao plenário, subiu ao púlpito e “pediu desculpas às pessoas negras que se sentiram ofendidas”.
“Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso”, disse.
Tudo foi transmitido pela TV e rádio da câmara municipal. Luana Alves classificou a fala como racista. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.
A vereadora do Psol disse que vai acionar a Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo contra Cris Monteiro. O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa “não permite racista”.
Teixeira mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, ele avaliou que não houve racismo.
“Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo”, afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso.
“Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara”, disse Luana.
Cristófaro foi o primeiro parlamentar da história da Câmara de São Paulo com mandato cassado por um ato de racismo.
O episódio em questão ocorreu em maio de 2023, quando o vereador falou, durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (I) dos Aplicativos, que “não lavar calçada é coisa de preto, né?”
O vereador estava participando da sessão de forma remota e não percebeu que o microfone estava aberto e o áudio foi “vazado” no plenário.
Em 2021, Cris Monteiro se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também no Novo. A briga ocorreu no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência.
Vídeos mostram que as duas começaram a discutir ainda no plenário da Câmara e seguiram para o banheiro onde Janaina teria tentado enforcar Cris Monteiro, segundo o relato levado para a polícia.
O motivo da briga seria um desentendimento pelo tempo de fala que cada uma teria. Na manhã seguinte à votação, Cris Monteiro foi até a delegacia, onde realiza o exame de corpo delito.
Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas. No entanto, a ação disciplinar não avançou. As duas receberam apenas advertência.
Cris Monteiro foi eleita vereadora em são Paulo em 2020, sendo reeleita em 2024. Ela é líder do Partido Novo na Câmara.
Antes de ingressar na política, Cristina Pereira Monteiro atuava no mercado financeiro. Foi diretora de diversos bancos de investimento, entre eles, JPMorgan, Goldman Sachs e Bank of America.